Sou apenas um coroa rabugento. Ambientes temáticos não me impressionam, e me enfastia a adoração de elementos da cultura pop. Assim, quando a Folha encomendou a resenha de uma hamburgueria dedicada a “Jurassic Park”, ponderei: para fazer justiça à lanchonete em questão, eu precisava do Pedro.
“Jurassic Park” é o filme dirigido por Steven Spielberg e lançado em 1993, sobre um parque safári com dinossauros redivivos pela tecnologia genética –tudo dá ruim, e aí mora a diversão. Jurassic Park Burger Restaurant é a casa recém-aberta no Itaim Bibi, na zona oeste, que serve hambúrgueres em sistema fast food numa casa decorada com réplicas de dinossauros e farta memorabilia do filme.
Pedro é o meu filho de nove anos. Neste caso, a opinião dele importa muito mais do que a minha.
Chegamos pouco antes das 18h, encaixe de horário que nos arranjou a assessoria de imprensa do lugar —pelas vias regulares, as reservas já estão esgotadas até o fim do ano, tamanho o sucesso da novidade.
Mesmo com a chuvinha chata que caía no sábado (9), uma fila se formava da porta da hamburgueria até o fim do quarteirão, por cerca de 60 metros. Era a lista de espera, o bonde dos esperançosos pela desistência dos clientes com reserva.
Pegamos nossos crachás, imitando as identificações de funcionários do parque fictício do filme, e entramos. Lanchei com um crachá pendurado no pescoço, algo que me recusava a fazer nos 20 anos em que trabalhei no regime CLT.
A casa opera em esquema de serviço (ou não serviço) idêntico ao do McDonald’s ou do Burger King. O cliente paga e espera chamarem sua senha para receber uma bandeja plástica com a comida acondicionada em caixas de cartolina.
Os alto-falantes tocam em loop o “Theme From Jurassic Park”, de John Williams, como quando você esquece a TV ligada nos créditos finais do filme.
Eu me deixava levar pela irritação, então olhei para o Pedro. Seus olhos brilhavam de fascinação com os lagartões de fibra e todas as referências ao redor. Ele se lembrava de detalhes apagados da minha memória, e devo ter visto “Jurassic Park” umas seis vezes: o vídeo tutorial exibido nos monitores, o mapa do parque, qual dinossauro havia devorado quem.
Daí chegou a comida, ponto em que minha opinião talvez valha algo.
Pedimos um combo Jurassic Kids (cheeseburger com fritas, R$ 37), um cheese-bacon (R$ 31), um dedo de tiranossauro (asa de frango desossada e recheada com a própria carne e queijo, besuntada em molho agridoce, R$ 18), um suco de laranja (R$ 10), um ovo de dino (choux cream, carolina recheada de creme, R$ 17) e uma garra de velociraptor (chocolate recheado de caramelo, em forma de unha, R$ 12). Total: R$ 125.
O dedo de T. rex, apesar de ser anunciado como “T-Rex fingers”, no plural, era um só; apesar de úmido e saboroso, era pouca comida.
O cheese-bacon, com queijo fundido e bacon feitos na casa, fica muitos degraus acima de qualquer fast-food sob qualquer aspecto. Aliás, é um sanduíche excelente em todos os quesitos: do frescor do pão ao ponto da carne à dosagem do sal ao sutil dulçor do bacon. É muito pequeno, porém.
Os doces também são ótimos. Em especial o choux cream, pequeno em termos absolutos, mas gigante em comparação ao minúsculo chocolate que emula a unha de dinossauro.
A cozinha tem grife, é coordenada pelo talentoso e meticuloso Fábio Moon, da lanchonete Fat Cow. Apesar da correria do serviço, ele impõe um padrão impressionante para uma lanchonete temática.
O Pedrão amou tudo, até o crachá. Até a comida, que ele classificou como equivalente ao seu outro hambúrguer favorito (eu discordo: é melhor).
Se interessar a alguém minha opinião, é uma cantina de parque temático com qualidade dissonante (para o lado bom), preço consoante e muitos dos perrengues próprios desse tipo de programa. Não acompanha o parque temático completo, mas ninguém se demora o bastante para perceber.
As crianças adoram. E sai bem mais barato do que viajar até Orlando. Muito mais fácil também, e isso não é pouca coisa.
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