AVALIAÇÃO: bom
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A escola de terror recente tem pregado que mostrar tudo é o caminho mais curto para agradar a um público que se satisfaz com sustos. Com isso, o medo, essência do cinema de horror, perdeu espaço para outras reações e se tornou inofensivo.
"Ao Cair da Noite" recupera a outra e mais fértil tradição do gênero, na qual o temor depende menos do que se vê na tela e mais de sentimentos que preferimos guardar.
Aqui, como no ótimo "Corra!", a função do terror é alegórica, reflete fantasmas de carne e osso e prontos para sair do armário.
O diretor Trey Edward Shults, em seu segundo longa, tira o melhor proveito da economia. O cenário quase único do filme é uma casa isolada na natureza. Ali, três pessoas vivem restritas ao básico e se protegem do mundo exterior, por onde se espalha uma praga.
Mas a chegada de um intruso expõe o grupo ao desconhecido e logo desorganiza a frágil ordem.
Na liderança está um homem branco, que impõe a lei à mulher e a um garoto negros, enquanto o invasor tem feições latinas. Embora essa distribuição dos papéis seja óbvia, as simpatias e aversões, heroísmos e maldades borram a identificação sob medida.
Não é menos explícito o fato de o protagonista desse retorno ao primitivo ser um professor de história, paradigma de saber que a maioria considera inútil.
As limitações de orçamento também são vantajosas à trama, na qual nada é muito explicado, não surgem soluções científicas para conter a doença e a única forma de proteção, mesmo que provisória, está em isolar o interior do exterior.
Portanto, a casa serve de fronteira e fortaleza, ao mesmo tempo em que é habitada por rastros de memórias em retratos e nos quadros. Essa interioridade, por sua vez, é reforçada pelos afetos e pesadelos de Travis, o jovem que oscila entre os próprios desejos e a obrigação de manter a segurança do grupo.
Essa distribuição de lugares, contudo, não reserva somente um foco para o perigo, que pode estar lá fora ou, pior, corroendo as entranhas.
Seja como for, "Ao Cair da Noite" também se distingue pelo pessimismo, por deixar apagada a luz no fim do túnel.
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