Saltitante, uma mão que flutua estala seus dedinhos e dança animada. Logo depois, uma das famílias fictícias mais conhecidas surge no palco, celebrando o Dia dos Mortos. São os Addams, personagens que muito provavelmente você já teve ter visto em filmes, desenhos e séries.
Excêntricos, assustadores e divertidos, eles protagonizam uma nova montagem do musical que há dez anos virou febre no Brasil e, agora, está de volta, a partir desta quinta (10), no teatro Renault, em São Paulo.
Ainda que novamente seja estrelado por Marisa Orth e Daniel Boaventura, "A Família Addams" está de cara nova. Há cenários repaginados, figurinos diferentes, piadas atualizadas, músicas reformuladas e outras coreografias.
Na opinião de Orth, a nova versão é mais engraçada, brasileira e sensual. "Tem mais ‘sex appeal’. Na primeira montagem, por exemplo, a Mortícia não beijava o Gomez, mas agora sim", diz a atriz, referindo-se à sua personagem e ao de Boaventura, que diz concordar sobre a estética ser mais sexy. Nas palavras dele, a peça está mais picante, cheia de "piadas sapecas".
Ainda na linha das diferenças entre as duas versões —a primeira foi dirigida pelo americano Jerry Zaks, enquanto esta nova está nas mãos do italiano Federico Bellone—, o musical está mais enxuto.
Mas o investimento em efeitos visuais seguiu na direção contrária e cresceu, desde o letreiro gigante com o nome do espetáculo sobre as cortinas até os quadros de fotos que se mexem à lá "Harry Potter" nas paredes da clássica mansão dos Addams.
A mansão, aliás, é um dos grandes fascínios do musical. Gigante, a casa de oito metros e meio fica centralizada no palco e gira conforme os cômodos aparecem em cada cena.
A história se desenrola a partir da série de quadrinhos do cartunista Charles Addams, a mesma que já inspirou séries de TV, animações e filmes dos anos 1990, um deles até indicado ao Oscar de melhor figurino.
Nesta volta aos palcos, os personagens vivem um dilema familiar depois que a filha do casal, Wandinha (Pamela Rossini), se apaixona por um jovem perfeitinho, com pinta de bom moço e filho de pais "gratiluz", como os próprios Addams apelidam o rapaz —justamente tudo aquilo que Mortícia e Gomez jamais sonharam para a filha, ensinada a se jogar em malvadezas desde pequena e um poço de acidez e sarcasmo.
O musical estreou na Broadway em 2010, mas não cativou o público nem a crítica de Nova York. A recepção brasileira, porém, foi bem diferente —aqui, a primeira adaptação internacional do espetáculo foi um sucesso de audiência.
Orth atribui a diferença ao sutil deboche que "A Família Addams" faz do famoso "American way of life" —ou o estilo de vida americano. Para ela, essa foi a razão para o musical ter conquistado uma legião de latinos, mas não ter alcançado o mesmo desempenho entre os americanos.
"É relaxante poder falar sobre morte, nojo, bichos escrotos e maldadezinhas", diz Orth. "A gente tem prazeres agressivos. Todo mundo tem um pouquinho de Addams dentro de si."
Para a atriz, a história também passa uma mensagem inclusiva, que conversa com os tempos atuais, como se erguesse a bandeira de que não há nada de errado em rir do que não é puro e dispensasse hipocrisias sobre conceitos de bom e mau.
"Eles são estranhos, mas qual família não tem nada de esquisito?", afirma Boaventura, rindo das possíveis semelhanças entre as pessoas do mundo real e os personagens da história, que amam ficar doentes, bater uns nos outros e expor seus desejos sexuais sem nenhum pudor.
Dá até vontade de ser um Addams.
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