De um palco em 360° plantado na pista do Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, o cantor Thiaguinho começava, por volta das 16h de um sábado deste ano, um show de pagode que se estenderia por cerca de seis horas.
Era mais uma edição da "Tardezinha", projeto do artista criado em 2015 ao lado do amigo Rafael Zulu e que já fez mais de 160 edições no Brasil e no exterior. Depois de reunir meio milhão de pessoas em 2023, fecha o ano neste fim de semana com duas apresentações paulistanas e cerca de 40 mil ingressos vendidos para cada uma delas.
Mas foi de uma ideia despretensiosa que nasceu o que se tornou uma maratona pagodeira revestida com o que provavelmente é a maior estrutura montada para o show de um só artista no Brasil.
Poucos anos depois de Thiaguinho decolar com sua carreira solo após quase uma década ao lado do Exaltasamba —um dos maiores exemplares do samba e do pagode brasileiro—, o convite para ser jurado do show de talentos global Superstar travou a agenda de shows do cantor aos domingos, quando o programa era gravado. A solução foi criar um pagode entre amigos para preencher a tarde.
É essa atmosfera amigável que rege a "Tardezinha" até hoje, mesmo depois de a roda ter virado um projeto que fecha estádios como o Maracanã, no Rio, e o Mineirão, em Belo Horizonte, país afora. No palco, o cantor paulista passa horas emendando canções autorais ou clássicas —várias delas são os dois ao mesmo tempo— do pagode e do samba.
Regido por Thiaguinho, um repertório encorpado que poderia ser maçante dura tempo suficiente para deixar de ser um show rígido e se tornar uma roda pulsante entre milhares de colegas. O público canta e dança olhando para o palco, mas também circula e conversa com naturalidade, sem a urgência da atenção imposta por uma apresentação mais curta e tradicional.
A energia de churrascão de família fica maior com as participações de artistas que aparecem sem aviso. Thiaguinho já convidou nomes fundamentais do gênero, como Péricles, Belo e Rodriguinho, e também de outros universos musicais, como Marcelo D2, Léo Santana e Di Ferrero.
"Desde o início a proposta era criar uma atmosfera mais descontraída, como uma grande roda de samba entre amigos mesmo. Queria que as pessoas se sentissem à vontade, que pudessem curtir sem muitas formalidades", diz o cantor à Folha. "Ver milhares de pessoas se sentindo em um espaço intimista é sensacional".
A fórmula que juntou megaestruturas, clima de camaradagem e muitas horas no palco criada pela dupla de sócios abriu espaço para uma demanda aproveitada anos depois por artistas como Ludmilla, que lançou seu projeto de pagode "Numanice" em 2021, e Gusttavo Lima, que rodou por anos com o sertanejo que embalava "Buteco", criado em 2018.
"Sou fã da Ludmilla e do ‘Numanice’ e fico orgulhoso de ver o pagode ganhando mais fãs e reconhecimento", conta Thiaguinho. "Espero que seja mais que uma tendência, que seja algo que veio para ficar e que se multiplique."
Ao mesmo tempo em que divide suas influências musicais, como quando canta "Flor de Lis", de Djavan e "Ela É Demais", de Rick e Renner, o paulista desfila por canetadas de sua autoria que aparecem na ponta da língua da plateia.
Mas o chamariz é o passeio que faz nos gêneros musicais pelos quais ficou conhecido e que aparecem em canções de nomes como Arlindo Cruz, Raça Negra, Só Pra Contrariar e Art Popular.
"A Tardezinha nasceu da vontade de celebrar a essência da música popular brasileira e artistas importantes e isso reflete minha trajetória e o impacto do pagode e samba no país. Quando vejo o público se divertindo, interagindo, sinto que estamos construindo algo especial ali", diz.
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