Quadras de 'beach tennis' se multiplicam por SP e se tornam praia de paulista na pandemia

Com viagens restringidas pela Covid-19, lugares popularizam o tênis de praia

Aula de tênis de praia no Sampa Beach, em São Paulo

Aula de tênis de praia no Sampa Beach, em São Paulo Adriano Vizoni/Folhapress

São Paulo

No Posto 11, pessoas fazem abdominais e corridinhas na areia. No Calçadão, gente com roupa de ginástica se refresca com um mate gelado. Na Praia Brava, o biscoito Globo marca presença com um cooler de cervejinha entre uma partida de tênis de praia e outra, ou “beach tennis”, como ficou mais conhecido.

Nenhuma dessas cenas se passa no litoral paulista ou no Rio de Janeiro. São todas quadras de areia, devidamente batizadas com nomes praianos, que pipocam por São Paulo e se multiplicaram na pandemia, atendendo paulistanos que não puderam mais ir à praia por causa do coronavírus e então resolveram trazer a praia até a metrópole.

Nessas quadras de areia, muitas enfiadas entre prédios altos, outras na beira da marginal Pinheiros, o carro-chefe é o tênis de praia —mas há também a turma do futevôlei e do vôlei, por exemplo.

Jorge Bierrenbach é vice-presidente da Confederação Brasileira de Beach Tennis. Ele diz que, até o ano passado, eram 2.000 atletas cadastrados para torneios. Hoje são 4.500.

Outro número que saltou foi o de empreendimentos. Bierrenbach estima que, até 2020, eram menos de 90 locais com quadras de areia no estado de São Paulo —agora são 150.

Mas, diferentemente do futevôlei, o tênis exige raquetes —e elas têm preços salgados, que partem de R$ 100, chegam em média a R$ 700, mas podem passar dos R$ 2.000.

Com a alta na procura, empresários viram no esporte uma chance de lucrar na pandemia e apostaram na construção de complexos que vão além das quadras e reúnem bares ou restaurantes com cadeiras no estilo bangalôs.

Os investimentos variam de R$ 600 mil a R$ 1 milhão e é difícil encontrar o dono de um desses lugares que não diga frases como “quando você entra aqui, é como se não estivesse em São Paulo” ou “uma coisa é ter uma quadra, outra é vender o lifestyle completo”.

Lambuzando-se de areia ou bebendo entre amigos, é comum ver jogadores sem máscara. A justificativa é que, por ser uma prática ao ar livre, a máscara não seria necessária. Mas isso está errado, segundo infectologistas. Eles apontam que é preciso usar máscaras mesmo em áreas abertas, já que nenhum esporte mantém as pessoas 100% isoladas.

Um dos complexos praianos de São Paulo é o Calçadão, um dos primeiros a surgir, em 2019. Cinco amigos que jogavam no clube Alto dos Pinheiros resolveram abrir o espaço arborizado no Butantã, que conta também com o BotaniKafé, que serve brunches coloridos, sucos e bowls descolados e moderninhos.

Com o slogan “entre a areia e o asfalto”, o nome Calçadão surgiu como referência ao litoral. “O calçadão separa a cidade da praia. Aqui, separa a cidade da areia. Você está no meio da marginal, mas, quando entra aqui, esquece isso”, diz Marina Ohno, à frente do marketing do lugar.

Lá dentro, partidas de vôlei, futevôlei e tênis de praia dividem os espaços. Ela conta que a procura por tênis de praia cresceu tanto que uma nova unidade do espaço foi aberta em Pinheiros.

Na zona leste, Flavio Sarpi encontrou um nicho não explorado na região, que até então reunia muitas quadras de areia, mas poucas para os amantes de tênis de praia.

Aberto desde setembro do ano passado, o Analia Beach tem uma cozinha com comidas fits, como omeletes e açaí, e de noite são servidas porções, como a de camarão. "O pessoal que vem aqui atrás de futebol bebe cerveja, mas o de tênis de praia é mais exigente, bebem bem menos e comem muito mais", diz.

Mas é o bairro do Morumbi que se destaca como centro dessas quadras, que surgem por todos os lados —há desde opções com bar que ostenta drinques autorais até uma arena montada no estacionamento de um supermercado.

O Praia Brava Sand Club, por exemplo, foi inaugurado há menos de um mês. Tudo ali remete à praia, conta Daniela Garcia, uma das sócias.

“O contêiner azul onde está o bar é o mar que a gente não tem. O chão é de pedrisco, que faz o barulho de areia. E plantamos dama-da-noite, que traz o mesmo cheiro da praia ao anoitecer”, diz a dona. Por isso, é proibido fazer um churrasquinho no espaço. “Se não tem na praia, não tem no Praia Brava”, diz ela.

Embora o tênis cresça e se destaque, a maioria desses lugares permite o uso das quadras de areia para todos os esportes —o que gera uma certa rixa entre as modalidades.

“Dizem que não é o mesmo público, que quem joga futêvolei fica sem camisa.” Mas Garcia argumenta que “praia é democracia, praia é socialização” e que todos os esportes são bem-vindos.

Fabio Mancurti, à frente do Sampa Beach Sports, analisa que a diferença entre os praticantes está relacionada à idade. “Futevôlei tem um público mais jovem, de até 25 anos, que gosta de ouvir samba e pagode. No tênis, é um pessoal mais velho, que curte lounge e eletrônica”, diz ele.

O empresário analisa, porém, que essa explosão de quadras de areia em São Paulo lembra o fenômeno da paleta mexicana na cidade ou da multiplicação de academias de crossfit. “Um monte abriu, um monte fechou e sobraram só os melhores.”

Mesmo assim, ele pretende inaugurar mais quatro complexos até o fim do ano —três deles no Morumbi. “A procura está uma loucura, é até um pouco assustador”, conta Mancurti. Para espantar a concorrência, ele fixou uma placa em frente à sua próxima quadra, na avenida Morumbi, na qual está escrito num muro amarelo “em breve, esportes de areia”.


ONDE JOGAR ESPORTES DE AREIA

Anália Beach
R. Bom Jesus, 599, Anália Franco. Reservas p/ WhatsApp: (11) 95540-0496. Instagram: @analia.beach

Arena BTG+
Av. Major Sylvio de Magalhães Padilha, 16.741. Reserva p/ WhatsApp: (11) 98847-7591.

Calçadão Butantã
Av. Magalhães de Castro, 286, Butantã. Reservas p/ WhatsApp: (11) 95599-3054. Instagram: @calcadao_

Casa Flutuar
R. Clodomiro Amazonas, 896, Vila Nova Conceição.Reservas p/ WhatsApp: (11) 95941-1372. Instagram: @casaflutuar

Praia Brava Sand Club
R. Dr. José Gustavo Buch, 447, Paraíso do Morumbi. Reservas p/ WhatsApp: (11) 95929-5956. Instagram: @praiabravasandclub

Posto 11 - Lapa
R. Barbalha, 381, Lapa. Reservas p/ WhatsApp: (11) 97102-9718. Instagram: @posto011 —o Posto 11 também está presente em outras quatro unidades, nos bairros de Santana, Moema, Jardins e Vila Olímpia

Sampa Beach
Av. Duquesa de Goiás, 571, Real Parque. Reservas p/ WhatsApp (11) 96736-3030. Instagram: @sampabeachsports

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais