Ação e contemplação caracterizam o cinema chinês de grande público tanto lá como cá. As elaboradas coreografias dos filmes de artes marciais combinadas com os temas da disciplina e do rigor cristalizaram por meio dos filmes uma imagem do Oriente, a mesma que “A Grande Muralha” retoma agregando as vantagens da tecnologia digital.
A coprodução sino-americana adota o hibridismo em diversos aspectos na busca de um produto semelhante a esses pratos da cozinha de lá, pioneiros da globalização do paladar.
O compartilhamento de habilidades reflete-se desde a trama, que junta as astúcias de um aventureiro ocidental à força numérica chinesa para defender a civilização do ataque de um exército de monstros que se oculta nas profundezas.
De um lado, temos o princípio da diplomacia, na associação do bandido convertido ao bem com a bela guerreira que equilibra força e disciplina. De outro, a submissão dos grotescos Tao Tei à tarefa de alimentar sua rainha.
Se, na superfície, “A Grande Muralha” confunde-se com o molde do blockbuster turbinado por efeitos visuais, o filme não oculta seu subtexto sobre as formas de poder e de subserviência, como é costume no alegórico cinema chinês.
Não por acaso, a direção tem a assinatura de Zhang Yimou, nome que emergiu nos anos 1980 com filmes expressivos sobre a condição individual na China, que então se abria. Depois, o cineasta se adaptou ao grande espetáculo visual, em filmes como “Herói” e “O Clã das Adagas Voadoras”, e passou a ser tratado como apenas um esteta.
É a ele, sobretudo, que se reconhece o aspecto mais consistente de “A Grande Muralha”. Mesmo que a qualidade dos efeitos visuais em CG (computação gráfica) seja impressionante, salta mais à vista o modo como Yimou concebe a ação em gigantescos balés que evocam as formas geométricas móveis elaboradas por Busby Berkeley na era de ouro dos musicais hollywoodianos.
Graças a sua habilidade para inserir graça no monumental, “A Grande Muralha” torna-se um blockbuster que oferece ao espectador mais do que saturação dos sentidos.
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