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Passeios

Oscar Freire retoma ritmo de pré-pandemia, e só os manequins de máscara dizem que existe crise

Conhecida pelo consumo de luxo, rua em SP recupera movimento e tem lojas cheias

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São Paulo

Não fossem a oferta abundante de álcool em gel e os manequins de máscara nas vitrines, ninguém diria que existe pandemia ao andar pela Oscar Freire, em São Paulo.

Praticamente tudo o que lembra o clima pré-Covid está de volta à rua, que tem ares de normalidade —ao menos no trecho que concentra a maior parte das lojas e é conhecido como um dos principais centros de consumo de luxo da cidade. Os restaurantes seguem apinhados de gente e as calçadas estão cheias de pessoas que batem pernas e de mãos que seguram sacolas, gelatos e lulus da Pomerânia.

Também seguem implacáveis os gim-tônicas harmonizados com cigarros eletrônicos, as roupas em tons pastéis, os conversíveis e a dualidade paulistana —cercadas da pompa, crianças vendem panos de prato para quem almoça e entregadores de aplicativo esperam o celular apitar com o próximo pedido de um restaurante caro.

No momento em que o governo flexibiliza ao máximo as regras da quarentena e as variantes da Covid circulam pela cidade, a rua da zona oeste e suas lojas parecem pouco ter a ver com o resto do comércio paulistano, que segue aos trancos e barrancos desde março do ano passado.

Ainda que a via não tenha passado incólume —a reportagem contou ao menos 13 imóveis comerciais para alugar ou em reforma ao longo de seus quase três quilômetros—, a comparação com as ruas ao redor não deixa esquecer por que a Oscar Freire ainda tem o metro quadrado estimado em R$ 15.867, segundo a DataZAP+.

“Faz uns quatro ou cinco meses que o movimento está normal. O brasileiro tem memória curta, né? Vacinou e já acha que está imune”, diz o segurança de uma das lojas, Paulo Rodrigo Garcia, de 42 anos. “Pode reparar, dá 15h e o pessoal sai dos restaurantes e começa a subir em direção às lojas para gastar o almoço”, brinca.

Para Luiz Fernando Turatti, professor de marketing e estratégia do Insper, a via é mesmo um ponto fora da curva. “Mesmo em outras ruas dos Jardins o pessoal acabou deixando o negócio mais rápido do que na Oscar Freire, que é o lugar mais cobiçado para se abrir um comércio. Você vê fechamentos, mas com uma recuperação muito mais rápida para o dono do imóvel, que fica com ele vazio por pouco tempo”, observa ele.

A impressão da presidente da Associação Comercial dos Jardins e do Itaim Bibi, Rosangela Lyra, é que a circulação de pessoas já chega ao dobro do que era antes do coronavírus, em 2019.

“A Oscar Freire sairá da pandemia ainda mais valorizada”, diz. O segredo, para ela, é a experiência do consumo pela qual a rua sempre foi conhecida —na disputa com os shoppings, ganha quem oferece o supertrunfo pandêmico: o ar livre.

“Quem antes só se sentava em um café e olhava as vitrines ao viajar para Milão ou Paris descobriu que também é possível fazer isso aqui, guardadas as devidas proporções. Muitas pessoas estão descobrindo a Oscar Freire”, diz.

Conhecida pelas grandes marcas que escolheram o quadrilátero de luxo —que engloba um trecho da Oscar Freire e vias próximas a ela— como sede de suas unidades mais caprichadas, a rua também teve suas repaginações.

Lojas de departamento como Renner e Riachuelo desembarcaram ali, balanceando o cenário até então dominado pelas etiquetas caras. Em contrapartida ao fast fashion, galerias com marcas acomodadas em pequenos boxes foram abertas e ocupadas por produtores independentes.

A chegada de empresas com discurso amigável ao meio ambiente, como Pantys, Desinchá e Natura, também pareceu abaixar um pouco o tom de grandiosidade da rua.

"Isso ajudou a aumentar a diversidade, trazendo um público que talvez procurasse esse tipo de coisa na Vila Madalena. O consumo consciente e a presença dessa geração que se preocupa mais com a história do produto mostram uma mudança no consumo não só da Oscar Freire, mas do todo”, analisa Turatti.

Mesmo que agora flerte com a imagem de um espaço mais democrático, o trecho turístico da Oscar Freire sai devendo quando a bolha é furada e a caminhada continua em direção à avenida Dr. Arnaldo.

​A calçada se afina, o número de árvores mirra e a rua ganha uma cara mais paulistana, cheia de postes, cabos de energia e pressa. Passa-se por pê-efes, barraquinhas de churrasco, paredes pichadas e lojas de todo tipo —construção, palmilhas, cortinas e consertos.

Bem na ponta da rua, no entanto, uma rede hipster de cafés abastece quem vai em direção ao aglomerado de marcas. Ainda estamos na Oscar Freire, afinal.