Paulista aberta aos pedestres é catarse de uma cidade carente na pandemia
Com feirinhas e artistas, avenida não tem carros aos domingos, das 8h às 12h
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
3 meses por R$1,90
+ 6 de R$ 19,90 R$ 9,90
ou
Cancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Com exceção da academia Smart Fit e do drive-thru do McDonald’s, poucas coisas estão abertas e quase nada acontece em um domingo às 8h na avenida Paulista.
A via na região central de São Paulo voltou no fim de julho a ser fechada para carros e aberta para pedestres —e bicicletas, patinetes, skates e outras rodinhas—, mas ainda em horário reduzido por causa da pandemia, das 8h às 12h.
Usando a ciclofaixa que aparece por ali aos domingos, o passeio pode começar pela praça Oswaldo Cruz. Às 8h, só ciclistas, turistas, entregadores de aplicativo e moradores de rua que espalham suas barracas pelas calçadas enfrentavam o frio do domingo, dia 1º, quando os termômetros registravam cerca de 15ºC.
Passando pelo Sesc Paulista, ainda fechado, e chegando à escola estadual Rodrigues Alves, às 8h30, o supermercado Minuto Pão de Açúcar é uma das únicas opções para se alimentar por esse horário.
Às 9h, a sensação já não era de muito frio, já que os prédios altos bloqueiam os ventos gelados da manhã. Isso é percebido a cada cruzamento desprotegido pelos edifícios, onde as correntes de ar fresco são um ótimo incentivo para acelerar as pedaladas.
Por causa do inverno, as primeiras barraquinhas que surgem vendem todo tipo de vestimentas e acessórios contra o frio. Caso precise de um gorro ou de uma luva, imigrantes peruanos, bolivianos e colombianos oferecem lãs com estética típica da região dos Andes. Em frente ao shopping Cidade São Paulo, eles se dividem em várias barracas, com araras.
Ainda na mesma calçada, uma música peculiar chama a atenção. Quem é fã de “Harry Potter” logo percebe a trilha da série de filmes. O responsável é David Lima, de 32 anos, que vende chaveiros, canecas, bolas de cristal e até varinhas mágicas. Ele diz que, após se tornar admirador do bruxo, resolveu largar seu emprego numa editora de livros e vender artigos inspirados nas histórias do personagem.
É quando chega o sol das 10h que a Paulista mostra por que é chamada de praia de paulistano. O movimento cresce, e os artistas começam a aparecer e a ocupar seus postos.
Próximo à alameda Casa Branca, em frente ao bar Charme da Paulista, o mágico Marcos Rodrigues, de 53 anos, se apresenta para adultos e crianças. Ele faz a aliança de uma pessoa da plateia desaparecer —até que o anel ressurge dentro de um cofre em sua mochila.
Não muito longe dali, é possível ouvir gritos. “Quero descer. Para isso!” É uma roda giratória, na qual as pessoas que pagam R$ 30 ficam presas pelas mãos e pelos pés durante dez minutos, rodando 360º e ficando de ponta-cabeça. Uma mulher que decidiu testar o brinquedo se desespera enquanto os amigos dão risada.
No outro lado da rua, capoeiristas se apresentam em frente ao Masp e exibem golpes e saltos mortais.
Se quiser dar um intervalo, a barraca amarela em que Gabriela Mota, de 21 anos, trabalha há seis anos vende caldo de cana e água de coco em frente ao parque Trianon. Ao lado, a barraca de pastéis Matsuo oferece 35 opções de sabores.
Perto dali, dois b-boys se apresentam dançando break ao som de James Brown, remixado com Sabotage. E, mesmo de longe, já próximo ao restaurante Bob’s, é possível ouvir uma música tocada num teclado.
É Tiago Santana, de 28 anos, professor de música, que se apresenta tocando canções românticas. Contrastando com o clima de amor, um cosplay do palhaço de "It", personagem das obras de Stephen King, fica parado de forma estática e assusta quem passa, recebendo um trocado por cada foto que tira.
É já no fim do roteiro que a Paulista fica lotada. Agora as bicicletas não são mais as únicas —patins, patinetes e skates surgem aos montes.
Chegando à rua da Consolação já ao meio-dia, com carros quase voltando a circular, olhar para trás é ver uma via cheia de gente, um respiro numa cidade com poucas opções de lazer, principalmente na pandemia —mesmo ainda em tempos de fique em casa.
Cinco coisas para ver aos domingos na Paulista
• Caio Feliciano e Eduardo Ferreira exibem dança no estilo break, às 9h, próximo ao parque Trianon, em torno do número 1.500
• A barraquinha com objetos inspirados em ‘Harry Potter’ está na calçada do shopping Cidade São Paulo às 9h, no número 1.230
• Os músicos Eduardo Cassoli e Rômulo Ventura se apresentam em frente ao prédio do Banco Central, no número 1.804, por volta das 10h
• Um brinquedo de realidade virtual fica disponível a partir das 10h em frente ao bar Charme da Paulista, na altura do 1.499; custa R$ 30 por dez minutos
• Branca Gonzaga expõe suas obras a partir das 10h, em frente ao prédio da Justiça Federal que fica no número 1.682