Descrição de chapéu Análise dinossauro
Criança

Jantar tem desfile de dinossauros, crianças em surto e preços de boate de strip-tease em SP

No 'Jurassic Safari Experience', dinos andam entre hambúrgueres e batatas fritas congeladas

A ida ao espetáculo interativo "Jurassic Safari Experience", em pleno domingo de Páscoa, encerra uma trilogia de furadas infantojuvenis na companhia do Pedro, meu filho e assistente de nove anos. Antes, fomos à lanchonete temática Jurassic Park Burger Restaurant e a uma peça envolvendo ETs com serviço de jantar, chamada "Aliens Experience".

O tal safári jurássico junta as duas coisas.

As réplicas de dinossauro vão circular por entre mesas, cadeiras e pratos de comida no estacionamento do shopping VillaLobos, onde foi montado o 'Jurassic Safari - Diner Experience'
Réplicas de dinossauro no 'Jurassic Safari Experience', em São Paulo - Camila Cara/Divulgação

Numa tenda armada no estacionamento do Shopping VillaLobos, na zona oeste de São Paulo, dinossauros desfilam entre mesas ocupadas por crianças que oscilam entre o pavor e os surtos de euforia. Aos adultos acompanhantes, cabe pedir comidas e bebidas num cardápio baixado no celular por código QR.

Ao comprar o ingresso pela internet, entendi de imediato que se tratava da mesma trupe responsável pelo evento alienígena, cuja comida era cara, gordurosa e feita com produtos industrializados, como nuggets congelados e pasta cor de laranja sabor cheddar.

Comigo não, violão. Não de novo. Escolhi a sessão das 17h. Provaria os alimentos por dever profissional, mas poderia jantar algo gostoso mais tarde.

Apesar do horário inusitado para uma "experiência de jantar", cerca de metade das mesas estão ocupadas. O sistema de som convida todos a fotografar e a filmar o espetáculo –e a marcar o perfil do evento nas redes sociais, para que eles pudessem republicar.

A voz também aconselha a pedir entradas e bebidas antes do início do show, deixando o prato principal para mais tarde. Foi o que fiz.

Abro a tela do celular e vou à seção de entradas, que oferece apenas batata frita e nuggets. Eu já havia me dado mal com os nuggets (R$ 38), então opto pela batatinha (R$ 30), "sequinha e crocante, não tem erro!", na descrição do cardápio.

E cerveja, é claro, a R$ 18 a long neck. O preço é de boate de strip-tease ou aeroporto, mas um pai também precisa de distração na Páscoa reptiliana.

"Deseja fazer o pedido agora?", pergunta o aplicativo. Sim, por favor. "Você não tem crédito suficiente". Como? O robô dinossauro andou pesquisando meu CPF no Serasa? Faço um Pix, e as fritas chegam à mesa em coisa de um ou dois minutos, assombroso.

Como já suspeitava, era batata congelada industrial. Curiosamente, alguns palitos estavam bem quentes, enquanto a maioria se encontrava quase em temperatura ambiente. Isso acontece quando se prepara de antemão uma quantidade enorme de comida, em várias bateladas que são misturadas depois.

Em meio aos garçons, surge um sujeito com o mesmo uniforme deles –chapéu, camisa e bermuda, tudo em lona cáqui– falando num microfone acoplado à cabeça. É o único personagem humano da história, uma trama bem simplona.

O sujeito se identificou como Mike, um paleontólogo inventor de uma máquina do tempo capaz de trazer dinossauros extintos. A "máquina" é uma porta nos fundos da tenda, de onde saem os dinossauros –na verdade, fantasias de borracha ocupadas por uma ou duas pessoas, a depender do tamanho do bicho.

O enredo se desenrola mais ou menos como um desfile de misses. A cada abertura da porta, uma espécie diferente percorre a passarela –Triceratops, estegossauro e até o temido tiranossauro rex–, enquanto o mestre de cerimônia Mike recita as características do lagarto em questão.

As crianças gostam e acompanham o líder. Hora de deixar minha rabugice de lado e prestar a atenção no Pedrão.

Ele corre, bate na mesa, grita e se finge de estátua para iludir um dinossauro meio tonto que só reconhece as presas quando elas se movem. O ator controla bem as crianças em êxtase –por pelo menos três vezes, frisa que elas não devem bater nos dinossauros. Alguns pequenos choram de medo.

Enquanto o filhote saltita e ricocheteia, eu peço o prato principal para ele. Pedro escolheu nhoque à bolonhesa (R$ 59), pois o hambúrguer do show dos aliens não lhe agradara. O prato chega enquanto ele segura pelo rabo um parassaurolofo ou coisa que o valha.

Aproveito sua ausência para provar o nhoque. Sem surpresa, parece um prato de praça de alimentação de shopping, com massa compacta e molho de tomate com a acidez corrigida na base do açúcar e pouquíssima carne.

Pedro volta para a mesa e some outra vez. Some também a comida. A passarela dos dinos está livre de crianças. Diabo, onde foi parar esse pivete? Está comendo embaixo da mesa para se esconder de algum predador extinto. Logo desaparece de novo, e o nhoque continua a esfriar.

Eis que a peça termina antes que meia porção de massa tenha sido devorada. "Você não gostou muito, né?", pergunto a ele. "Achei um pouco pesado." O moleque foi elegante e político em sua crítica.

Preparo-me para picar a mula dali –tudo fora pago antecipadamente–, mas Pedro tem um pedido final. Quer um milk-shake de chocolate (R$ 31) com marshmallows coloridos. Digo que não dá mais para pedir. O garçom se mete no papo e diz que dá, sim. Beleza, é Páscoa, tome mais chocolate.

Depois, no corredor do shopping, enquanto Pedro encara o milk-shake, nós conversamos sobre a peça. Ele me fornece informações cruciais. O enredo é praticamente igual ao de um show de dinos que ele viu com a mãe, no estacionamento de outro shopping. As fantasias também parecem ser as mesmas.

Mas esperar o que de um show jurássico? Material inédito? A última novidade que aconteceu aos dinossauros foi o meteoro que os varreu da superfície da Terra.

Jurassic Safari Experience - Diner Adventure

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