80% das salas de cinema da prefeitura de SP estão fechadas há dois anos
Espaços, principalmente nas periferias, estão sem exibições mesmo com flexibilização da pandemia
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
3 meses por R$1,90
+ 6 de R$ 19,90 R$ 9,90
ou
Cancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Quem tenta pegar uma sessão no Cine Olido, no centro de São Paulo, dá de cara com um prédio que tem apenas uma portinha aberta na lateral. Com pinta de abandono, o cinema está trancado. A cena de cadeados fechando poltronas, telas e projetores se repete no Butantã, em Perus, no Jaçanã, em Aricanduva e em diversos outros bairros da capital.
Hoje existem cerca de 350 salas de cinema espalhadas pela cidade, mas praticamente todas fazem parte do circuito comercial e das grandes redes, com ingressos com valores galopantes e cada vez mais caros. Para quem deseja assistir a um filme de graça ou pagando pouco, as principais opções estão nos espaços públicos, sobretudo nos endereços que fazem parte do chamado circuito Spcine, da prefeitura.
Mas isso só em tese, porque 80% dessas salas estão fechadas há dois anos, desde o início da pandemia, e não existe previsão para voltarem a funcionar.
Das 20 salas administradas pela Spcine, agência municipal de fomento ao audiovisual, 16 seguem de portas baixadas e projetores desligados desde março de 2020. Elas estão localizadas, em sua maioria, em bairros periféricos da capital. São seis na zona leste, cinco na zona sul, quatro na zona norte, quatro no centro e uma na zona oeste, todas instaladas dentro de espaços culturais e CEUs, os Centros Educacionais Unificados.
"A maioria dos cinemas de São Paulo fica em shoppings. Mesmo que estejam distribuídos por todas as regiões, geralmente são voltados a um público que tem recursos", diz Eduardo Morettin, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e diretor do Cinusp, outro cinema público e gratuito paulistano, mas tocado pela universidade estadual e fora do circuito Spcine.
"Quando essas salas foram criadas, foram pensadas para grupos terem oportunidade dessa vivência nos seus bairros", completa Morettin.
Atualmente, somente quatro salas do circuito municipal estão em funcionamento: duas dentro do CCSP, o Centro Cultural São Paulo, uma na biblioteca Roberto Santos e outra no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes.
Por outro lado, um dos principais endereços fechados está na Galeria Olido, na região central. Segundo a Secretaria Municipal de Cultura, as atividades ainda não foram retomadas por causa de um processo de reforma do ar-condicionado e não há previsão de reabertura. As duas salas de espetáculos instaladas no espaço também estão fechadas.
"Apesar de ter sido realizado um conserto em janeiro de 2020, a vazão de público foi superior à potência do equipamento. Dessa forma, as atividades foram encerradas para a resolução do problema. Esse processo está em estudo para que o espaço possa ser reaberto", diz a secretaria em nota.
Os outros 15 locais fechados estão espalhados em CEUs e são geridos pela Secretaria Municipal de Educação. Os centros educacionais retomaram as aulas presenciais em fevereiro do ano passado, de forma escalonada, e, desde agosto, funcionam com 100% da capacidade.
Mesmo assim, os cinemas não voltaram, no contrafluxo do circuito comercial, que retomou as atividades em abril do ano passado com capacidade reduzida. Em outubro, receberam autorização para funcionar com lotação total —e, desde então, operam com 100% da capacidade, sem exigir atualmente o uso de máscaras.
Para Carlos Augusto Calil, também professor da ECA-USP, os cinemas gratuitos são importantes para criar o hábito de ver filmes fora de casa. "As mídias mudaram, mas a permanência da ideia de ir a uma sala com outras pessoas, com horário definido, remete a um hábito coletivo, que não existe na periferia."
"Esse circuito cria uma espécie de contracorrente", completa ele, que já foi diretor da Cinemateca e secretário municipal de Cultura de São Paulo entre 2005 e 2012.
Os endereços, segundo a Prefeitura de São Paulo, estão passando por ajustes para retomar as exibições. "Estamos em diálogo com a Secretaria Municipal de Educação, responsável pelas salas dos CEUs, e com a Secretaria Municipal de Cultura, responsável pela sala do Circuito Spcine na Galeria Olido, para juntos verificarmos os ajustes técnicos necessários para reabrir as salas em sua totalidade", afirmou a gestão de Ricardo Nunes, do MDB, em comunicado. Mas sem dar prazo para que isso ocorra.
A Spcine foi criada em 2015, durante a gestão de Fernando Haddad, do PT. As salas foram inauguradas no ano seguinte. O plano era implantar 83 delas na capital paulista, mas o número só chegou a 20 até agora. Em janeiro, a prefeitura prometeu a abertura de mais dez salas ainda neste ano.
A maior parte dos endereços não cobra entrada —apenas as unidades no CCSP e na biblioteca Roberto Santos vendem ingressos, que custam R$ 4. A programação exibe produções nacionais e estrangeiras, que mesclam blockbusters e filmes de arte.
Estão em cartaz atualmente títulos como os hollywoodianos "Batman" e "Os Caras Malvados", o nacional "Medida Provisória", de Lázaro Ramos, o italiano "Tre Piani", que foi exibido no Festival de Cannes, e "A Felicidade das Pequenas Coisas", filme do Butão que concorreu ao Oscar.
Mas, por enquanto, as produções podem ser vistas em poucos lugares. "Com essas salas fechadas, as pessoas são privadas da experiência do cinema", fala Eduardo Morettin.
Salas do circuito Spcine em funcionamento
Biblioteca Roberto Santos
R. Cisplatina, 505, Ipiranga, região sul, tel. (11) 2273-2390. R$ 4
CCSP
R. Vergueiro, 1.000, Paraíso, região central, tel. (11) 3397-4002. R$ 4
CFC Cidade Tiradentes
Av. Inácio Monteiro, 6.900, Cidade Tiradentes, região leste, tel. (11) 3343-8900. Grátis