Crepes em forma de pênis e vulva geram filas e quebram tabus no Assanhadxs, em SP
Ao comer Crepepekas e Crepipis, público não esconde a piadinha em food truck no centro da capital
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A fila para colocar a boca em pênis e vulvas dura mais de uma hora e reúne gente assanhada e curiosa —mas calma, não são órgãos sexuais de verdade, e sim versões comestíveis. Chamadas de Crepipi e Crepepeka, as receitas são a atração do Assanhadxs, loja que fica no Calçadão Urbanoide, espécie de reunião de food trucks no Baixo Augusta, região central da capital.
As guloseimas são uma versão de crepe. Com 16,5 cm —um pouco maior do que a média nacional—, o Crepipi custa R$ 30 e ganha versões salgadas e doces. A primeira é feita com massa folhada e tem recheios como frango, calabresa, muçarela e Catupiry. Na finalização, o cliente pode pedir um pouco de Gozonésia, a maionese de alho da casa, e gergelim torrado na "glande" do crepe, se curtir.
A opção doce, por sua vez, pode vir preenchida com chocolate, morango, banana e creme de avelã, além de toda uma sorte de confeitos para colorir a pontinha. Também dá para trocar a massa folhada por um bolo no sabor chocomenta. Uma camada de Chocogozo completa a criação.
Por ser um pouco menor, a Crepepeka é mais barata —custa R$ 20. O esquema é parecido, mas ela também pode ser degustada na massa de pão de queijo. A finalização fica ao gosto freguês: depiladinha, ou seja, só molhada na manteiga ou no leite condensado; ao estilo bigodinho de Chaplin, com gergelim ou confeitos; e, por fim, peludinha, salpicada de chocolate granulado.
"Lucas, seu guloso, a sua Crepepeka está pronta. Olha aí, Gabriela, o seu Crepipi veio com uma mancha de nascença", anuncia no microfone Gislene da Silva, a Gigi, dona do espaço. O pessoal que aguarda para comer vai à loucura com as brincadeiras. Quem chega ao balcão para retirar o pedido ainda ouve a recomendação de pegar o guardanapo. "Pegue o lencinho, você vai se lambuzar." Sim, as piadinhas de duplo sentido são infinitas.
Aos 53 anos, ela trabalha como coordenadora pedagógica, foi professora de ensino infantil e toca o negócio junto ao marido, Marcos Afonso, e à filha, Francine. Esse é o terceiro empreendimento que a família tenta emplacar no local, depois de uma cafeteria que servia bebidas com fotos impressas e de uma loja com acessórios para o público LGBTQIA+.
Nenhum dos dois vingou, mas eles insistiram. "Queria achar alguma coisa inovadora para abranger essa diversidade que a gente tem aqui na Augusta. Daí me lembrei de uma postagem que vi no Instagram de uma loja na França e fomos atrás de importar as máquinas", conta Gigi.
Ora feitos de crepe, ora feitos de waffle, as guloseimas eróticas viraram moda na Europa, com representantes em Paris, Barcelona e Lisboa. No Brasil, o negócio está crescendo —a lisboeta La Putaria começou a vender seus Piroffles e Xoxoffles em Belo Horizonte no final de janeiro, enquanto, em Fortaleza, a loja Xibata 16 cm viralizou nas redes sociais com a sua abertura, em dezembro.
Já o Assanhadxs foi ganhando forma aos poucos. Os Crepipis começaram a ser servidos em agosto, mas o negócio foi bombar mesmo em novembro, com a introdução das Crepepekas no menu, o que ampliou o público e serviu de chamariz para blogueiros. Só depois disso o nome da loja foi definido.
"Eu brincava dizendo que essa turma que vem aqui é tudo assanhado", diz. "Então meu marido sugeriu que a gente chamasse Assanhados. Mas eu perguntei das assanhadas. Por isso, resolvemos colocar o 'x', para deixar neutro e, assim, abranger a todos, todas e todes."
E eles fizeram questão de destacar esse 'x' que marca a diversidade no neon que sinaliza a loja. "Está bem vermelho, para mostrar que a gente inclui todo mundo. E quebrar esse tabu, assim como a turma fala. Às vezes, eu até brinco no microfone, perguntando se as pessoas estão ouvindo o som do tabu sendo quebrado", conta.
O microfone é uma novidade por ali, e Gigi é quem comanda o show. Ela relata que sempre brincou com o público, mas as filas cada vez maiores fizeram com que ela sentisse a necessidade de distribuir senhas e amplificar sua voz para a espera não ser tão penosa. "Eu gosto muito de fazer as pessoas darem risada. Mas é uma brincadeira, pois está tudo muito puxado. A gente está brincando até o último cliente", diz.
Há, inclusive, quem peça para ela fazer uma gozação. "Uma mãe pediu para que, na hora em que eu anunciasse o nome do seu filho, eu o chamasse de 'Lucas Guloso'. Depois chegaram duas meninas pedindo para eu zoar porque iriam filmar. Eu não brincaria desse jeito se não tivessem pedido."
Essas filmagens, é claro, vão para as redes sociais —que são o principal motivo para o sucesso da casa. Apesar do pouco espaço, a família fez questão de criar um cantinho instagramável iluminado por neons para garantir as selfies da clientela com os produtos em mãos ou na boca. "Todo mundo quer tirar foto", garante Gigi.
Esse clima também penetra o menu, já que a casa poderia facilmente ter chamado as receitas com formato de pênis de "crepiroca", por exemplo, ou usado outro nome para o Crepepeka. "A gente queria uma coisa mais leve. Não abrimos só à noite, famílias também vêm conhecer."
Mesmo que a temática do negócio seja um prato cheio para piadas, também há espaço para seriedade. "Fiz questão de colocar vulva e glande desse jeito mesmo no menu. Essa parte de educação sexual é importante, a gente acha que todo mundo sabe, mas não é bem assim. Outro dia, um rapaz disse que 'grande' estava escrito errado no cardápio."
"Quando perguntam para mim e para meu companheiro de onde veio a ideia, eu sempre respondo que foi de nossas mentes eróticas", brinca Gigi. "Quem vem para a Augusta e não come Crepepeka ou Crepipi, não veio para a Augusta."