Frequentemente alvo de piadinhas feitas por colegas boêmios, quem não consome álcool acaba se sentindo um peixe fora d’água em bares e encontros com amigos. Os convites sempre vêm acompanhados de uma cervejinha, um gim, um vinho.
Mas, cada vez mais, alguns endereços vêm trazendo em suas cartas opções sem álcool. Existe até um nome em inglês para os drinques não alcoólicos: "mocktail", junção das palavras "mock" (imitação, zombaria) e "cocktail" (coquetel). Sim, até o nome traz uma gracinha contra os abstêmios.
Em bares de Nova York e Londres, cidades que imprimem o ritmo das modas coqueteleiras, essa já é uma tendência há um certo tempo. Existem até casas totalmente dedicadas aos "mocktails", casos do Getaway e do Listen, em Nova York.
Nos últimos anos, as bebidas com nenhum tipo de álcool no preparo têm conquistado um certo público paulistano —que vai dos preocupados com a saúde aos religiosos. No meio de uma crise no setor, com diversos endereços fechando as portas, bares e restaurantes vêm aumentando as opções do tipo para atrair esses clientes.
"Esses drinques se diferenciam pela estética mais elaborada, que remete a um coquetel, e também pelo perfil do sabor, que tem complexidade, aromas, infusões e ervas", afirma Danilo Madeira, bartender do restaurante vegetariano Quincho, na Vila Madalena.
Os "mocktails" não são simples sucos, chás ou outras opções com frutas que exageram no açúcar —eles têm jeito, sabor, aroma e textura que tentam emular as bebidas alcoólicas. Nas receitas, apostam em água gaseificada, sucos, xaropes, frutas, especiarias e outros ingredientes.
Há oito anos, quando Madeira ainda estava no balcão do restaurante Tuju, ele percebeu uma demanda crescente por bebidas sem álcool, principalmente após a aprovação da Lei Seca, em 2008. Mas nada que fizesse os menus das casas mudarem. Ao migrar para o vegetariano Quincho, em 2018, sentiu essa procura só aumentar.
"O vegetariano é exigente, não só em relação ao prato, mas a tudo o que ele está consumindo, dando importância aos drinques não alcoólicos", diz ele, que aponta uma mudança de comportamento na relação com a bebedeira, em especial entre os jovens.
"Existe uma conscientização de que essas bebidas são mais saudáveis. Isso não significa deixar de consumir o drinque alcoólico, mas diversificar." Mas, é claro, há muitas resistências ainda. "Mesmo entre os bartenders, muitos acreditam que um drinque sem álcool desvaloriza a coquetelaria", acrescenta.
Além do público mais ligado a uma vida saudável e os religiosos, os "mocktails" podem seduzir também quem está dirigindo ou tomando remédios, por exemplo.
Quando ia a bares e restaurantes e observava que os locais não ofereciam opções sem álcool, o empresário André Berti, que não bebe por motivos religiosos, decidiu abrir o próprio restaurante somente com opções não etílicas, mas com itens que vão além de sucos e refrigerantes. Em 2012, surgiu o Jazz Restô & Burgers, na região da Vila Mariana, referência entre "mocktails", cervejas e vinhos não alcoólicos.
Berti avalia que esse é um mercado que ainda tem a crescer. "Há dez anos, quando eu falava que não tinha bebida alcoólica, a pessoa torcia o nariz e ia embora", conta. "Hoje, ela pergunta quais são as opções."
Outra casa a oferecer opções para os abstêmios é o SubAstor, endereço clássico da coquetelaria paulistana. Há dois anos foram incluídos "mocktails" fixos no menu. "Começamos a ter o cuidado de colocar opções para quem não bebe ou está dirigindo", diz Alex Sepulchro, bartender do local. "O famoso motorista da rodada, que antes ficava restrito a sucos ou refrigerantes, agora tem mais opções."
Mas esse é um movimento ainda lento no Brasil, observa Sepulchro. "Acho que vai emplacar nos próximos três ou quatro anos."
Se também ficou curioso para provar os "mocktails" ou não quer acordar com ressaca no dia seguinte, a lista abaixo seleciona dez endereços em São Paulo que servem drinques nos quais o álcool não faz falta.
Astor
No tradicional bar chique, há versões "virgens" do bloody mary, feito apenas com suco de tomate temperado, e do mojito, que aqui leva limão-tahiti, xarope simples, hortelã e club soda –custam R$ 16 e R$ 14, respectivamente. Entre os drinques não alcoólicos autorais, o destaque é o London Highball (R$ 22), preparado com suco de pepino clarificado, elderflower e água tônica.
R. Delfina, 163, Vila Madalena, tel. (11) 3815-1364. Delivery via iFood e Rapp
Jazz Restô & Burgers
Os drinques não alcoólicos são a especialidade da casa, que tem carta 100% abstêmia —há drinques, cervejas e vinhos, todos sem qualquer rastro etílico. Os coquetéis investem em frutas, xaropes, leite de coco, e há releituras abstêmias de clássicos como mojito, piña colada e caipirinhas, além de autorais como o Rouge (R$ 14; 300 ml), preparado com morangos macerados, suco de morango, xaropes de romã e de cranberry, além de limão e gelo.
R. Vergueiro, 2.080, Vila Mariana, região sul, WhatsApp (11) 95179-5289.
MeGusta Bar
A seção do menu dedicada aos "mocktails" lista quatro opções, entre elas, o Mango Bigu. O drinque custa R$ 22 e é preparado com purê de manga, limão, xarope de framboesa e espuma de gengibre por cima.
R. Bela Cintra, 1.551, Cerqueira César, região oeste, tel. (11) 3081-8358. Delivery pelo iFood e megustabar.voceqpad.com.br
Martin Bar
Dos drinques sem álcool preparados no bar, que custam R$ 14,90 cada um, o destaque é o Ninno, receita que combina suco de limão, soda, gelo e pedaços de morango.
R. Apucarana, 1.490, Tatuapé, região leste, tel. (11) 3596-2466. Delivery via iFood, telefone e WhatsApp (11) 97638-7574
Miss Saigon
O restaurante de culinária vietnamita tem como sugestão de "mocktail" o Da Nang, preparado com suco de limão-siciliano, tônica pink lemonade, toranja, zimbro e folhas de alecrim, que conferem aroma à receita. Assinado pela bartender Estela Nakanishi, sai por R$ 32.
R. Mourato Coelho, 1.223, Pinheiros, região oeste, tel. (11) 4564-1419 e (11) 94116-0521. Delivery via iFood
Mobi Hamburgueria
Para acompanhar os hambúrgueres, o cardápio apresenta seis opções de drinques sem álcool por R$ 12 cada um. Entre eles, há a conhecida pink lemonade –limonada rosa que mistura sucos de limão e de cranberry– e o Red Mint, receita com geleia de frutas vermelhas da casa, água com gás e hortelã.
R. Prof. Lourival Gomes Machado, 254, Santana, região norte, tel. (11) 2959-5508. Delivery via iFood e telefone
Pirajá
Neste bar, que tem alma carioca e sete unidades espalhadas por São Paulo, um dos coquetéis que não leva álcool é o Alvorada Lá no Morro. Em referência ao samba de Cartola, o drinque custa R$ 29 e é feito com água tônica com lichia, amora e folhas de manjericão para finalizar.
Av. Brigadeiro Faria Lima, 64, Pinheiros, região oeste, tel. (11) 3815-6881. Delivery via iFood e Rappi
Quincho
A casa oferece diferentes opções de drinques não alcoólicos, elaborados para acompanhar os pratos vegetarianos, especialidade da cozinha. O bartender Danilo Madeira prepara coquetéis como o Cajueiro (R$ 18), que leva cajuína –bebida produzida a partir do suco de caju–, xarope de violeta, flor de laranjeira e folhas de hortelã. Outro destaque é o Airela (R$ 16), feito com romã, suco de cranberry e manjericão.
R. Mourato Coelho, 1.447, Vila Madalena, região oeste, tel. (11) 3815-8774. Delivery via iFood (Quinchito) ou deliveryapp.neemo.com.br/delivery/8704/menu
Santana Bar
Entre os não alcoólicos autorais preparados pelo bartender Gabriel Santana, o Mokito é servido com limão, mel de acácia, manjericão, pimenta-rosa e tônica. Custa R$ 18.
R. Joaquim Antunes, 1.026, Pinheiros, região oeste. Instagram @_santanabar
Tan Tan
O único bar brasileiro a figurar na lista dos cem melhores bares do mundo do ano passado tem representantes sem álcool na carta, assinados pelo mixologista Alex Mesquita. Uma das sugestões é o Cordial Soda (R$ 19), que combina abacaxi e canela ou tangerina e manjericão.
R. Fradique Coutinho, 153, Pinheiros, região oeste, tel. (11) 2373-3587. Delivery via Rappi
12h57
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