Antes a ordem era livrarias abrigarem um café ou um restaurante, alguns até assinados por chefs, para receber e agradar os clientes em busca de alguma bebida ou docinho entre um livro e outro.
Mas agora as coisas parecem estar se invertendo em São Paulo: são cafeterias e até bares que inauguram pequenas livrarias dentro de seus espaços, para satisfazer o público com livros entre um café ou até mesmo um drinque –especialmente neste sábado, dia 23, quando é comemorado o Dia Mundial do Livro.
É o caso da Pulsa, aberta no último dia 8, dentro do Das, bar na região de Santa Cecília, no centro da capital. A casa e a nova livraria dedicam-se à comunidade LGBTQIA+, em especial a mulheres lésbicas e bissexuais e pessoas transexuais.
"Pensamos em fazer uma banca de jornal, como a Tatuí [na rua Barão de Tatuí, ali perto, também em Santa Cecília], mas descobrimos que era tudo muito caro e burocrático", explicam Caroline Fernandes e Fer Krajuska, que comandam a livraria. Quando souberam que o espaço onde havia uma sex shop dentro do Das estava disponível para aluguel, começaram as negociações. Em menos de três meses, a Pulsa estava pronta.
Por ali, é possível encontrar obras que passeiam por vários gêneros e que foram escritas por pessoas da comunidade LGBTQIA+ ou abordam temas relacionados a esse universo.
O acervo ainda é tímido —são cerca de 40 títulos, entre publicações de editoras independentes e best-sellers. Há títulos como a coletânea de quadrinhos "O Essencial de Perigosas Sapatas", de Alison Bechdel (sim, a criadora do famoso teste que avalia filmes do ponto de vista da igualdade de gênero), e "Despertar", escrito por Octávia E. Butler, autora de ficção científica.
"O bar é um local frutífero para ideias e trocas, o que tem tudo a ver com literatura", diz Fernandes. Quem parece ter uma opinião semelhante é Ricardo Sukys, do Lardo, misto de bar e sebo que começou a receber o público em setembro na Pompeia, na zona oeste paulistana.
Sukys, que se define como um acumulador, achou que seria uma boa ideia levar parte da sua coleção de livros para o bar. Seus sócios contribuíram com o acervo, que aumentou e gerou um pequeno sebo.
"A ideia era ter um atrativo a mais, poder se conectar com a vizinhança de uma forma diferente e oferecer mais do que só um serviço de bar", explica.
Enquanto aguarda o pedido da cozinha, como as croquetas de cogumelos com queijo Canastra (R$ 28) e drinques como o Fitzgerald (R$ 30), o visitante pode fuçar na prateleira que se estende por uma das paredes da casa. Ali, é possível encontrar quadrinhos, literatura nacional e estrangeira e obras sobre ciência, política, cinema e música. São cerca de 300 exemplares, com valores que partem dos R$ 30.
Mas também há opções para quem curte um cafezinho, como é o caso da loja na altura do número 86 da rua Pirineus, nos Campos Elíseos, região central. O espaço da loja de chá-mate Yerba e da cafeteria Por um Punhado de Dólares, a PPD, também abriga uma livraria e uma loja de discos de vinil.
A área dedicada às publicações foi lançada em uma parceria com a Casa Plana, residência da antiga feira de publicações independentes Plana. Com a pandemia, a parceria não foi para frente, mas o pessoal do Yerba e do PPD resolveu montar uma livraria própria no mesmo espaço.
São cerca de 1.500 livros, todos novos, entre revistas, obras de ficção, não ficção e literatura infantojuvenil. Também é possível comprar jogos, agendas, postais e pôsteres enquanto aguarda uma xícara de café, que pode ser preparado em diferentes métodos, e belisca um salgado.
Ou como escreveu Paulo Leminski em poema publicado no livro "Winterverno": "Antes que a tarde amanheça/ e a noite vire dia/ põe poesia no café/ e café na poesia".
Lardo - Bar e Sebo
R. Guiará, 376, Pompeia, região oeste, tel. (11) 97854-0719, Instagram @lardo.pompeia
Yerba + Por um Punhado de Dólares
R. Pirineus, 86, Campos Elíseos, região central, Instagram @yerba.ppd
Pulsa
R. Fortunato, 133, Santa Cecília, região central, Instagram @livrariapulsa
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