CRÍTICA: Documentário 'Exodus' destaca dramas individuais de refugiados

Cena do documentário 'Exodus'
Cena do documentário 'Exodus' - Divulgação


EXODUS - DE ONDE EU VIM NÃO EXISTE MAIS (regular) 
DIREÇÃO Hank Levine 
PRODUÇÃO Brasil/Alemanha, 2016. 95 min. 12 anos. 
Veja salas e horários de exibição.


As diásporas e os fluxos migratórios marcam a história humana desde a Antiguidade. Permanecem atuais, sem variar muito em suas motivações –guerra, pobreza, catástrofes. Mas obstáculos novos se somam: violentas políticas de fronteira, burocracias enrijecidas, alargamento dos abismos étnicos; em suma, os paradoxos que acompanham o processo de abertura das economias e de mundialização das culturas.

"Exodus - De Onde Eu Vim não Existe Mais", documentário de Hank Levine, aborda o problema sem recorrer à investigação histórica aprofundada. Mais preocupado com a dimensão dos afetos cotidianos do que com a macroestrutura política, privilegia os dramas individuais de alguns refugiados em partes distintas do mundo.

Surgem fatos impactantes. Constatamos, por exemplo, que os campos de refugiados da Alemanha de hoje diferem pouco dos campos de concentração nazistas. Os imigrantes não são exterminados em câmaras de gás, mas a lentidão burocrática e a indiferença generalizada os deixam lá apodrecendo por dez, às vezes 15 anos, até não terem mais força nem vontade de viver.

Uma situação que merecia ser mais explorada pelo filme é a dos dois jovens imigrantes que vieram da Síria para o Brasil. Nenhum deles tem o país como destino final: a moça sonha em ir para o Canadá e o rapaz, para a Alemanha. Embora seja a nação que acolhe de modo mais rápido e simples os refugiados sírios, o Brasil não é visto como lugar para se ficar. Só um purgatório.

Há também uma cena interessante com um casal formado por um alemão e uma sul-sudanesa. Numa discussão, ela tenta mostrar que, por mais que o noivo se mobilize, o simples fato de ele ser um branco europeu que vive num país que fabrica armas já o torna parte do problema. O rapaz não se convence, e temo que a ficha não tenha caído nem para o próprio filme, que, em seu sobrevoo panorâmico, distancia (no mau sentido) o espectador das reais questões em jogo.

Há um filtro protetor, como comprovam os momentos com música apelativa e narração de Wagner Moura. Ali, o filme se assemelha às propagandas de arrecadação de fundos para organizações filantrópicas e deixa a impressão de que tudo virou mercadoria, inclusive o gesto humanitário transformado em puro sentimentalismo.

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