Descrição de chapéu Crítica crítica de filmes
Cinema

Baseado em história real, 'Poderia Me Perdoar?' é filme de gente feia com boas interpretações

Longa acumula três indicações ao Oscar, incluindo melhor atriz para Melissa McCarthy

São Paulo

Poderia Me Perdoar?

  • Classificação 16 anos
  • Elenco Melissa McCarthy, Richard E. Grant e Dolly Wells
  • Produção EUA, 2018. 107 min
  • Direção Marielle Heller

Para mim, “Poderia me Perdoar?” começa mal, com a inscrição na tela “baseado em uma história real”. Nos dias de hoje, parece quase uma obrigatoriedade, para chamar a atenção dos espectadores, que os filmes venham com esse aposto. Estamos diante de uma extensão dos reality shows? Do Facebook? Dos stories? Não se criam mais boas histórias em Hollywood?

Curiosamente, em certo trecho deste filme inspirado na vida de uma escritora anônima (mas real) chamada Lee Israel, a personagem ouve de sua agente que, para sair da penúria financeira, ela deveria colocar mais de si mesma nas biografias que escreve. “Você precisa fazer sua voz ser ouvida. E tem mais: não pode ser uma escrota desse jeito sendo uma desconhecida”, ensina a profissional literária.

Mas, após esse desconforto momentâneo, o filme começa a chamar a atenção por suas qualidades. A protagonista é uma cinquentona feia que se veste mal e mora em um apartamento insalubre cheio de moscas e cocô de gato. Atualmente, gente feia talvez só seja permitida em filmes baseados em vida real. Cabe unicamente à personalidade da personagem conseguir empatia com o público.

Por mais que tudo pareça apontar contra essa senhora, Melissa McCarthy, indicada ao Oscar de melhor atriz, consegue uma interpretação tão boa que logo estamos suportando a chata da Lee Israel. E torcendo para que seus golpes deem certo.

O filme fica melhor ainda com a entrada de um segundo trambiqueiro, feito pelo ator Richard E. Grant, que também foi indicado ao Oscar, de melhor coadjuvante —uma terceira nomeação ficou com um casal de roteiristas, por melhor história adaptada.

Jack Hock vai auxiliar Lee Israel na sua caça por colecionadores ávidos por missivas históricas. Além disso, ele traz um alívio cômico à depressiva vida de Israel e principalmente a nós, que estamos enroscados nela.

Para completar, a trilha sonora é excelente. Traz jazzes melancólicos de Billie Holiday e outros mais nervosos, do estilo ouvido em “Whiplash” (2014). Consegue misturar isso com a delicadeza desesperada de Lou Reed ou com a porrada sonora dos Pixies, casando perfeitamente com a Nova York dos anos 1990.

Queremos mais filmes de gente feia.

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