Barra Funda segue Santa Cecília e vira polo de artes e design em galpões reformados
Bairro com estética industrial e localização central vê aumentar número de lojas, ateliês e galerias
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Quem caminha pela rua Boraceia, na Barra Funda, se depara com prédios de dois andares, casas geminadas e galpões. Algumas construções são pichadas e têm aspecto degradado. Há por ali também um posto de saúde e um albergue para moradores de rua.
À primeira vista, os três quarteirões que desembocam nos trilhos do trem parecem uma rua calma de cidade do interior, parada no tempo. Mas uma pesquisa mais atenta revela também um showroom de objetos para cozinha, a marcenaria de um designer de móveis e o ateliê de um artista plástico.
Os três exemplos ilustram as mudanças pelas quais a Barra Funda tem passado nos últimos anos. A região, historicamente ligada à industrialização de São Paulo, está atraindo negócios e profissionais das artes, do design e do setor criativo, num movimento que muda aos poucos a cara e a frequência local, tornando o bairro um polo das artes na cidade.
Segundo os artistas, os atrativos são a localização central, os galpões com espaços generosos, pé direito alto e luz natural, e os aluguéis mais baratos em comparação a outras áreas descoladas da cidade. É claro, o aspecto de ruína e as paredes grafitadas também atraem esse público, que tem na memória a referência de outras áreas industriais agora gentrificadas, como Williamsburg, em Nova York.
"Tem essa cara industrial e também a senhora que mora aqui há 50 anos", diz Pedro Avila, um dos sócios da Noda, sobre a vizinhança.
A loja virtual de itens para cozinha, todos em cores neutras e pegada minimalista, instalou seu showroom há poucos meses num galpão reformado na rua Boraceia, onde passou a receber clientes de todos os bairros de São Paulo, mas sobretudo dos vizinhos Santa Cecília e Higienópolis, conta ele.
"As pessoas gostam da experiência de vir para um lugar que é fora do eixo comercial de Pinheiros e Jardins", afirma Otávio Françoso, o outro sócio da Noda.
Em frente à Noda, o designer Rodrigo Silveira produz bancos, cadeiras, aparadores e mesas em madeira maciça, num ambiente de oficina, com ferramentas presas nas paredes e pedaços de madeira espalhados por todos os lados. Ele está na região há nove anos e conta que o circuito local das artes, hoje em ebulição, não foi combinado previamente.
Silveira, contudo, faz ressalvas. "O acesso é meio ruim. Não tem farmácia nem um mercado bom, principalmente desse lado do trilho [próximo à marginal Tietê]. Falta serviço. É ermo à noite, e todo mundo tem que ter alarme."
A Barra Funda é dividida em duas regiões por trilhos construídos para o escoamento da produção de café no século 19, onde hoje passam trens para a Grande São Paulo e o metrô. Atravessar de um lado para o outro do bairro significa andar por uma passarela de muros altos de concreto, que não inspira segurança dependendo da hora do dia, sobretudo para quem está sozinho.
Mas nada disso impediu que uma série de artistas escolhesse a região para ter seus locais de trabalho. Próximo ao designer de móveis, Stefano Gadotti montou um ateliê onde expõe seus desenhos abstratos em grafite e esculturas em metal que ele mesmo produz.
A poucos metros dali, na rua Cônego Vicente Miguel Marino, um mesmo prédio abriga o estúdio do fotógrafo Rui Mendes, conhecido por registrar a cena punk paulistana de décadas passadas, o ateliê de Sandro Akel, um dos fundadores do coletivo de arte urbana Bijari, e outras empresas do ramo criativo.
Estão também nessa rua o estúdio de Humberto da Mata, onde são produzidos artesanalmente seus móveis com tramas de espuma, e o showroom do Estúdio Rain, que produz luminárias e peças para casa em edições limitadas. Essa turma toda é vizinha do ateliê de Nunca, um dos principais grafiteiros do país.
Embora tenha se intensificado nos últimos anos, sobretudo a partir da abertura do restaurante coreano Komah, responsável por levar os moderninhos à região, o flerte da Barra Funda com as artes plásticas começou há mais de uma década, quando em 2008 a importante galeria Fortes D’Aloia & Gabriel se instalou num galpão de 1.500 metros quadrados, que abriga espaço expositivo e depósito de obras.
Naquela época, a galeria Baró também levava colecionadores para a área —sua sede foi na rua Barra Funda, do outro lado dos trilhos, próximo à Santa Cecília. O local é agora ocupado pela galeria Mendes Wood DM, que abandonou os Jardins neste ano.
Ao lado da Mendes Wood DM fica o Olhão, um espaço expositivo independente onde também rolam festas do mundo da arte —e, a partir do fim de janeiro, a mesma rua Barra Funda receberá temporariamente a Galeria de Artistas, tocada por artistas, como indica o nome, que expõem e vendem seus próprios trabalhos.
"A Barra Funda é hoje uma área pulsante da cidade e temos atuado em sinergia entre os espaços que abriram recentemente. Desde agosto deste ano as nossas aberturas têm acontecido de forma sincronizada, reforçando um modelo de atuação pautado em colaborações", diz Márcia Fortes, sócia-fundadora da Fortes D'Aloia & Gabriel. "Outras galerias e espaços culturais são muito bem-vindos."
Roteiro das artes na Barra Funda
Galerias e espaços de arte
Fortes D’Aloia & Gabriel
r. James Holland, 71. fdag.com.br
Mendes Wood DM
r. Barra Funda, 216. mendeswooddm.com
Galeria de Artistas
Instagram @gdartistas
Olhão
r. Barra Funda, 288. olhao.space
Ateliê 397
r. Cruzeiro, 802. atelie397.com
Gruta
r. Vitorino Carmilo, 449. gruta.cc
Ateliês, estúdios de design e de mobiliário
Rodrigo Silveira
r. Boraceia 160. orodrigoquefez.com.br
Stefano Gadotti
Endereço divulgado após agendamento com hora marcada. @stefanogadotti
Sandro Akel
Endereço divulgado após agendamento com hora marcada. @sandroakel
Rui Mendes
Endereço divulgado após agendamento com hora marcada. @rui_mendes_photographer
Humberto da Mata
r. Cônego Vicente Miguel Marino, 424. humbertodamata.com
Estúdio Rain
r. Cônego Vicente Miguel Marino, 424. @estudiorain
Outros
Noda Cozinha
r. Boraceia, 167. nodacozinha.com.br
Lab 74
r. Souza Lima, 318. lab74.com.br
Coupé
r. Vitorino Carmilo, 449. @coupe.laser