Crítica: '50 Tons' é pornô light com trama frouxa e atuações sem talento

Às vezes alguém diz que determinada obra é o retrato de seu tempo. Pode ser ou não um elogio, dependendo da época. No caso de "50 Tons Mais Escuros", a expressão cabe bem. E, como estes tempos, o filme é medíocre.

Baseado no segundo volume de uma trilogia literária aclamada como erotismo para mulheres, tanto o livro como o filme enterram anos e anos de emancipação feminina para tratar leitoras e espectadoras como idiotas.

Assim como o primeiro longa, "50 Tons de Cinza" (2015), é um pornô light, tão sem sentido quanto cerveja sem álcool.

Uma comparação com "Ninfomaníaca", de Lars von Trier, para ficar num exemplo recente, faz de "50 Tons" uma simplória versão meio sem-vergonha dos romances de banca de jornal das séries Bianca e Sabrina. Perversão sanitizada, sadomasoquismo com banho de loja.

50 tons mais escuros
O casal Christian Grey e Anastasia Steele em cena do filme "50 Tons Mais Escuros" - Divulgação

A jovem Anastasia Steele (Dakota Johnson) volta a se envolver com o bilionário e dominador Christian Grey (Jamie Dornan). Ele a procura, ela reluta um pouco, mas aceita voltar a vê-lo.

As promessas iniciais de uma relação menos intensa caem por terra, e as brincadeiras de prazer e dor reaparecem. Desta vez, mais por iniciativa de Anastasia, em cenas de sexo frias e mecânicas. A mocinha retorna mais safada nesta segunda parte, mesmo que continue uma tola romântica enquanto não tira a roupa.

Mas problemas ainda maiores estão fora da alcova. Num roteiro frouxo, Anastasia é assediada por seu chefe e seguida por uma ex-submissa de Grey, perigosamente transtornada.

O irlandês Jamie Dornan nem tem exatamente um personagem a defender. Christian Grey é um boneco Ken fazendo cara de durão. E a americana Dakota Johnson dificilmente vai se livrar do papel da abobalhada Anastasia. Ela enfrenta duas sequências potencialmente dramáticas no filme, e aí se revela desprovida de qualquer talento.

Dakota é também o retrato deste tempo, em que filhos de famosos são levados a sério só porque seus pais têm ou tiveram alguma relevância.

No caso dela, nem tanta relevância. Don Johnson teve brilho fugaz nos anos 1980 por uma série quente de TV, "Miami Vice", e Melanie Griffith só fez dois filmes que prestam, "Totalmente Selvagem" e "Uma Secretária de Futuro".

Aborrecido nas cenas de sexo, bobo no enredo romântico, "50 Tons Mais Escuros" é ainda mais desastroso quando tenta alcançar alguma tensão dramática. Só existe em função de sua bilheteria. Um retrato de seu tempo.

Clique aqui e confira salas e horários.

Avaliação: ruim

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