Conheça o samba do Aguidá, que lota bar no centro de SP com roda gratuita aos sábados

Grupo que se apresenta no Anexo Godê usa dinheiro doado pelo público em prol da solidariedade

São Paulo

Gente como Beth Carvalho e Cartola empresta o rosto para decorar as paredes do Anexo Godê, um bar novo nos Campos Elíseos, no centro de São Paulo. E é neste cenário marcado por grandes nomes do samba que a casa recebe, todos os sábados, a roda do Aguidá.

O evento começa tímido, lá pelas 17h, mas já está fervendo por volta das 19h. Neste momento, a casa está tão cheia que chega a ser difícil conseguir mais uma cerveja gelada. Ao fim do segundo intervalo, o público já excede a capacidade do local e ocupa totalmente a calçada, além de parte da rua.

Três homens negros estão sentados ao centro de roda de samba com vocais, cavaquinho e pandeiros. Ao fundo, público diverso canta junto com os músicos.
Com três anos de estrada, o samba do Aguidá é formado por amigos e faz apresentação todos os sábados no Centro de SP - Gabriel Cabral/Folhapress

Formado por um grupo de amigos em 2019, o samba do Aguidá recebeu o nome em homenagem a um objeto de barro de origem africana parecido com um vasilhame usado para entregar oferendas a orixás. Durante as apresentações, o artefato é usado para receber dinheiro depositado pelo público.

"Queríamos fazer uma roda de samba diferente, daí esse nome. Acumulamos o que recebemos e, no fim do ano, escolhemos uma instituição que receberá a quantia. As pessoas colocam o dinheiro dentro do aguidá, como se fosse uma oferenda, e doamos", diz Tiago Campos, 40, um dos fundadores do grupo.

Oito cadeiras de rodas foram compradas pelo grupo para instituições infantis até o momento e, no último ano, a quantia arrecadada com o samba serviu para um colega dos integrantes reconstruir a casa. "O aguidá tinha uma grana e doamos para um amigo que teve a moradia incendiada", conta Campos.

Além do aguidá, a mesa usada para apoiar os instrumentos também recebe itens como uma espada-de-são-jorge e uma pequena escultura do santo com o mesmo nome da planta. "São os nossos elementos de proteção", declara Campos.

Apesar dos elementos que remetem a religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé, o pessoal do grupo afirma não ter religião específica e que acolhe todos os credos. "O Aguidá não faz parte de nenhuma religião, cantamos para trazer energia paro pessoal", diz Parrera de Jesus, 35, também do grupo.

"Eu mesmo pego os papeizinhos depositados no aguidá, levo a algumas igrejas depois e peço oração", afirma.

Assim como clássicos como "Trem das Onze", de Adoniran Barbosa e "Ogum", de Zeca Pagodinho, canções autorais também integram o repertório e ajudam a embalar o público até o fim da roda.

"Separamos as músicas, mas isso muda conforme o público. A gente vai sentindo a noite e vai mudando o estilo do samba, sempre mesclando. Mas sempre tocamos samba porque é o que tem a ver com a nossa herança", diz Jesus.

O terceiro integrante do Aguidá, Wagner Justino, 41, reforça a ideia de manter o gênero como principal do grupo. "Não temos nada contra pagode, mas não é o que sabemos tocar. Então só tocamos samba e sempre buscamos quem toque isso", diz. O grupo tem três membros fixos e outros três rotativos.

O grupo só abre exceção para o pagode se algum convidado puxar o ritmo. "Pode ser que algum participante chegue e cante, aí vamos tocar normalmente", diz Campos. Artistas como Tereza Gama, do Clube do Balanço, e Raquel Tobias, são algumas das que já passaram pela roda.

Apadrinhados pelo dueto Prettos, do quinteto Preto em Branco, o samba do Aguidá começou a se apresentar no Godê, o bar adjunto ao Anexo, no início do ano. "Fizemos um samba aqui e não nos deixaram sair mais", diz Justino. O Anexo, por sua vez, abriu as portas em setembro —já com a roda de samba na agenda.

Os músicos estimam que cerca de 900 pessoas passem pelo local todos os sábados. E, como é regra, o Aguidá se apresenta no Anexo Godê neste dia 17. A entrada é gratuita e a dica é chegar cedo para aproveitar a feijoada do vizinho Godê.

Samba do Aguidá

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