Cantoras celebram afinidade musical no último dia em São Paulo

O encerramento da temporada paulista que reuniu no mesmo palco as divas Maria Bethânia, 61, e Omara Portuondo, 77, na sexta-feira (28), foi marcado pela cumplicidade existente entre as duas intérpretes. O repertório, composto por clássicos da MPB e da música cubana, compôs o clima de fraternidade entre Brasil e Cuba, presente entre as flores de chita, os batuques da África e toda a latinidade marcada no cenário produzido pelo multimídia Gringo Cardia.

Crédito: Stephan Solon/Via Funchal
Omara Portuondo e Maria Bethânia em momento conjunto do show na capital

Com "Cio da Terra", composição eternizada na voz de Milton Nascimento, a canção também foi entoada em espanhol por Omara na versão de Alfredo Fressia, poeta uruguaio. O duo prosseguiu com a moda de viola "Cálix Bento" (Tavinho Moura) e "Gente Humilde" (Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque).

Depois, Bethânia seguiu sozinha em "Partido Alto", também de Chico, "Você Não Sabe" (Erasmo Carlos e Roberto Carlos) e "Negue" (Adelino de Moreira e Enzo de Almeida). A apresentação solo continuou em "O Ciúme", canção de seu irmão Caetano, "Doce", "A Bahia Te Espera" e "Escandalosa".

O retorno da dupla veio com a rumba "Cubanakan" (Moisses Simons, Sauvat e Chamfleury), mas logo o duo daria uma nova pausa, para que Omara dominasse o palco sozinha. E isso aconteceu com a bela "Tal Vez" (Juan Pablo Miranda), uma das faixas que fazem parte do álbum e que fez a platéia se soltar de vez e aplaudir com fervor.

Documentário

Os saudosistas do projeto Buena Vista Social Club tiveram seu momento nostálgico ouvindo a interpretação de "Viente Años", que à época da existência do grupo era cantado por Omara, única mulher da trupe, e pelo violonista Compay Segundo, morto em 2003. Essa canção, inclusive, Omara declara no documentário dirigido por Win Wenders que aprendeu durante sua infância.

A emoção prosseguiu em "Mil Conjogas" (Juan Pablo Miranda), que foi interpretado pela cubana de forma intimista, como se fosse um choro. Ao terminar, ela senta no pufe disposto no cenário e aprecia seus músicos.

Como sinal de admiração, os reverencia e, por instantes, deixa um pouco o público de lado e canta só para a banda, que emenda uma intro de "Dos Gardenias" (Isolina Carrillo Diaz). O hit do Buena Vista Social Club ficou conhecido na voz de Ibrahim Ferrer que, por exagero ou não, já foi chamado de Nat King Cole de Cuba. Antes de cantar o primeiro verso, Omara oferece a canção ao cantor morto em 2005, fazendo a platéia delirar.

Com "Lacho" (Facundo Rivero e Juan Pablo Miranda), um rap que tem a percussão substituindo as pick-ups, a cubana fez graça, dançou e arrancou risos dos fãs. Depois, seguiu com "Drume Negrita" (Ernesto Grenet), "La Sitiera" (Rafael Lopez Gonzalez) e "Guantanamera", bastante associada à sua conterrânea Célia Cruz. Nesta última, Omara pede palmas a todo instante, e sempre "más fuerte".

Mistura

Após a apresentação, a banda composta por músicos brasileiros e cubanos executou uma bela mostra do que sabe fazer, mesclando os ritmos caribenhos com a levada do samba.

Além da mudança de cenário, que ficou com um fundo roxo no lugar das flores, o retorno foi marcado com o duo de "Você", seguido de "Só Vendo que Beleza (Marambaia)", outra faixa presente no disco e que já estava na boca do público. Mesmo engasgando um pouco ao cantar, talvez por ter esquecido o verso, Omara ri e logo contorna a situação.

Crédito: Pedro Carrilho/Folha Imagem
As cantoras Maria Bethânia e Omara Portuondo na sede do selo Biscoito Fino

Juntas, elas seguem com "Guacyra", "Caipira de Fato", "El Amor de Mi Bohío" e o contagiante arranjo de "Havana-me", de Jorge César Pinheiro e Joyce, cuja versão adicionada em espanhol (também do uruguaio Fressia) fez com que as duas celebrassem no palco a mãe Iemanjá e Oxum, orixá de Bethânia.

A dupla foi em frente com "Para Cantarle a Mi Amor", "Começaria Tudo Outra Vez", de Gonzaguinha, e mais uma de Chico Buarque --"O que será?".

A junção de "Palabras" (Marta Valdés) e "Palavras" (Gonzaguinha) fez o público montar um salão de baile improvisado no corredor da Via Funchal. O bis, para alegria geral, foi composto por "Guantanamera" e deu ao término do show um clima de festa familiar.

Para celebrar a união da africanidade musical que une as duas, só faltou a interpretação de algum afro-samba de Baden Powell e Vinícius de Moraes. Mas aí, fica como dica para o próximo reencontro de Betha (como alguns fãs mais íntimos a chamavam pelos bastidores) e Omara.

No meio de figuras desconhecidas e ilustres, como Beatriz Segall, estavam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua esposa, Ruth. A Folha tentou conversar com as cantoras no final do show, mas elas não atenderam a imprensa. A turnê deverá continuar por mais oito capitais brasileiras.

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