Francis Hime e Guinga mostram álbum em parceria em SP; leia a entrevista

Nomes fortíssimos da MPB, Francis Hime e Guinga apresentam-se no Sesc Pompeia (zona oeste de São Paulo) neste sábado (dia 29) e domingo (dia 30). Os ingressos custam de R$ 6 a R$ 24.

Crédito: Daniel Marenco/Folhapress Guinga (à esq.) e Francis Hime mostra o álbum "A Ver Navios" no Sesc Pompeia (zona oeste de SP).
Guinga (à esq.) e Francis Hime mostra o álbum "A Ver Navios" no Sesc Pompeia (zona oeste de SP).

Os artistas mostram o álbum "A Ver Navios", lançado em março, fruto de sua parceria. Além de três músicas inéditas, o disco traz, a cada faixa, duas canções --uma de Hime, outra de Guinga-- unidas em uma. A ideia de misturar músicas foi de Guinga. "O Francis gostou, porque fugimos daquele estereótipo de cada um cantar uma", diz.

"Procuramos temáticas parecidas", conta Hime. "A primeira que saiu foi 'Nem Mais um Pio' e 'Passaredo'."

Ao som do piano de Hime e do violão de Guinga, o álbum tem combinações como "Saci/Parintintin".

Francis Hime firmou-se como um dos grandes compositores da MPB. Já trabalhou em parcerias com Vinicius de Moraes, Toquinho, Gilberto Gil e Chico Buarque, entre outros. Hime conversou com o "Guia" por telefone, enquanto caminhava no calçadão, no Rio de Janeiro.

Já Guinga é compositor e violonista e já teve suas canções gravadas por grandes artistas, como Elis Regina, Chico Buarque, Ivan Lins e Leila Pinheiros, entre outros.

Leia abaixo a conversa com os dois compositores.

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LEIA ENTREVISTA COM FRANCIS HIME:

Guia Folha - Como você e o Guinga se conheceram? Como surgiu a ideia de fazerem um disco juntos?
Francis Hime - A gente se conhece há bastante tempo. Sempre acompanhamos a carreira do outro, embora a gente seja quase de uma geração diferente. A primeira vez que encontrei o Guinga foi na década de 1970, quando fiz um arranjo para a Clara Nunes. Se não me engano, era de uma canção do Vinicius [de Moraes], e o Guinga estava lá na festa, com seu violão.

Desde então, namoramos de longe. Quando ouvi o disco "Casa de Vila", que acho que foi lançado há uns quatro ou cinco anos, fiquei fascinado. Não tirava o disco do som, ouvia por horas a fio. E comecei a alimentar a ideia de fazer um trabalho com ele. E soube por amigos em comum que ele também tinha vontade de fazer um trabalho comigo. Aí, um dia, nos encontramos na ponte aérea em São Paulo e começamos a nos encontrar.

Falávamos de futebol, do Vasco e de música. Aos poucos, a ideia foi sendo conceituada. Decidimos fazer músicas em duplas e começamos a buscar canções que tivessem temáticas parecidas ou, ao menos, que houvesse uma conversa harmônica entre elas. A primeira dupla que saiu foi "Nem Mais um Pio" e "Passaredo". O Guinga chegou em casa com uma introdução que desembocava no "Passaredo", e a partir daí fomos construindo.

No fim, tínhamos umas 30 ou 40 duplas de canções e fomos selecionando algumas para o disco. Aí a coisa foi tomando forma. Chamamos o Paulo Aragão para produzir o disco, e o Flávio Marinho, que é muito amigo meu, para dirigir. Ele deu uma arrumada, nos deu uma luz... mas o roteiro é meu e do Guinga.

O álbum "A Ver Navios" foi feito em paralelo com os seus outros projetos. Quanto tempo vocês levaram para finalizar o disco?
A gente começou esses encontros mais ou menos em março do ano passado. Gravamos em junho. Acho que não passou de seis meses. Inclusive, a gente achou que entraríamos em estúdio pra fazer duas ou três faixas, aos poucos. Mas acabou que entramos com tudo já organizado.

Já fizeram algum show de lançamento? Depois de São Paulo, vão para outros lugares?
Fizemos um show de lançamento no Rio de Janeiro. Ainda não temos outros shows marcados, mas vamos fazer, com certeza. Queremos muito fazer outras apresentações no interior de São Paulo. Vamos fazer no Rio na quinta-feira seguinte, dia 4 de julho.

Vocês já pensam em repetir a parceria algum dia?
Com certeza vamos fazer outro disco ou outros. Porque é muito bom a gente poder dar uma visão da música do outro; uma outra interpretação. É como se estivéssemos compondo músicas novas, é muito estimulante. O Guinga tem muita criatividade. O engajamento harmônico que ele sugere é fora dos padrões convencionais. Ele é muito surpreende e comovente.


LEIA ENTREVISTA COM GUINGA:

Guia Folha - Como surgiu a ideia de fazer faixas com músicas em duplas?
Guinga - Eu tive essa ideia solitariamente, e quando tive o primeiro encontro com o Francis perguntei o que ele achava. E ele gostou muito porque foge um pouco daquele estereótipo, de um cantar uma, o outro cantar outra. Procuramos afinidades e vimos que daria para fazer uns três ou quatro discos com as músicas que separamos. Canções que falam de temas iguais ou que têm caminhos melódicos na mesma vertente. Começamos a pensar o disco dessa forma. Aí, ele fazia uma introdução, eu fazia outra, e a gente foi tendo muitos encontros e era mais pra trabalhar a parte da fantasia artística. Depois dessa fase, o Francis, como é arranjador, se encarregou de fazer a ligação entre as músicas, as pontes...

O Francis comentou que soube por amigos em comum que você tinha interesse em trabalhar com ele. Há quanto tempo você queria isso?
Eu sempre tive uma admiração imensa pelo Francis como artista. Ele sempre foi um parâmetro de excelência para mim. Como ele é uma geração a mais do que a minha, eu ouvia o Francis desde novinho, com meus 13, 14 anos. Já me apaixonei pelo compositor. E, na realidade, ele passou a ser um dos meus ídolos. Isso é irreversível.

Acabei conhecendo o Francis pela Clara Nunes. Ali foi o primeiro encontro, depois disso nos vimos poucas vezes. Aí os anos se passaram, comecei a gravar meus discos, e deu uma coincidência que fui fazer um disco na Biscoito Fino, a gravadora que ele trabalha. Conheci lá a filha dele, a Joana. Eu tenho por ele uma admiração infinita, e é uma realização.

O álbum tem três músicas inéditas. Como foi compor com o Francis?
Isso, são músicas que fizemos para esse disco. E foi maravilhoso, fizemos separadamente. Eu compus a primeira parte da música "A Ver Navios", o Francis fez a segunda, e a letra é da Olívia [Hime]. "Doentia" é um choro canção muito lento. E aconteceu igual: a primeira parte é minha, a segunda é do Francis. A letra do Thiago Amud. Eu falei sobre o Thiago com o Francis, e ele gostou muito.

E esse trabalho com o Francis foi muito estimulante, para nós dois. Teve um dia que o Francis ficou tocando piano depois da gravação, e aí ele disse "fiz uma música!". Durante o nosso trabalho, eu compus um show inteiro em homenagem ao Rafael Rabelo. Então, esse disco foi um estímulo mesmo.

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