Conheça Shindo Michihiko, japonês que faz sozinho um dos lámens mais disputados de SP
No Brazil Lamen, ele atende por senha, apenas em três dias na semana e só aceita dinheiro
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No bairro da Liberdade, tanto nas galerias quanto na tradicional feira, ninguém perde tempo. O costume na hora de comer é fazer rapidamente o seu pedido e recebê-lo mais rápido ainda, em poucos minutos.
Mas não no Brazil Lamen. Comandada por Shindo Michihiko, a loja, também chamada de Shindo Lamen, serve uma das sopas com macarrão japonês mais disputadas de São Paulo, nos fundos de uma galeria da rua Barão de Iguape.
A cabine de madeira, com luzes pisca-pisca e uma bandeira preta onde está escrito "lámen" no silabário japonês katakana, transmite a aura tranquila do dono tatuado de 50 anos.
O japonês da cidade de Takasaki viajou ao Brasil em 2009, quando experimentou lámen por aqui pela primeira vez —mas não gostou nada do que provou. "Achei que seria gratificante e divertido abrir uma loja de lámen aqui", diz Michihiko, que cozinha desde os 18 anos.
Shin, como é mais chamado, voltou ao país em 2011, quanto até tentou vender a receita por aqui, mas o negócio não foi para frente. Foi há seis anos que ele retornou ao Brasil e implantou seu plano, depois de trabalhar em mais de dez restaurantes no Japão.
No país asiático, antes de entrar no universo da gastronomia, ele ainda chegou a trabalhar com moda e foi vocalista de uma banda. E diz que ainda tem a ideia de fazer uma união entre moda, música e lámen no Brasil no futuro.
No atual endereço na Liberdade há três anos, onde brinquedos de anime e bonecos de gorilas decoram o espaço, Shin divide espaço com lojas que vendem sorvete, churros e frituras. Sempre com uma toalha ao redor do pescoço, ele se desdobra em meio a panelas de alumínio e o vapor da comida quente. Sozinho.
É só ele quem cozinha, serve, recebe o pagamento e, no fim, lava a louça. "Faço tudo sozinho. Não teria como controlar o restaurante sem os bilhetes numerados", explica ele.
Funciona assim: são 40 bilhetes distribuídos por dia, por ordem de chegada. Quem ganha o número faz o pedido e recebe o lámen na ordem da fila. Quando o conteúdo do panelão com a sopa bem temperada acaba, o chef não serve mais nada e interrompe o serviço —mas a quantidade preparada dá conta dos 40 clientes. Além disso, ele só aceita dinheiro. Nada de cartões de crédito ou débito, nem mesmo Pix.
O balcão, com bancos altos para clientes se sentarem, só abre às segundas, sextas e domingos, durante cerca de três horas. No fim de semana, as portas geralmente são abertas ao meio-dia. Nos outros dois dias, às 18h. Mas é no perfil no Instagram que Shin, que mal fala português, avisa quais pratos irá servir e confirma os demais detalhes de funcionamento.
Das panelas, geralmente saem pratos como o Curry Lamen, que vai com caldo de carne e molho curry. Há ainda o macarrão com molho de missô, uma pasta muito utilizada na culinária japonesa, e o que leva camarão. Todos custam R$ 50.
O boca a boca e as redes sociais fizeram com que a procura ficasse grande. Daniel Saito, 24, saiu mais cedo do trabalho na sexta (16), em Cotia, na Grande São Paulo, e foi direto para a Liberdade para chegar cedo ao Brazil Lamen. "Vim correndo, achei que ia acabar rápido", confessou ele, que pegou a senha número um e conheceu o local pelo irmão.
Embora a busca pelas 40 senhas seja agitada, Shin diz não querer aumentar a clientela nem aumentar o espaço. Ele conta que só mudaria de lugar se fosse para algo ainda mais intimista, para servir até dez pessoas, no máximo. E tem uma explicação para isso —a ideia é que os clientes prestem a atenção no que estão comendo.
"Ao comer lámen, acho bom encará-lo", afirma o chef, que diz tentar oferecer mais do que um prato de sopa com macarrão. Como manda a moda, ele define o serviço como uma experiência gastronômica, na qual todos tenham tempo para reparar na cebolinha, que ele usa até o talo, ou no grão-de-bico, por exemplo.
Um de pratos mais vendidos, aliás, é a versão vegana do lámen. "Talvez muita gente pare de comer carne no futuro", justifica ele. Na receita, o cozinheiro usa tapioca, ingrediente brasileiro e vegano que Shin diz ter achado "kawaii" —ou bonitinho, em português. Um de seus sonhos, ele conta, é aumentar a produção de lámen com ingredientes locais e sabores brasileiros.
Enquanto isso não acontece, o japonês segue em sua cabine de madeira mergulhado na tradição. Ele coloca uma música ambiente em sua caixinha de som, cria um clima na galeria, prepara o próximo prato e toca o sininho para que o cliente venha buscar a tigela fumegante.