Descrição de chapéu Crítica
Cinema

Com personagens tediosos, filme que retrata cena gay francesa perde o foco

De Christophe Honoré, 'Conquistar, Amar e Viver Intensamente' foi exibido em Cannes

São Paulo

Conquistar, Amar e Viver Intensamente

  • Classificação 14 anos
  • Elenco Vincent Lacoste, Pierre Deladonchamps e Denis Podalydès
  • Produção França, 2018. 72 min
  • Direção Christophe Honoré

Christophe Honoré deu azar: lançou “Conquistar, Amar e Viver Intensamente” em Cannes um ano após outro filme bem mais efetivo, com o mesmo pano de fundo. Assim como “120 Batimentos por Minuto” (2017), de Robin Campillo, o longa mostra a cena gay francesa do início dos anos 1990, quando a Aids era tão assustadora quanto mortal.

Mas o ativismo de Campillo não interessa a Honoré, que põe foco no amor essencialmente burguês de dois homens. Jacques é um escritor quase quarentão, portador do HIV, que sabe estar prestes a perder saúde e beleza: sua decadência (e morte) é questão de tempo.

Já o interiorano Arthur é bem mais jovem e está em Paris atrás de experiências sexuais e de conhecimento. Mas nem a doença de Jacques, nem a diferença de idade e de capital cultural os impede de viver uma história de amor. Com toques trágicos e cômicos.

Desde o início, porém, fica claro que Honoré caiu em uma arapuca: encantou-se demais com os personagens que criou. E exige a todo tempo que o público tenha o mesmo tipo de fascínio por Jacques e Arthur.

Não importa que o primeiro seja um sujeito particularmente arrogante, manhoso e egoísta; Honoré vende tais comportamentos como qualidades de um homem irresistível, dignificado em seu intelectualismo de citações e em seus olhos azuis e dentes perfeitos (sua doença fica até a reboque). Cometa o erro que cometer, deve ser perdoado —e amado.

Mas Arthur não fica muito atrás. Quando trai a namorada para exercer sua homossexualidade, a moça releva, mas não só: praticamente pede desculpas por ter ciúme.

Em sua autoindulgência, o filme perde o foco. Deixa de ser sobre o amor e a sede de vida e se torna um elogio ao charme pessoal. Quem tem está feito; quem não tem, que se dane. Mas o conceito elitista de charme do diretor não necessariamente é o mesmo do público, então há quem veja os personagens apenas como o que são: dois falastrões tediosos.

O filme é mais suportável quando tem Denis Podalydès, como um gay mais velho e gentil. Com ele, um lado bem menos vistoso da vida queer vem à tona: o da solidão de alguém fora dos parâmetros, da decadência não glamourizada para a tela. Fosse ele o protagonista, o longa seria bem mais rico. Mas, no universo fetichizado de Honoré, personagens assim são meros coadjuvantes.

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