Descrição de chapéu covid e meu bairro
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Conheça o Bom Retiro que vai além das compras e costura um caldo cultural descolado

Conhecido pelas lojas, bairro imigrante pulsa com ruas diversas e circuito cultural

São Paulo

Bem no meio da rua Três Rios, rodeado por casas que vendem tecidos, pê-efes tipicamente paulistanos —mas que servem yakisoba— e lojas de quinquilharias, um prédio guarda a Casa do Povo, centro que funciona como uma espécie de microcosmo do Bom Retiro.

A alguns dos moradores da região foram confiadas cópias da chave da porta de entrada do espaço, identificada nos cinco idiomas falados por lá. Do lado de dentro, um dia pré-pandêmico poderia reunir um coral em iídiche, costureiras de países latino-americanos, um grupo de estudos coreano-brasileiro e alunos de boxe da favela do Moinho.

Fundado em 1953 pela comunidade judaica que se mudou para o Bom Retiro após a Segunda Guerra —e que depois foi acompanhada por imigrantes de países como a Coreia do Sul e a Bolívia—, o centro integra uma lista com mais de uma dezena de equipamentos culturais que se espalham pela região.

“A casa é produto de um Bom Retiro que talvez não exista como na época em que foi criado, e isso não é um problema, é uma continuação. Vamos do antigo ao novo, do judaico ao diverso, das artes ao social. Estamos dentro dessas fricções, mas, quando você vai lá, tudo se resolve”, diz o diretor, Benjamin Seroussi.

Fechada para o público desde março do ano passado, com reabertura prevista para agosto com uma exposição de Noa Eshkol, a casa se voltou ainda mais para o seu entorno na pandemia.

“Já tínhamos ações, mas reparamos que ficávamos muito no discurso. Então acolhemos ONGs, criamos uma rede com instituições parceiras, da Osesp a pessoas que trabalham com dependentes químicos. Começamos a fazer sabão com óleo doado pelos restaurantes da região. Hoje sim posso dizer que temos relações fortes com o bairro”, conta.

Do lado de fora , os encontros seguem a todo vapor, apesar da Covid-19. Não só na Três Rios, eleita como uma das ruas mais legais do mundo pela revista britânica Time Out, mas em todo o bairro, definido por Seroussi como o mais cosmopolita da capital.

Na caminhada que conecta a Casa do Povo a outros locais que também retomam as atividades a passos lentos, como a Oficina Cultural Oswald de Andrade e o Museu da Arte Sacra, uma lojinha de bolivianos vende imagens hinduístas na frente de uma igreja e um destilado coreano divide as prateleiras com cachaças nacionais em um mercado.

“O Bom Retiro tem essa dimensão múltipla e muito forte. Depois dos judeus e coreanos vieram os bolivianos, os paraguaios, os africanos. É um bairro de identidade étnica mutante”, afirma Sarah Feldman, professora do Instituto de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de São Paulo em São Carlos, no interior paulista.

A pouco mais de cem metros da Oswald de Andrade, sede da São Paulo Companhia de Dança e de um café colombiano, o Memorial da Imigração Judaica marca o local da primeira sinagoga do estado, fundada em 1912. A dez minutos está o Sesc Bom Retiro.

Mas é na rua José Paulino que está o burburinho. Por ali, enquanto um homem canta músicas brasileiras, centenas de pessoas compram roupas feitas em todas as partes do mundo. É caminhando por lá que se chega ao parque da Luz, que tem em seu entorno alguns dos espaços mais conhecidos da cidade, como a Pinacoteca, o Memorial da Resistência e a Sala São Paulo. Também fica por ali o Teatro de Contêiner Mungunzá.

Enquanto funcionários dão os retoques finais no Museu da Língua Portuguesa, que volta a funcionar em 1° de agosto, pessoas circulam pela estação de trem que foi a porta de entrada dos imigrantes que compõem o Bom Retiro.

Segundo Feldman, a transformação da região em polo multicultural se deve justamente a essa mistura. “Pela proximidade do centro, grupos diferentes se instalaram no bairro”, afirma. A preocupação de Feldman —também na diretoria da Casa do Povo— e de Benjamin Seroussi, no entanto, é não deixar o lado cult afastar o bairro de quem o mantém. “Não se pode esquecer do pessoal que mora em condições precárias, dos trabalhadores.”

Seroussi diz que os espaços do entorno olham cada vez mais para isso. “Acho que há um desejo das instituições de trabalhar melhor com o bairro”, afirma. O objetivo, para ele, não é só levar o Bom Retiro para dentro dos ambientes descolados. É olhar para fora.

O que visitar na região

Casa do Povo - r. Três Rios, 252, Bom Retiro, tel: 3227-4015. Seg. a sáb.: das 11h30 às 17h para participantes de atividades da casa. Programação: casadopovo.org.br

Memorial da Imigração Judaica - r. da Graça, 160, Bom Retiro. Seg. a qui., das 9h às 17h. Sex. das 9h às 14h. Agendar visita em (11) 3331-4507. Grátis

Museu da Língua Portuguesa - pça da Luz, s/n°, Luz. Ter. a dom., das 9h às 16h30. Ingressos antecipados em bileto.sympla.com.br/event/68203. R$ 20. Grátis ao sábados e para crianças de até sete anos. A partir de 1°/8

Memorial da Resistência - lgo. General Osório, 66, Santa Ifigênia, tel. (11) 3355-5910. Qua. a seg., das 10h às 18h. Programação e reserva de ingressos em memorialdaresistenciasp.org.br. Grátis

Museu de Arte Sacra - av. Tiradentes, 676, Luz, tel. (11) 3326-3336. Ter. a dom., das 11h às 17h. Ingressos: R$ 6 em bileto.sympla.com.br/event/66614/d/103731

Oficina Cultural Oswald de Andrade - r. Três Rios, 363 - Bom Retiro. Seg. a sex., das 12h às 16h. Agendamentos com até 24h de antecedência pelo Whatsapp (11) 94343-9338

Pinacoteca Luz - pça. da Luz, 2, Luz, tel. (11) 3324-1000. Pinacoteca Estação - lgo. General Osório, 66, Santa Ifigênia, tel. (11) 3335-4990. Qua. a seg., das 10h às 18h. Programação e reserva de ingressos em pinacoteca.org.br

Sala São Paulo - pça. Júlio Prestes, 16, Campos Elíseos, tel. (11) 3367-9500. Programação em salasaopaulo.art.br

Sesc Bom Retiro - al. Nothmann, 185, Campos Elíseos, tel. (11) 3332-3600. Fechado para o público. Empréstimos da biblioteca: sescsp.org.br/programacao/223293_BIBLIOTECA+SESC+BOM+RETIRO

Teatro de Contêiner Mungunzá - r. dos Gusmões, 43, Santa Ifigênia, tel. (11) 97632-7852. Somente com programação online no Instagram @teatrodeconteiner

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