Conheça o restaurante Carlino, fundado em 1881 em São Paulo e ainda em funcionamento
Cozinha mais antiga da capital paulista nunca deixou o centro da cidade
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Inaugurado ainda no século 19, mais especificamente em 1881, antes mesmo da Proclamação da República e quando o Brasil ainda estava sob as barbas de dom Pedro 2º, o Carlino ostenta o título de restaurante mais antigo de São Paulo. E, nestes 140 anos, nunca abandonou o centrão da capital.
Sua última encarnação ocupa desde 2005 uma loja na pequenina rua Epitácio Pessoa, quase escondida em um canto da Vila Buarque. “Insistiam para que a gente fosse para o Itaim, para os Jardins, mas o meu pai dizia que não, que a gente tem a cara do centro”, conta a chef Bianca Marino, 32, hoje à frente da casa.
Apesar de exibir uma certidão de nascimento dos tempos imperiais, o endereço convive bem com a vizinhança cada vez mais efervescente. “Quanto mais negócios abrirem por aqui, melhor”, afirma a cozinheira.
“O pessoal ficou doido quando a gente chegou aqui”, lembra ela. “Só tinha uma lavanderia. Ainda não tinha o hotel [Calstar], o tribunal [de Justiça], não tinha o Bullguer, não tinha o Hot Pork, não tinha nada”, diz ela sobre a vizinhança, que anda cada vez mais pop, com uma lista de casas que inclui ainda a Sorveteria do Centro, A Casa do Porco e a Z Deli, por exemplo.
Seu pai, Antonio Carlos Marino, comprou o restaurante em 1978 de um amigo, o italiano Marcello Gianni, que era o proprietário do empreendimento desde 1949.
Gianni foi o responsável, nos anos 1960, por levar o Carlino para a avenida Vieira de Carvalho, nos arredores do largo do Arouche, em uma época em que a região abrigava casas sofisticadas como o Fasano, o Rubaiyat e o La Casserole –único dos três que ainda permanece por ali. O Carlino esteve aberto na região até 2002 e ficou sem funcionar por três anos, antes de aportar na rua Epitácio Pessoa.
O antigo dono, por sua vez, adquiriu o local do fundador, o também toscano Carlo Cecchini, que abriu a cozinha em 1881 no largo do Paissandu, a um quilômetro do endereço atual.
Esse DNA da região da Toscana se tornou a base da cozinha do Carlino, que serve até hoje receitas que estão no cardápio desde a inauguração, como o coelho alla lucchese (R$ 85, acompanhado de polenta ou massa) e o cabrito à caçadora (R$ 83, servido somente aos finais de semana), ambos preparados do mesmo modo como eram feitos no século 19. Apesar de manter algumas tradições, porém, a casa não se prende a elas.
“Acho que uma das coisas que nos mantém vivos é que a gente sempre procura se atualizar”, diz Bianca Marino. “Estamos sempre atrás de novas técnicas, receitas, fazemos viagens e não queremos ficar parados no tempo.” Hoje, o local oferece uma cozinha que abrange toda a Itália e tem pratos introduzidos pela chef, como o agnolotti recheado de calabresa, que custa R$ 55.
Marino assumiu a cozinha em 2016, quando o pai começou a apresentar sintomas de Alzheimer. Ele morreu no começo deste ano, aos 76 anos, após um câncer.
“Mas ele nunca se esqueceu do nosso nome nem do Carlino”, diz. “Antes da pandemia, sempre era o primeiro a ficar pronto para vir para cá. Depois, quando a gente pôde reabrir o salão, eu o trouxe um dia”, lembra a filha e atual chef da casa. “Ele se lembrou daqui, disse que tinha muito amor por esse lugar. Aqui era a vida dele." O restaurante continua sob a guarda da família Marino e hoje opera sob o comando de Bianca, de seu irmão, Bruno, e de sua mãe, Rosana.
“Quando a gente não podia abrir no começo da pandemia, o clientes faziam muitas encomendas aos fins de semana. Foi isso que nos ajudou”, diz a chef. "A gente tem uma clientela muito fiel."