Conheça o Térreo Virgínia, que tem bar, shows e loja em prédio com cara de abandonado
Endereço no centro de SP atrai visitantes com estética urbana decadente, cervejas e design
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Passar na frente do Térreo Virgínia causa uma estranheza. De um lado, estão a iluminação moderninha, a música que vai do eletrônico ao samba e um balcão servindo chopes. De outro, há um certo clima de improviso, com paredes esburacadas, vidros pichados e tapumes dividindo ambientes. Não fica claro se ali funciona mais um novo bar no centro de São Paulo ou se um grupo de pessoas simplesmente entrou num endereço abandonado para fazer uma festinha.
Mas a estética urbana decadente é proposital. Dentro da fachada de vidro que lembra um aquário com pichos e cartazes, estão o bar Brass Brew e a loja Barra Funda Autoral, a Bafu, que promovem feirinha gastronômica e apresentações musicais que agitam as noites da região. Há cerca de um mês, a Crio, cafeteria com endereço na região dos Jardins, também começou a servir café por lá durante o dia.
O jeitão de espaço desabitado já estava assim quando os inquilinos chegaram —e eles decidiram não ajeitar muito a decoração. Antes, ali funcionava uma concessionária, que deixou o endereço vazio, como uma espécie de tela em branco para as pichações. Chamado Virgínia, o prédio tem ainda dez andares e fica localizado em frente à Ocupação Nove de Julho, mas os pavimentos estavam praticamente vazios, com apenas dois apartamentos ocupados até 2019.
As coisas começaram a mudar no ano seguinte, quando o imóvel, construído em 1951, foi adquirido pela Somauma. Dedicada ao retrofit —nome da moda para o restauro e a reutilização— de prédios subutilizados, a incorporadora viu na loja a chance de fazer o espaço voltar a ficar cheio.
Foi assim que surgiu o Térreo Virgínia, que abriga também o escritório da construtora, num mezanino com mobiliário garimpado e reciclado. Já a Brass Brew é cervejaria gestada na Casa das Caldeiras, na Barra Funda. E a Bafu tem seleção de itens de design, que incluem moda, cerâmica e cosméticos.
A loja é a responsável também pela decoração, com instalações artísticas, e por parte da programação cultural. A feirinha gastronômica Fubá —uma brincadeira com Bafu— ocupa a agenda aos fins de semana, enquanto a cada mês as paredes do prédio exibem obras de um artista convidado pelo dono, Claudio Magalhães. A partir de 5 de maio, o artista Claudio Arriagada exibe alguns trabalhos por lá.
A outra parte da agenda fica sob a tutela da cervejaria. A casa funciona de terça a domingo, mas tem programação musical gratuita de quarta a domingo. Há apresentações de jazz nas noites de quarta; rock e soul às quintas; MPB e samba aos sábados; e uma surpresa aos domingos. A Bafu fica responsável pelo nome das noites de sexta, quando rola discotecagem.
"Quando vim conhecer e vi esse escombro maravilhoso, pensei ‘que legal, eu quero’’’, conta Magalhães, que resolveu instalar a Barra Funda Autoral no Virgínia após visitar o local a convite da Somauma.
"Ainda existia o fantasma da concessionária", diz ele. "Queria deixar os pichos, mas também resgatar a arquitetura original. Tirar aquele piso de granito horroroso, aquelas sancas horrorosas cheias de luminárias."
Depois de arrancarem divisórias e paredes, o desenho original do espaço apareceu, com uma planta praticamente livre. Surgiram também os buracos nas estruturas. "Tem gente que fica incomodadíssima com os buracos, mas tem gente que acha incrível", diverte-se Magalhães.
Após a revitalização da fachada, a Somauma diz que a próxima etapa é começar as obras dos apartamentos, nos andares superiores, em janeiro do ano que vem.
A iniciativa é parecida com outras no centro de São Paulo, que assiste a um processo de revitalização de prédios antigos e degradados. É o que faz a Planta, por exemplo, outra incorporadora que trabalha no mesmo segmento e que restaurou um edifício em frente ao Minhocão, hoje sede da livraria Gato Sem Rabo, da pizzaria Divina Increnca e do restaurante Cora.
"A gente está fazendo isso para provar para a gente e para os investidores que o projeto é viável, com retorno financeiro, mas também com uma valorização da cidade", diz Pedro Ichimaru, um dos sócios da Somauma.