Crítica: 'A Luta de Steve' é de fazer até ogro chorar

A luta de Steve  [Gleason, Estados Unidos, 2015], de J. Clay Tweel (Elite Filmes). Genero: documentario. Elenco: Steve Gleason, Mike Gleason, Scott Fujita ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTO
Steve Gleason entre a mulher, Michel Rae, e o filho - Divulgação


A LUTA DE STEVE (ótimo) 
(Gleason) 
DIREÇÃO J. Clay Twee
PRODUÇÃO EUA, 2016, 10 anos 
Veja salas e horários de exibição.


Poderia ser um documentário edificante, cheio de boas intenções, mostrando o sofrimento do ex-jogador de futebol americano Steve Gleason devido aos efeitos degenerativos da esclerose lateral amiotrófica (ELA). Mas "A Luta de Steve" é muito mais. Um filme emocionante, envolvente, capaz de fazer qualquer ogro derramar lágrimas no cinema.

Boa-praça e jogador de sucesso, Gleason tinha 34 anos quando foi diagnosticado com a doença, em 2011. Sua mulher, Michel Rae, estava grávida.

Os médicos deram a Gleason expectativa de vida de dois a cinco anos. Ele decidiu, então, começar um diário em vídeo para deixar ao filho, nascido no fim daquele ano.

Além dos arquivos de mensagens ao garoto, o cineasta Clay Tweel passou a documentar o dia a dia da família –"A Luta de Steve" é uma mistura desses registros.

A fama de Gleason era grande. Atuando pelo New Orleans Saints, ele fez a jogada que garantiu a vitória na partida que reabriu o estádio da cidade, em 2006, fechado por meses depois do furacão Katrina.

Essa vitória do Saints sobre o Atlanta Falcons transformou-se em símbolo do reerguimento da moral de Nova Orleans após a tragédia. Uma estátua de Gleason foi erguida no estádio.

Baseado em sua popularidade, ele criou uma fundação para ajudar pacientes com ELA e convencer o governo a dar mais apoio aos portadores da doença. Sua cruzada pública é contemplada no filme, mas é dentro de casa que "A Luta de Steve" se mostra arrebatador.

A doença vai deixando Gleason cada vez mais debilitado, mas não afeta o cérebro do paciente, o tempo todo consciente da progressão inevitável das dificuldades. É possível acompanhar seu calvário pessoal.

Obstinado nas campanhas, e perdendo gradativamente os movimentos e a fala, ele demora a perceber o esforço insano de Michel, com todas as atribulações comuns de criar um bebê e obrigada a cuidar cada vez mais do marido. Seu lar começa a ruir.

Há, entre tantas cenas comoventes, duas que desmontam qualquer espectador: a frustrada ida a um pastor milagreiro, ao qual Gleason é levado pelo pai crédulo, e os procedimentos dolorosos aos quais ele se submete quando perde a vontade espontânea de defecar. É de uma crueza devastadora.

"A Luta de Steve" faz o espectador sair destroçado do cinema. Mas, passado o impacto, vem a percepção de ter visto um documentário espetacular. Desde que foi lançado, em 2016, o filme já arrebatou mais de 30 prêmios pelo mundo. E Gleason segue vivo, sem aparições públicas recentes.

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais