Destaque da Virada, Arnaldo Baptista celebra boa fase; leia entrevista

Crédito: Leonardo Wen/Folhapress
Músico e artista plástico Arnaldo Baptista, que se apresenta em 5/5 no Theatro Municipal (centro de SP), como parte da Virada Cultural

Arnaldo Baptista está radiante e de bem com a vida: "Eu sonho bastante, e quase sempre acordado, com coisas que estou vivendo agora."

O músico, fundador do seminal grupo brasileiro Os Mutantes e dono de discografia solo versátil, superou dificuldades de saúde, voltou a produzir com força neste milênio e, agora, atravessa um grande momento.

Talvez o melhor em 40 anos.

Termina nesta sexta-feira (20) a exposição "Lentes Magnéticas", sua primeira individual, com 120 desenhos e pinturas na galeria Emma Thomas (zona oeste de São Paulo).

"Esse modo de interpretar plasticamente a vida e um mundo melhor ficou bem exposto nas paredes", diz.

E seu espetáculo "Sarau o Benedito?", no Theatro Municipal (centro de SP), em 5 de maio, com projeções de seus quadros, é um dos pontos altos da programação da 8ª Virada Cultural.

Os pouco mais de 1.500 ingressos estarão disponíveis para reserva pelo site Ingresso Rápido, pelo telefone 4003-2050 ou em um dos pontos de distribuição da rede a partir das 10h de terça (24).

Confira, a seguir, a conversa com Arnaldo.


Guia: Como se sente por tocar no Theatro Municipal?
Arnaldo Baptista: É interessante, uma espécie de descoberta do alcance da minha capacidade musical. Vou poder levar adiante um sonho que tenho há algum tempo de tocar no Municipal, uma coisa que mamãe, que era concertista, fazia sempre. Uma vez eu estava esperando a mamãe acertar uns pontos com o maestro, não tinha o que fazer, sentei em todas as cadeiras do Theatro Municipal! Todinhas! Brincadeira de criança. Vai ser muito gostoso, uma espécie de apogeu.

Como vai ser o "Sarau o Benedito?"?
Tenho uma listinha aqui. Mas na primeira vez que toquei esse show, na Cantareira, há algum tempo [julho de 2011], também fiz uma lista de músicas para seguir, mas aí o show começou e eu entrei em umas de me comunicar com o público, a lista não valeu nada! (risos) Fiquei voando nos improvisos... Acho que vai continuar assim.

De acordo com o ambiente eu me inspiro. Por exemplo, se estiver no interior toco "Cortar Jaca", se estiver numa coisa científica toco "Decolar Toda Manhã" [trecho da música "Não Estou Nem Aí", do álbum "Lóki?", de 1974]. No Municipal, vou ver o que vai acontecendo, segundo a inspiração. De repente pode pintar um Debussy [compositor francês, 1862-1918], ou um Oscar Peterson [pianista canadense, 1925-2007].

O que te motiva a pintar? É uma inspiração diferente daquela da música?
Na pintura, eu uso os mesmos equipamentos que o Salvador Dalí. Mas, na música, às vezes faço um show sem nenhum PA [caixas amplificadoras de som, do inglês "public address"] valvulado. Então, para mim, foi muito confortável pintar, porque não transparece diferenças que transpareceriam na música, por exemplo, entre válvulas e transistores elétricos.

O que achou da exposição?
Em casa os desenhos ficavam em arquivos e quando cheguei lá estavam todos na parede. Fiquei abismado! Foi muito bonito. Esse modo de interpretar plasticamente a vida e um mundo melhor ficou bem exposto nas paredes. Adorei. E já vendeu o suficiente para pagar a exposição!

Vem mais em seguida?
Sem dúvida. Posso até fazer no exterior! Quem sabe até onde eu vou.

Que técnicas você tem utilizado mais?
Ultimamente eu tenho feito mais telas em tinta acrílica, até para tentar me aproximar mais dos pintores clássicos. Antigamente eu mais tateava com o equipamento, né? Aquarela, nanquim, guache, lápis etc. Mas agora estou entrando mais na tinta a óleo, acho que ela leva os quadros adiante, deixa competir com Rafael, Leonardo Da Vinci.

Por que "Lentes Magnéticas"?
Isso é interessante. Eu possuo um lado meio de astrofísica. Em uma galáxia com formato lenticular, que nem a Via Láctea, quando a luz passa no meio da lente, existe, pelo magnetismo de todas as estrelas e planetas juntos, uma deformação do tempo, do espaço e da luz. Funciona assim.

Você sonha bastante, Arnaldo?
Eu sonho bastante. Não dormindo, mas acordado mesmo. Sonho com coisas que têm acontecido. E de uma maneira imprevisível. Como tocar no Municipal. Estou conseguindo concretizar meus sonhos.

O que tem ouvido de bom?
Jethro Tull, West, Bruce and Laing, Yes e Steppenwolf.

Quando sai o disco novo, "Esphera"?
Às vezes eu tenho uma inspiração de que não sei a origem e faço duas músicas em um dia, e às vezes fico dois dias sem produzir. Então é imprevisível. Mas o pessoal que está me assessorando entende melhor do que eu das datas.

Como está sendo tocar com o Fernando Catatau [compositor e guitarrista do grupo cearense Cidadão Instigado]?
Muito legal. Porque ele me completa. Bota uma bateria em cima da minha, a gente faz uma colcha de retalhos das músicas. Está saindo suficientemente bom.

E por que "Esphera"?
Em um sentido de algo profundo hoje em dia, o lado que envolve o globo, a esfera, a Terra, e, ao mesmo tempo, a espera enquanto o avião não chega no aeroporto... Voar é bom, mas esperar não é tão bom. (risos) Fica esse lado que influencia a vida e o modo de ser de todo mundo. Espero que seja uma "Esphera" boa. Nos dois sentidos!

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais