Depois de dois anos em reforma e cercado por tapumes, atrasos e polêmicas, o novo vale do Anhangabaú foi reaberto no último domingo de julho, mas desde então funciona de forma tímida e com menos pompa do que o prometido quando o projeto foi divulgado.
Embora o chão cinza e plano, os banquinhos de madeira, a pista de skate e os vários pontos de jatos d’água —que não funcionam sempre, mas refrescaram as cerca de 200 pessoas que compareceram na abertura— estejam lá, ainda não há muito para fazer se você decide caminhar pelos 43 mil metros quadrados que compõem o local.
Por enquanto, o vale só é aberto aos domingos, das 8h às 12h. No segundo fim de semana de funcionamento, poucas pessoas circulavam por lá. Enquanto alguns rodavam com bicicletas e patins pelo espaço vazio, outros se balançavam na estrutura pendurada pelo coletivo Basurama no viaduto do Chá.
No meio do espaço, algumas pessoas observavam as duas exposições instaladas por ali, uma delas sobre as mudanças do próprio Anhangabaú ao longo das décadas e outra do artista Alexandre Ignácio Alves, que imprimiu em chapas de compensado naval as imagens de pessoas que atuam no combate à Covid-19.
Ao menos no último domingo, dia 1°, a ponta mais próxima do viaduto Santa Ifigênia era a única mais ou menos disputada do espaço. Dias depois da estreia vitoriosa do skate nas Olimpíadas de Tóquio, jovens desfilavam suas manobras na nova pista, que é um dos chamarizes da reforma, que consumiu mais de R$ 105 milhões.
Da lista de outras novidades prometidas pela prefeitura, porém, ficaram de fora mais de uma dezena de quiosques que, de acordo com o projeto, seriam ocupados por restaurantes, cafés, banheiros, comércio e espaços de lazer para as crianças.
As estruturas estão prontas, mas só uma delas foi usada por enquanto e sedia um centro de informações aos turistas. A parte externa de outros três quiosques serviram de mural para artistas como Deco Treco, Ramo Negro e Luna Bastos.
A reabertura incompleta esbarra em mais uma etapa delicada da reforma. Prevista pela prefeitura para o meio do ano passado, a entrega da obra foi adiada para setembro, postergada para outubro e, depois, para janeiro deste ano. Agora, passa por um período de 90 dias de transição para a concessionária Viva o Vale, que será a responsável pelo local nos próximos dez anos.
Enquanto o prazo não se encerra, os quiosques e a programação feita no Anhangabaú ficam sob a responsabilidade da gestão municipal, mas são acompanhados pelas empresas que integram a concessão.
Outro ponto previsto no projeto —este definitivamente abandonado— era a instalação de um mirante entre a rua Líbero Badaró e o vale, que se provou caro demais para ser feito. Também entre os destaques do edital estavam a realização de ao menos 324 atividades gratuitas mensais, como oficinas, shows, cinema ao ar livre e feiras, durante todos os dias da semana e no período noturno, além de wifi gratuito.
Nada disso tem data para acontecer e depende também da situação do plano de quarentena que controla o avanço do coronavírus no estado. Mas, enquanto duram as fases de transição do projeto e da iniciativa de retomada liderada pelo governo durante a pandemia, o vale tem só um gostinho do que era esperado.
Por enquanto, além das pequenas exposições, a única atividade cultural que entretém o público é de responsabilidade do grupo teatral Pia Fraus, que apresenta o espaço para os visitantes.
No último fim de semana, a companhia divertia um punhado de crianças e adultos enquanto passeava pelo espaço. Com música, atores em cima de pernas de pau segurando álcool em gel e fantoches de máscara, o grupo contava a longa história do Anhangabaú.
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