CRÍTICA: 'Lady Macbeth' é condescendente com personagem fria e amoral

Lady Macbeth  California Filmes  Reino Unido  2016  89 minutos  Dir. William Oldroyd    Elenco:   Florence Pugh  Christopher Fairbank  Cosmo Jarvis    Sinopse  Katherine esta presa a um casamento de c
Florence Pugh em 'Lady Macbeth' - Divulgação


LADY MACBETH (regular) 
DIREÇÃO William Oldroyd 
ELENCO Florence Pugh, Christopher Fairbank e Cosmo Jarvis 
PRODUÇÃO Reino Unido, 2016. 14 anos 
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Esta não é uma adaptação de algum texto shakespeariano, mas o título aponta para o universo do poeta e dramaturgo inglês, para aquilo que a paixão tem de monstruoso, que conduz inevitavelmente à tragédia.

Livremente baseada no romance "Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk" (1865), considerado a obra-prima do russo Nikolai Leskov, a história foi transposta para a zona rural da Inglaterra durante a era vitoriana. O argumento é basicamente o mesmo: as consequências da miséria existencial engendrada pela frustração e pelos maus-tratos na vida de uma jovem, Katherine (Florence Pugh).

Obrigada a se casar com Alexander (Paul Hilton), um latifundiário soturno, violento e bem mais velho, ela não tem o direito de sair de casa, levando uma vida solitária e cheia de tédio. O sogro não é menos rude.

Em meio a esse vazio sufocante, ela cede às investidas de Sebastian (Cosmo Jarvis), o cavalariço. Num primeiro momento, essa atitude pode ser tomada como um gesto de revolta à submissão e à discriminação sexual. A partir daí, Katherine assume seus desejos até as últimas consequências, numa espiral de assassinatos.

Mas a simpatia ou a indulgência que os primeiros crimes podem suscitar –afinal, as vítimas são figuras francamente abjetas e a jovem parece assumir as rédeas de seu destino, subvertendo a ordem social reinante– acabam se esvaindo.

À medida que os atos de violência se sucedem, numa repetição que resulta maçante, Katherine mostra outra face, a da mulher amoral, manipuladora, que se deleita matando ou submetendo inocentes com frieza imperturbável e gozando de impunidade. O potencial transgressor da personagem é um blefe, não vai além do cinismo tingido de êxtase.

Em sua estreia no cinema, o diretor William Oldroyd –que veio do teatro– conta essa fábula de maneira austera, num cenário gélido, o que é um acerto. Mas o olhar que dirige a Katherine é condescendente.

Quando ela elimina suas primeiras vítimas, a câmera privilegia a frontalidade, o rosto da jovem e suas emoções. Mas, quando ataca inocentes, a câmera observa tudo de longe, com Katherine de costas, como se recusasse a ver a indiferença desta.

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