Shoshana Delishop, último restaurante judaico do Bom Retiro, é reaberto com clima de boteco
Endereço clássico de SP volta a funcionar reformado e com menu que equilibra tradição e novidades
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"Comprei o restaurante porque não sabia o que dizer ao telefone. Foi um ato de pura covardia." É dessa forma que o sociólogo Benjamin Seroussi, diretor artístico da Casa do Povo, explica a sua recente e inesperada entrada no ramo da gastronomia.
Seroussi e os amigos Ines Lafer e Arthur Hirsch são os nomes à frente da operação de salvamento da Adi Shoshi, último restaurante clássico de cozinha judaica do Bom Retiro, na região central de São Paulo.
Chamado também de Shoshi, Shoshana ou só de Delishop, o espaço estava prestes a fechar as portas e foi salvo pelo gongo –inaugurada em 1991 pelo casal Adi e Shoshana Baruch, a casa vai reabrir oficialmente como Shoshana Delishop no próximo dia 18 de agosto, ainda em esquema de soft opening. A reinauguração para valer mesmo é só no dia 25.
Os novos proprietários, que se uniram a outros 22 investidores numa vaquinha, prometem uma mistura bem dosada de renovação e tradição. As entradas frias, mantidas como destaque do cardápio, serão expostas no antigo balcão da fundadora, que foi inteiramente reformado. "A restauração custou mais caro do que um balcão novo e deu muita dor de cabeça", confessa Seroussi.
As receitas originais foram compartilhadas com a chef e pesquisadora Clarice Reichstul, da Paca Polaca, que agora assina o menu. Fred Caffarena, primeiro contratado para a empreitada, desistiu do projeto no ano passado.
Reichstul imprimiu seus toques pessoais com cautela, ela diz. O famoso pudim de leite de Shoshana foi mantido, assim como a língua com varenikes, pasteizinhos recheados de batata. O menu segue sem pratos de carne suína, em respeito à tradição judaica, mas ela abriu espaço para outras influências.
"Quis mostrar a comida judaica da diáspora, que inclui receitas do leste europeu e também do Oriente Médio", explica.
No salão reformado, com novas mesas e uma coleção de fotos de Cristiano Mascaro retratando a rua José Paulino, outro clássico do Bom Retiro, o clima será mais descontraído. A ideia é tomar emprestada a informalidade dos bares paulistanos para criar um autêntico boteco judaico.
Não por acaso, a cozinha no dia a dia ficará nas mãos de Graziela Tavares, sócia do Bar Sabiá, na Vila Madalena. Já Günter Sarfert assina a carta de drinques. "Teremos muitas entradinhas para tomar com cerveja de 600 ml, além de pratos para compartilhar", diz Reichstul.
Arenque temperado com cebola e pimenta-da-jamaica, pasta de abóbora com pimenta harissa servida no pão pita e schnitzel de frango ou de berinjela figuram na lista de aperitivos. Na seção de sopas, estão o borscht de beterraba caramelizada com creme azedo e o kneidalach, bolinhos de matzá em caldo de galinha ou de cogumelos.
Oferecer um bom número de receitas veganas foi outra preocupação da nova administração. Sinal dos tempos. "Vamos servir comida judaica jovem. Tenho apego à minha história, mas estou no Brasil de 2022. O último restaurante judaico do Bom Retiro não poderia morrer, mas não precisa ficar parado no tempo. Não vou desconstruir receitas, mas adotar um olhar mais contemporâneo", continua a chef.
No primeiro mês, a casa funcionará em horário reduzido, com almoço de terça a sábado, a partir das 11h30, e brunch aos domingos, das 10h às 16h –como o restaurante é cercado de atrações culturais, os sócios apostam que o misto de café da manhã e almoço pode atrair o público de outros bairros.
Happy hour, por enquanto, somente às sextas, quando ocorre o Boteco do Shabat. Como se trata de uma noite especial na semana judaica, o restaurante será decorado com toalhas brancas bordadas e entrarão em cena pratos tradicionais, como gefilte fish frito e canapé de língua –os clientes vão receber matzá para a reza e um copo de vinho. O objetivo, porém, é ampliar o horário noturno gradualmente, ainda sem data marcada.
Os atuais sócios explicam que Shoshana e seu filho, Nir, que cuidava da cozinha, só não entraram no novo projeto porque não quiseram –o marido dela, Adi, morreu no ano passado. Mas uma espécie de supervisão informal está garantida por contrato. "A Shoshana mora do andar de cima, não teria como ficar longe. Ela aprovou todos os pratos e participou ativamente de tudo", avisa Seroussi.
Ainda assim, o restaurateur estreante diz estar preparado para críticas e ter certeza de que os mais saudosistas vão estranhar as novidades. "Onde há dois judeus, há três opiniões. Vou instituir um livro de reclamações e lidar com elas com humor judaico. Espero que as pessoas venham, reclamem e voltem."