Casa Califórnia, lanchonete tradicional que faria 98 anos, fecha as portas no centro de SP

Casa mantinha o costume de montar sanduíches com linguiças de Bragança Paulista

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São Paulo

Uma pequena lanchonete fundada há quase cem anos no centro de São Paulo sobreviveu a diferentes crises econômicas, a mudanças na administração, a trocas de prefeitos, governadores e presidentes e à degradação da região central da cidade. Mas não à pandemia de Covid-19.

O coronavírus e a crise gerada pela quarentena deu fim à história da Casa Califórnia, endereço que faria 98 anos e que ficou conhecido pelos sanduíches feitos com linguiças de Bragança Paulista, no interior do estado. O ponto teve as atividades encerradas há cerca de um ano.

Fachada da antiga Casa Califórnia, na rua São Bento, fechada em junho de 2021 - Nathalia Durval/Folhapress

Fundado na rua São Bento em 1924, o espaço surgiu como uma mercearia de secos e molhados. Os produtos eram importados principalmente da Califórnia, nos Estados Unidos —por isso o nome. O sanduíche feito com a tradicional linguiça bragantina apareceu por lá apenas na década de 1960, muito antes de o embutido ser gourmetizado e pipocar nos cardápios dos bares e restaurantes paulistanos.

A tradição foi mantida até os anos 1990, quando o endereço mudou de gestão e acabou se tornando uma lanchonete qualquer. Até que, em 2012, o comerciante Carlos Kley comprou o ponto e resgatou a receita feita com linguiças artesanais de produtores de Bragança Paulista, cidade do interior de São Paulo conhecida como a capital da linguiça.

A lanchonete era frequentada principalmente por trabalhadores da região. Antes da pandemia, o dono já vinha encarando outras dificuldades, como o aumento do preço do embutido e a queda do movimento, mas a crise da Covid agravou a situação.

"Fechamos por três meses. Depois a gente tinha que funcionar com horário reduzido, com aluguel caro e sem cliente, porque todos estavam de home office", diz Kley. "Fechei com muitas dívidas, a pandemia foi só a pá de cal. Sem ajuda do governo estadual, não tinha mais como prosseguir."

Com dificuldade de manter a lanchonete, que contava com s ete funcionários, Kley decidiu baixar definitivamente as portas em junho do ano passado. No lugar do letreiro, há uma placa de aluga-se. O espaço está vago desde então.