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Rodas de samba e pagode LGBTQIA+ ganham força em SP; saiba como visitar

Grupos reivindicam espaço na história dos gêneros e ocupam novos endereços na capital

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São Paulo

É fim de tarde de domingo e um grupo de sete mulheres se senta na porta do Bandeira Bandeira, bar que ocupa há oito meses o número 81 da rua Souza Lima, na Barra Funda. Há uma mesa com copos de cerveja e os instrumentos estão em mãos —o Molhar as Palavras está pronto para emendar hits de pagode e samba com o reforço de um público que, ao longo da noite, preenche a calçada e a rua inteira.

Só mulheres lésbicas comandam o grupo, e o público que acompanha é formado, em sua maioria, por pessoas da comunidade LGBTQIA+, especialmente das letras L (lésbicas) e B (bissexuais), público cativo do bar. O retrato não é inédito, mas ilustra um movimento que ganha força.

Grupo Molhar as Palavras posa no Bandeira Bandeira; da esq. para a dir.: Laura Nakel, Gabriela Narciso, Amanda Oliveira, Priscila Alves e Silvia Acar - Adriano Vizoni/Folhapress

Agora, a cena se multiplica em outros endereços da cidade, como o Viko’s Bar, também na Barra Funda, o Sirigoela, no Bexiga, e A Ribeira, no Campos Elíseos, além do Bandeira.

"Sambas de mulheres, como o Samba de Elis, no Butantã, existem há muito tempo, são movimentos super fortes e antigos", diz Silvia Acar, que toca pandeiro no Molhar as Palavras. "Mas eu acho que o que mudou, com os grupos lésbicos, foi o contexto. As pessoas querem se sentir seguras e falar ‘esse lugar é de sapatão, a gente tá sentada na mesa na rua, não estamos mais do lado de dentro".

O grupo, criado por mulheres que jogavam futebol juntas e saíam depois dos treinos para tocar música, decidiu se tornar, no fim de 2021, uma roda de samba oficial —que viria a ser escalada para aniversários, festas e bares, até lotar o Bandeira Bandeira.

"O rolê de música sapatão sempre teve essa vertente de celebração e de ficar muito à vontade, e acho que o pagode também carrega essa coisa despretensiosa, de estar ok com o erro", explica Ana Laura Miotto, uma das sócias do bar, que convidou a roda para tocar no local pela primeira vez em setembro de 2022.

"Foi tudo muito orgânico, feito por pessoas que se conheciam e tinham vontade de passar um domingo ouvindo um pagodinho, mas também tinham muita vontade em fomentar uma coisa feita por mulheres". O projeto pegou e, para este ano, Miotto se une a Renata Corr, criadora da festa e bloco de Carnaval Desculpa Qualquer Coisa, para tirar as rodas do bar e levá-las para locais maiores.

Priscila Alves, bandolinista do Molhar as Palavras, consegue ver uma conjunção de fatores que fez com que, nos últimos anos, rodas semelhantes fossem criadas e passassem a ocupar tanto os lugares que já nasceram para a comunidade LGBT+, como o Bandeira, quanto aqueles normalmente dominados por um público mais masculino e heterossexual —o que, segundo ela, é reflexo do próprio universo do samba e do pagode.

"São muitas variáveis. É a saída da pandemia com uma vontade de recuperar essa liberdade que nos foi tomada por um período, o momento político que estávamos vivendo, que fez com que essa voz forte das minorias, incluindo a LGBT, tivesse uma visibilidade maior, e também a vontade que esse grupo sempre teve de encontrar lugares mais seguros e acolhedores para ir."

Para a cantora Dessa Brandão, que tem uma roda própria, o fato de mulheres serem normalmente menos incentivadas pela família a tocar instrumentos musicais ajudou a frear a presença feminina no gênero.

Simone Mello, integrante do As Sambixas, grupo de samba LGBT+ iniciado por Gustavo Reis logo antes da pandemia, em 2019, concorda. "Além de musicistas nós somos mães, donas de casa. É um monte de coisas que nos são impostas e muitas vezes não são escolhas", conta. "Então estamos aproveitando essa brecha para nos expor sem medo em um país que ainda não é um lugar tão acolhedor para pessoas LGBT+. É como sair de outro armário".

É um processo que parece se retroalimentar —mais rodas de samba e pagode tocadas por pessoas deste universo aparecem e mais espaços para recebê-las são criados ou ocupados. O resultado é um movimento, e, em escala nacional, o lançamento do "Numanice", projeto de pagode de Ludmilla, em 2021, parece vir tanto como um reflexo quanto como uma ferramenta para agitá-lo ainda mais.

"Eu fico emocionada cantando um pagode dos anos 1990, mas aquilo não é sobre mim, aquele amor não é sapatão ou gay, é hétero. Não existe letra para a nossa visão de mundo. Quem vai escrever para a gente?", questiona Dessa. "A Ludmilla viu essa lacuna e botou uma luz em algo que já estava acontecendo, que é a nossa maneira de existir e amar".

Acompanhe o circuito de samba e pagode LGBTQIA+ em SP

Molhar as Palavras - agenda em Instagram @molharaspalavras.samba

Dessa Brandão - agenda em Instagram @dessabrandao_


As Sambixas - agenda em Instagram @sambixas

Bandeira Bandeira - r. Sousa Lima, 81, Barra Funda. Instagram @bandeirabandeirabar

Sirigoela - r. Treze de Maio, 70, Bexiga. Instagram @casasirigoela

VIko’s - r. do Bosque, 1651, Barra Funda, Instagram @vikos.bar

A Ribeira - al. Ribeiro da Silva, 909, Campos Elíseos, Instagram @aribeirabar