Basta uma caminhada pelas ruas do Jardim Paulista, o pedaço tradicionalmente preferido pelos restaurantes na região, para notar que há algo de novo por ali. Na leva de estabelecimentos que abriram as portas do ano passado para cá —e não foram poucos—, imperam os de formato pequeno, com serviço informal e cardápio com preços mais amigáveis.
No Naia, aberto em junho pelo chef Tuca Mezzomo, que já tinha o Charco no mesmo bairro, o prato mais caro do menu especializado em frutos do mar é o arroz pegado de polvo —custa R$ 84.
A 1,5 km dali, o novo Mi•Ado, quinta casa da chef Renata Vanzetto no bairro, sem contar o Marakhutai, que foi vendido no começo de 2020, prioriza as receitas asiáticas e cobra R$ 55 pelo pad thai vegano de cogumelos.
“Se você analisar os restaurantes que estão abrindo, são lugares joviais, desencanados, diferentes do perfil antigo dos Jardins”, diz Vanzetto, que chegou ao bairro em 2009, quando a atmosfera era outra.
Não faz muito tempo que almoçar ou jantar nos Jardins era sinônimo de programa chique em um ambiente de luxo. Fasano, D.O.M., Figueira Rubaiyat, A Bela Sintra e Antiquarius disputavam clientes endinheirados, oferecendo salões sofisticados e serviços pomposos. Os preços dos pratos, é claro, condiziam com a proposta e passavam facilmente dos três dígitos.
Não é que eles tenham desaparecido. Salvo o Antiquarius, que fechou as portas em 2012, os demais seguem firmes na mesma proposta e têm o seu público. Mas o luxo que os novos estabelecimentos apresentam agora é outro.
O chef italiano Marco Renzetti, que comandou por 13 anos a Osteria del Pettirosso, encerrou o ciclo na casa no ano passado e abriu a Fame Osteria, com 16 lugares e endereço secreto, informado apenas após a confirmação da reserva. O menu, a R$ 360 por pessoa, inclui nove etapas.
“O bairro está menos careta. Aquela visão antiga de luxo está dando lugar a ideias frescas, que envolvem uma cozinha mais voltada para a saúde e a sustentabilidade, com cardápios enxutos —isso reduz o custo fixo do estabelecimento e permite pagar melhor os colaboradores. É um luxo que vai além do discurso”, comenta Renzetti.
Segundo Tuca Mezzomo, o público jovem e bem-sucedido dos Jardins quer saber a origem dos ingredientes, valoriza produtos artesanais e não dá bola para mesas despidas de toalha. “Eles dão mais valor a um vegetal orgânico do que a um foie gras”, compara.
O treinamento da brigada, ele diz, também parte de novas premissas. “Oferecemos atendimento de alto nível técnico, mas humanizado. Os garçons se apresentam pelo nome e têm liberdade para apresentar os pratos do seu jeito.”
O mercado imobiliário acompanha a tendência. Sócio da Le Blé Casa de Pães, que já tinha uma loja em Higienópolis, Martin Jirousek escolheu o Jardim Paulista para implantar a primeira filial.
Em setembro e outubro, bateu perna pelo bairro e analisou pelo menos oito imóveis. Ao final, escolheu uma loja na rua Padre João Manoel, onde já funcionou a padaria Santo Pão. “Consegui alugar um ponto por um valor 30% menor do que imaginava”, revela.
Só uma característica das ruas do Jardim Paulista não muda com o tempo —embora o comércio e os restaurantes atraiam frequentadores de outros cantos da cidade, o vaivém de gente do próprio bairro garante uma atmosfera única, diz Mezzomo.
“São pessoas de alto poder aquisitivo, mas que valorizam cultura e história. Por isso aqui está cada vez mais plural.”
RESTAURANTES NOS JARDINS
Fame Osteria
R. Oscar Freire, 216, Cerqueira César, região oeste, Instagram @fame_osteria
Le Blé Casa de Pães
R. Padre João Manoel, 968, Cerqueira César, região oeste, Instagram @leblecasadepaes
Mi•Ado
R. Bela Cintra, 1.533, Consolação, região oeste, Instagram @restaurante.miado
Naia
R. Dr. Melo Alves, 767, Cerqueira César, região oeste, Instagram @naiarestaurante
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