Cemitério de Automóveis renasce em novo teatro no centro de SP após fechamento
Depois de encerrar atividades, espaço conhecido da cena alternativa paulistana volta a funcionar
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Ele foi, mas já voltou. O Cemitério de Automóveis, tradicional teatro da cena alternativa de São Paulo, retoma as atividades em uma nova sede e reabre seu palco ao público neste sábado, dia 9.
O local, que abrigava uma sala de espetáculos, um boteco e até uma livraria, fechou as portas em janeiro na rua Frei Caneca, na região central de São Paulo, onde funcionou por quase dez anos.
O escritor e dramaturgo Mário Bortolotto, que fundou e dirige o Cemitério de Automóveis, anunciou na época que o imóvel seria devolvido ao proprietário, que havia pedido as chaves. O teatro estava sem funcionar desde março de 2020 por causa da pandemia de Covid-19.
A boa notícia é que as as cortinas ficaram pouco tempo fechadas. O espaço mudou-se para o número 155 da rua Francisca Miquelina, na Bela Vista, a menos de um quilômetro da sede anterior. A má noticia é que o novo endereço deve funcionar somente como teatro, sem o conhecido bar que reunia atores, músicos e cineastas no balcão até altas horas da madrugada.
O retorno foi possível por causa de uma lei de fomento, que aprovou o projeto "Submersivos - Um Mergulho nos 40 Anos do Grupo Cemitério de Automóveis", que vai revisitar as quatro décadas do grupo em uma programação cultural.
Serão apresentadas, nos próximos meses, peças de teatro, leituras dramáticas e mostras de cinema com obras produzidas a partir de trabalhos de Bortolotto, além de cursos e oficinas. Parte das atividades serão gratuitas, enquanto os espetáculos terão ingressos a preços populares, dizem os organizadores.
Entre os espetáculos confirmados, entra em cartaz "Vivendo com Crocodilos", nova montagem de Bortolotto. Serão apresentados também "Nossa Vida Não Vale um Chevrolet", que rendeu ao dramaturgo um prêmio Shell em 2000, "Killer Joe", texto do americano Tracy Letts, e "Oeste Verdadeiro", escrito por Sam Shepard.
O evento de abertura ocorre a partir das 14h deste sábado (9) e vai contar com a exposição "Impróprios", que reúne ilustrações e rascunhos do desenhista Carcarah, que também é ator da companhia, produzidas durante a quarentena.
Essa é a terceira sede do grupo, que foi fundado em Londrina em 1982 e está em São Paulo desde meados dos anos 1990. Antes da pandemia, o espaço já encarava dificuldades para manter as portas abertas. Em novembro de 2019, o Cemitério lançou um financiamento coletivo para arrecadar R$ 20 mil e, assim, impedir o fechamento.
Mas desde que chegou à capital paulista o Cemitério se consolidou como reduto de dramaturgos do circuito independente, além de poetas, atores, cineastas, músicos e gente do circuito underground. As referências aos beatniks e às tirinhas de Angeli marcaram desde cedo o tom ácido, crítico e irreverente do local. O mundo suburbano e os personagens marginalizados sempre foram os principais temas das peças.
"São essas figuras deslocadas que me interessam, que me fascinam. Acho que escrever sobre gente rica e feliz não dá uma dramaturgia boa, e não estou interessado nessas pessoas", disse o diretor à Folha em 2012 —dez anos antes de abrir a terceira sede da companhia.