Experiente, Judas Priest mistura clássicos e surpresas em show

A quarta passagem do Judas Priest pelo Brasil demonstrou que a banda não precisa de muito esforço para comandar um grande show para os fãs de heavy metal --estilo para o qual criou padrões e clássicos. Contando com performances impecáveis de seus integrantes, o quinteto tira o resto de letra em um cheio, mas não lotado, Credicard Hall.

Crédito: Marcos Borges/Folha Imagem
Mesmo aos 57 anos, Rob Halford, vocalista do Judas Priest, não foge das notas mais altas

Pioneira do estilo, a banda, integrada por um sexagenário (Glenn Tipton) e outros três membros às vésperas dos 60 anos, procurou fazer um set list dedicado a algumas canções "esquecidas" em seu repertório, o que surpreendeu a muitos, que ficaram sem ouvir músicas famosas como "Living After Midnight", "The Ripper", "Beyond the Realms of Death" e "Victim of Changes". Mas surpresas como "Hell Patrol", "Rock Hard, Ride Free", "Sinner" e "Dissident Aggressor" equilibraram as coisas para os mais fanáticos que nunca puderam conferir essas canções ao vivo.

Do novo disco, o ousado, conceitual e irregular "Nostradamus", apenas duas faixas apareceram: "Prophecy", um dos (poucos) destaques do álbum, e "Death", que lembra muito o Black Sabbath, mas que, longa e arrastada, não deve se eternizar no repertório do Judas Priest. Mesmo se desfazendo de alguns hits, o set list é bem construído, alternando músicas de estilos diversos dos anos 70, 80, 90 e 2000.

A abertura é justamente com o novo disco: a introdução "Dawn of Creation" seguida por "Prophecy", conhecida por grande parte dos presentes, apesar de ser uma canção recente. A performance da banda é forte e previsível: a cozinha pesada de Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria) é latente durante o show inteiro, assim como a eficiente coesão entre os guitarristas Glenn Tipton e KK Downing, juntos há 35 anos.

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Downing (à esq.) e Tipton formam uma das mais coesas duplas de guitarra do heavy metal

A entrada de Rob Halford também é um show à parte: sua aparência de "divindade" do heavy metal enlouquece os fãs, apesar de seu desempenho ter mudado muito ao longo dos anos. O Halford elétrico dos anos 80 dá lugar a um Halford bem mais contido, até pelo peso dos 57 anos nas costas. Apesar disso, sabe exatamente o momento em que a atenção está voltada para ele, e abusa disso: sua comunicação com o público é constante.

A segunda faixa já deixa a marca da nostalgia: em "Metal Gods" (1980), o esforço do Judas Priest é mínimo, já que a platéia leva a música sozinha. "Eat me Alive" (1984), "Between the Hammer and the Anvil" (1990) e "Devil's Child" (1982) são três das já citadas surpresas, convencendo alguns e deixando outros com caras de curiosos.

A banda não hesita em colocar sua canção mais conhecida, "Breaking the Law" (1980), na primeira metade do show, sem nenhum destaque especial no set list. A música abre espaço para mais uma pérola esquecida, "Hell Patrol" (1990), canção do pesado e bem-sucedido disco "Painkiller".

"Death", de "Nostradamus", é lenta, longa e pesada, esfriando um pouco os ânimos dos presentes, que voltam a se animar com o refrão poderoso de "Dissident Aggressor" (1977), música que foi regravada pela banda de thrash metal Slayer. Nessa hora, Halford demonstra como cantar com força as faixas que gravou há mais de 30 anos: não busca os agudos, mas abusa da garganta para alcançar algo parecido ao que realizava em 1977.

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Rob Halford (à esq.) e Glenn Tipton, do Judas Priest, durante o show no Credicard Hall (SP)

A balada "Angel" (2003) é mais uma das surpresas, e serve para dar uma nova esfriada antes de "The Hellion/Electric Eye" (1982). Utilizada nas aberturas dos shows, a música volta a agitar os presentes, que também aprovam "Rock Hard, Ride Free" (1984) e "Sinner" (1977) --esta última com direito a solo de KK Downing, saindo da sombra de seu parceiro mais talentoso, Glenn Tipton.

"Painkiller" (1990) é um dos maiores desafios para Halford, que faz sua parte (até se encolhe para usar o máximo da garganta) e volta dirigindo uma moto para cantar a clássica "Hell Bent for Leather" (1979), uma das canções que marcaram o início da época de sucesso da banda. O show se encerra com "The Green Manalishi" (1979) e "You've Got Another Thing Comin'" (1982), dois dos grandes hits da história do quinteto.

Também vale ressaltar o grande desempenho do baterista Scott Travis na apresentação, sempre com uma pegada forte e agressiva, algo que faltou um pouco em sua última passagem com a banda pelo Brasil, em 2005. Três anos depois, Travis parece mais disposto a se destacar, demonstrando muita vontade.

Não é preciso muito para o Judas Priest comandar uma grande performance: a experiência da banda faz com que todos os integrantes saibam exatamente o que fazer para contagiar o público heavy metal, que se mantém sempre leal a um de seus principais criadores.

Crédito: Marcos Borges/Folha Imagem Rob Halford (esq.) agita ao lado de Glenn Tipton e Ian Hill; banda comanda um grande show sem muitos esforços
Rob Halford (esq.) agita ao lado de Glenn Tipton e Ian Hill; banda comanda um grande show sem muitos esforços

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