Conheça a Hoa, galeria de arte com direção negra, na Barra Funda, em SP
Fundada em 2020, casa organiza ações que vão além da venda de obras
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No dia 4 de fevereiro a galeria Hoa, formada por uma equipe totalmente negra, abriu uma nova sede, na Barra Funda, ocupando, agora, um imóvel maior. Antes, o espaço funcionava em Santa Cecília.
Situada na rua Brigadeiro Galvão, em um galpão de dois andares, a galeria se destaca pela sua fachada em um azul forte que acompanha as vigas internas. No lado de dentro, tecidos prateados descortinam obras de artistas negros e LGBTQIA+, em um conjunto que compõe a essência da galeria, segundo o curador Guilherme Teixeira. Hoje são 25 artistas representantes na Hoa e uma média de 20 conectados a ela.
A Hoa foi criada em 2020, no meio da pandemia, pela artista multimídia Igi Lola Ayedun, em um momento em que ela percebeu que muitos de seus amigos deixaram de ter oportunidades e estavam abandonando o mundo da arte. Foi com as obras de sua amiga Laís Amaral e de outros artistas que ela começou a galeria, primeiro em uma plataforma na internet. Em poucas semanas, todo o trabalho de Amaral foi vendido e, apenas dois meses após a fundação, a galeria já participava da versão online da SP-Arte, com a mesma mostra que inaugurou a nova sede. Nela havia obras em formatos de vídeos, pintura, fotografia, escultura, entre outros.
Neste ano, a casa volta a participar do evento, agora em formato presencial, no Pavilhão da Bienal, entre os dias 29 de março e 2 de abril. A partir desta quinta-feira (30) a sua segunda exposição, a individual do artista Bertô, que explora em suas obras a narrativa bíblica, vida cotidiana e o mundo dos sonhos.
A escolha de migrar para a Barra Funda não se deu por acaso. "É um lugar acessível no centro, ao lado do metrô, para que receba todas as pessoas com a porta aberta para a rua", diz Ayedun. Ela afirma que muitas vezes as galerias acabam se tornando ambientes hostis.
Antes mesmo de abrir um novo endereço, a galeria já tinha ganhado visibilidade fora do Brasil. Foram feitas exposições, projetos e parcerias em países como Reino Unido, França, Bélgica, Estados Unidos, México, Marrocos, Espanha e Itália. "Isso daqui só é possível por causa do grande levante de exportação que a gente fez nos últimos três anos", afirma Ayedun, que se define como galerista, artista e jornalista. Seu trabalho abrange pintura, vídeo, escultura 3D, fotografia e som.
Ela afirma que as ligações com o mercado internacional foram fundamentais para garantir um equilíbrio econômico para a galeria. Com mais visibilidade, diz, ela procurou jogar luz sobre a comunidade da qual pertence. "Como que a gente conversa com as pessoas que eram como nós antes de a Hoa existir?", indaga.
Para isso, a galeria não será apenas um espaço de venda de obras de arte, mas terá uma programação de cursos, seminários e encontros feitos pelos próprios artistas da Hoa e convidados. "Mesmo que você não compre, pode fazer parte da Hoa", diz Ayedun.
Nascida no bairro paulistano do Brás nos anos 1990, quando a região ainda não havia passado por um processo de gentrificação, Ayedun teve contato desde cedo com a militância –seus pais eram do movimento negro e fizeram com que a consciência racial e de classe fizesse parte de sua alfabetização.
Apesar de viver numa região então marginalizada, sempre estudou em colégios particulares, com bolsas de estudo. Esse era o maior incentivo de seus pais. "Com educação você vai longe, com educação você tem tudo", eles lhe diziam.
Aos 15 anos ela começou a trabalhar como ajudante na editora Abril e depois virou jornalista, atuando inclusive como correspondente internacional. Durante anos Ayedun cobriu moda, arte e cultura na Europa e trabalhou como stylist.
Foi só nos últimos anos que a galerista se reconectou com o Brasil e entendeu as necessidades dos artistas locais. "Vi o quanto que eu tinha desenvolvido credenciais que podiam servir como emancipação de mais pessoas", diz.
"A Hoa como projeto começou no dia em que eu comecei a escrever reportagens sobre jovens talentos racializados na arte na moda e da criação", afirma. "Depois eu fui entender que eu conseguia expandir para fosse algo vivo, estrutural e físico".