CRÍTICA: Terceiro longa dirigido por Selton Mello o põe em evidência como cineasta maduro

O FILME DA MINHA VIDA (muito bom)
DIREÇÃO Selton Mello
ELENCO Johnny Massaro, Bruna Linzmeyer, Selton Mello, Vincent Cassel 
PRODUÇÃO: Brasil, 2017, 14 anos 
Veja salas e horários de exibição.


Paco, o criador de porcos interpretado por Selton Mello, recebe um convite do amigo Tony Terranova (Johnny Massaro) para ir ao cinema. Ele aceita, não sem antes resmungar: Cinema é um troço escuro que você fica lá dentro vendo a vida dos outros em vez de cuidar da sua.

A breve cena pouco acrescenta à trama de O Filme da Minha Vida. O longa acompanha os anos de formação de Tony, um jovem professor de francês, cujo pai abandonou a família em uma pequena cidade no interior gaúcho, na década de 60.

Mas essa passagem com Paco é reveladora de como o diretor Selton está mais à vontade para brincar com o ofício de fazer filmes.

O fato é que esse jogo do cinema em diálogo com o próprio cinema se estende por todo o filme, ora de modo divertido, ora em chave dramática. Antigas produções italianas e francesas, além de faroestes americanos, inspiram o longa de Selton, sem que as influências soem ostensivas, o que poderia torná-lo pretensioso.

Trata-se de mais uma interpretação competente de Selton, ele que já atuou em mais de 20 longas. No entanto, o que O Filme da Minha Vida põe mesmo em evidência é um cineasta mais maduro, mais apto a dar vida ao que ele chama de cinema popular brasileiro.

Além de curtas, Selton dirigiu Feliz Natal (2008), filme melancólico com algum humor, e O Palhaço (2011), produção divertida com alguma melancolia.

O Filme da minha Vida, seu terceiro longa, é uma espécie de síntese dos dois primeiros. A memória a se confundir com o sonho (ou o pesadelo), as ligações familiares que fincam marcas e o protagonista em meio a uma profunda transformação são pontos em comum nessa pequena, mas já consistente filmografia.

O resultado é ainda mais louvável considerando o risco novo assumido por Selton. Nos dois primeiros longas, os roteiros eram originais, frutos de sua parceria com Marcelo Vindicatto. Desta vez, eles adaptaram o livro Um Pai de Cinema, de Antonio Skármeta, que se tornou famoso com O Carteiro e o Poeta.

O escritor chileno, aliás, aparece brevemente no filme. Também pequena é a participação do compositor e apresentador de TV Rolando ​Boldrin como o maquinista do trem. Ele parece desses artistas talhados para fazer cinema —pena que esteja tão pouco em cena.

O personagem de Boldrin é uma representação do tempo. Tempo que tem feito muito bem à carreira de Selton.

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