Descrição de chapéu LGBTQIA+
Bares e noite

Conheça o Bar da Bete, que atrai anônimos e famosos como Gaby Amarantos até de manhã

Casa inaugura novo endereço após 15 anos e se transforma em reduto LGBTQIA+ no centro de SP

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São Paulo

Quem é acostumado a caminhar pela larga calçada na avenida São João, no centro de São Paulo, viu o número 1.145 —onde era o tradicional restaurante Pasv— ficar mais agitado na noite de quinta passada, dia 18. Um mar de mesas amarelas espalhavam-se rodeadas por pessoas em pé, música alta e gritos de "Bete, vê mais um litrão, por favor?".

Naquele dia foi inaugurado o novo bar Vamo pra Bete, mais conhecido no boca a boca somente como Bar da Bete. Sucesso por ficar aberto até de manhã na rua das Palmeiras, no bairro de Santa Cecilia, o espaço ganhou nova sede, a cerca de 700 metros de distância.

Bete, no novo Bar da Bete, na avenida São João - Gabriel Cabral/Folhapress

"O antigo era pequeno e estava ficando muito cheio, com pessoas na rua, vizinhos reclamando e fiscalização da prefeitura. Então arrumamos outro ponto, maior. Agora, se passar de uma hora da manhã, boto todo mundo para dentro", afirma Bete, que não revela seu nome completo nem por decreto —informações que também são omitida pelos funcionários e pelo marido, Washington, que trabalha com ela no bar.

A anfitriã de 53 anos costuma receber os clientes sempre com um sorriso, lenço vermelho na cabeça, óculos grandes e roupas e acessórios espalhafatosos. Assim que uma nova pessoa entra, ela apresenta cada canto do novo local. Diz que aprendeu isso nos 23 anos em que trabalhou para a empresária Lilian Gonçalves, considerada a rainha da noite daquela região, por ser dona de bares e karaokês na rua Canuto do Val, também no centro da cidade.

"Vim para São Paulo em 1987, com 17 anos. Trabalhei em metalúrgica e como atendente de doceria, até que fui garçonete nos bares da Lilian", conta Bete, que lembra ainda que, naquela época, a lambada estava na moda e, por isso, colocou uma roupa de bailarina do ritmo para pedir emprego no Biroska, um dos bares comandados por Gonçalves. E conseguiu.

Mas o sonho mesmo era abrir o próprio bar. "Juntei todo dinheiro de gorjeta e o restinho de salário que sobrava. Quando aluguei o ponto na rua das Palmeiras, fiquei com medo de a Lilian ter raiva de mim", lembra ela sobre a inauguração do primeiro Bar da Bete, em 2007, quando a bebida chegou a acabar de tão lotado que ficou o lugar na festa de abertura.

Detalhes da roupa e dos acessórios usados por Bete - Gabriel Cabral/Folhapress

A mudança agora para a avenida São João não foi diferente. Além da clientela que varava a madrugada nos 15 anos de funcionamento do outro bar, o novo endereço teve a presença de influenciadores digitais como Bia Gremion e músicos como Gaby Amarantos e Jaloo. "Meu bar sempre foi frequentado por atores, músicos e essa galera da internet. Mas a Gaby foi uma surpresa. Ela chegou e disse que eu sou uma mulher nordestina muito famosa, que tinha que me conhecer."

Mas essa clientela mais conhecida e o público LGBTQIA+ são aparições recentes. "Até 2018 eu trabalhava só com os boêmios da noite, mas sempre dava briga, eles sujavam tudo. Um dia falei para o Washington que queria abrir um bar só para gay e sapatão", comenta a empresária, que diz que seu sonho é ver a cantora Pabllo Vittar sob as luzes de neon do boteco.

Quem conhecia o antigo ponto na rua das Palmeiras percebe que boa parte da decoração foi reutilizada. As namoradeiras —duas bonecas de barro que ficam sobre o balcão— seguem no cenário. Nas paredes, há quadros de flores e borboletas de madeira. Mas o que mais chama a atenção mesmo são duas fotos que cobrem metade de uma parede logo na entrada, com um quê de aleatório: uma mostra a paisagem de uma praia genérica, enquanto a outra exibe a ponte estaiada Octávio Frias de Oliveira, na marginal Pinheiros.

As duas namoradeira que além de estampar o logo do bar, acompanha Bete a 15 anos - Gabriel Cabral/Folhapress

O cardápio foi outra coisa levada do antigo endereço. A caipirinha da casa custa R$ 28, enquanto a cerveja em garrafa de um litro, cujo pedido dos clientes abre este texto, custa entre R$ 16 e R$ 18. Para matar a fome, os caldos verdes e de mocotó e a canja de galinha saem a R$ 25 cada receita.

Mas não são apenas o litrão, a música e a presença da proprietária que explicam por que o bar vive cheio. O endereço tem também um belo empurrão do Instagram, onde o perfil @bar_da_bete viraliza com diferentes memes —de "Betemami", numa referência à capa do disco da cantora Rosalía, a montagens com a cantora Rihanna no local.

O responsável pela página é o ator Rafael Gatto, que conheceu Bete em 2018, quando visitou o bar com amigos numa noite. "Durante a pandemia, com a casa fechada, eu queria ajudar a Bete de alguma forma", comenta Gatto, que diz que o primeiro post a fazer sucesso foi uma deepfake com a Xuxa, técnica usada para substituir um rosto por outro digitalmente.

Foi na internet também que o bar começou a sofrer críticas —de reclamações a acusações de homofobia. Em uma das últimas, um cliente publicou que viu um segurança ter agredido um morador de rua. Bete diz não ter presenciado nenhuma cena do tipo, e o funcionário nega a agressão. Ela afirma que está aprendendo a lidar com o crescimento de pessoas pedindo dinheiro no bar e com o fato de a cracolândia ter se aproximado do endereço. "Mas aqui sempre tentamos ajudar quem está passando necessidade, porque eu passei um dia", diz ela.

Apesar dos cancelamentos online, presencialmente o bar segue atraindo gente. Às 23h de terça, dia 24, apesar do frio, todas as mesas estavam ocupadas.

Bete diz que isso é apenas o começo. "Meu sonho? Ter um filme ou uma série contando a minha história: ‘A Vida da Bete’. Já imaginou? Quero andar por aí com meus amigos gays e cheia de seguranças."

Vamo pra Bete

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