Asghar Farhadi tem sido um cineasta de confiança do cinema europeu: nem genial, nem idiota, maneja habitualmente poucos personagens e se resolve com eles. De passagem pela Espanha, em “Todos Já Sabem” as coisas mudam um pouco: ele nos leva a uma pequena aldeia para a celebração de um casamento.
Lá estão Laura (Penélope Cruz) e sua filha Irene, que vêm da Argentina, onde moram. Lá está uma parentela em meio à qual nos perdemos: o pai de Laura, velho e irritadiço, a mãe, de poucas falas, e mais, muito mais, inclusive Paco (Javier Bardem) e sua mulher Bea (Barbara Lennie).
E muitos mais. A parentela é funcional, pois o objetivo é que nos percamos mesmo entre tantos próximos, pois nessa noite Irene será sequestrada, para desespero geral. Um sequestro precisa de suspeitos. Suspeitos e desespero.
Assista ao trailer do filme
No setor suspeitos, Farhadi arma então um “whodunit”, como Hitchcock chamava os filmes em que todo interesse consiste em descobrir quem foi o culpado. Até Alejandro (Ricardo Darin), o marido de Laura e pai da sequestrada, que ficou na Argentina, torna-se suspeito assim que põe o pé em terras espanholas. Sem falar dos funcionários da vinha de Paco (imigrantes, portanto suspeitos).
Como o sequestro prossegue sem que haja solução à vista, começam a espoucar os problemas familiares. Com isso, entramos em outro registro: o do drama familiar, em que, em vista de um drama, começam a surgir os podres de cada um. Começam a se revelar as personalidades...
O problema de “Todos Já Sabem” é que os podres nem são assim tão podres. Envolvem rancores e segredos quase sempre triviais (existe um que não é, convém não falar a respeito). Quanto às personalidades revelam-se ralas.
Se por um lado o filme vai de nada a parte alguma, o que o torna visível é a beleza das paisagens e das pessoas (bom hábito de Farhadi: costuma trabalhar com gente bonita). Mais: reuniu aqui um grupo de sólidos atores (não apenas os principais, célebres e ótimos) que dá prazer ver representar.
Comentários
Ver todos os comentários