'O Racionais deixou de ser nós quatro e virou uma comunidade', diz Ice Blue; leia bate-papo

Entre os destaques da primeira edição brasileira do Red Bull Music Academy Festival está a exposição inédita e gratuita que antecipa as celebrações de 30 anos dos Racionais MC's, que serão comemorados em 2018.

"A exposição vai aproximar essa geração mais nova que talvez não conheça a história do grupo. Vai deixar o público mais perto", diz Ice Blue.

Racionais
Foto dos Racionais que integra a exposição do Red Bull Music Academy Festival - Klaus Mitteldorf/Divulgação

A mostra conta com mais de 500 itens, entre vídeos, fotos e objetos pessoais. Ele, ao lado de Edi Rock, Mano Brown e KL Jay, participa de palestra, na segunda (5) na Red Bull Station, e faz show na Audio, na terça (6).

"O Racionais foi um braço dentro de um movimento, mas não somos responsáveis sozinhos não", diz o rapper sobre o fortalecimento da cena nacional do gênero.

Leia bate-papo com Ice Blue.


Prestes a alcançar a marca dos 30 anos do grupo, como você enxerga o trabalho dos Racionais? 

Costumo dizer que o Racionais, após 30 anos, deixou de ser de nós quatro e virou uma comunidade da qual todos fazem parte. Eu posso dizer que depois desse tempo eu ainda me sinto útil, porque continuo produzindo, sendo um militante das minhas ideias e ideologias. Eu ainda estou aqui. 

Como você vê o trabalho do grupo nos próximos anos?

A gente sempre tentou fazer coisas novas. Nunca nos conformamos nos grandes sucessos, se não a gente teria parado lá no começo. O grupo sempre foi atrás de beats e estilos novos. 

A ideia é continuar produzindo. O Brown acabou de lançar disco novo, por exemplo. Nós estamos falando de movimentos, ritmos e músicas novas, por isso que os Racionais se sentem útil, nós ainda estamos buscando coisas novas. 

A música deve ser usada como instrumento de conscientização política e social?

A música tem essa missão de levar os diálogos e transmitir as palavras. A maneira de se produzir e de militar hoje musicalmente tem que ser mais estratégica, porque isso estimula as pessoas a pesquisar, aprofundar e tentar entender melhor o que está sendo dito. É preciso tirar as pessoas da zona de conforto. Na época digital todo mundo está muito confortável e é preciso deixar um pouco mais enigmático para fazer com que as pessoas pensem mais.

Como você enxerga a cena nacional do rap? O que mudou nos últimos 30 anos?

Eu sou de uma época em que o rap não era nem considerado um estilo musical. Hoje a MPB do Brasil é o rap. É Emicida, Criolo, Rael, Karol Conka. 

Cada momento é um momento. "Diário de um Detento" [lançado em 1997] precisava ser daquela forma, mais agressivo, rústico, no dialeto. Porque assim as pessoas entendiam. Com a evolução que a internet trouxe e os impactos causados na distribuição e produção, as letras precisam ser mais enigmáticas. O discurso aparenta ser mais leve mesmo, mas a mensagem aparece de qualquer forma. Dentro de um cantado bem 'cantadinho', ritmado, com harmonia bonita... A ideia está lá. Essa é a evolução.

O Racionais foi um braço dentro de um movimento, mas não somos responsáveis sozinhos não. A gente realmente agarrou a causa com lealdade e força.​


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