CRÍTICA: 'Polícia Federal - A Lei É Para Todos' simplifica fatos para consumo ligeiro

Marcelo Serrado interpreta o juiz federal Sergio Moro
Marcelo Serrado interpreta o juiz federal Sergio Moro - Divulgação


POLÍCIA FEDERAL - A LEI É PARA TODOS (ruim)
DIREÇÃO Marcelo Antunez
PRODUÇÃO Brasil, 2016. 107 min. 12 anos.
ELENCO Marcelo Serrado, Antonio Calloni e Flávia Alessandra
Veja salas e horários de exibição.


Cena 1: interior. Equipe da Polícia Federal prepara ação para deter o doleiro Alberto Youssef. Closes de telas de computadores. Áudio mistura diálogos, sons tecnológicos e de chamadas telefônicas. Equipe acompanha tensa. Edição rápida intensifica a urgência.

Cena 2: exterior. Comando acelera nas ruas de São Luís em direção ao hotel onde foi confirmada a presença do doleiro. Youssef percebe a ameaça e escapa pelo elevador. Agente o persegue pelas escadas. Suspeito avança em direção à saída, onde não se vê nenhum policial.

As duas primeiras cenas de "Polícia Federal: A Lei É para Todos" revelam o que o filme gostaria de ser e o que, de fato, é. Na primeira, o cenário se assemelha ao da CTU, unidade antiterrorismo da série "24 Horas". A referência, além do suspense e do ritmo acelerado, tem por função aproximar PF e FBI, modelo de eficiência policial. A segunda, por sua vez, deixa perceber como, aqui, a lei tem mais a ver com falhas e improvisos.

Os aficionados por investigações cheias de reviravoltas ficarão mais satisfeitos com o que têm em casa, pois "Polícia Federal: A Lei É para Todos" não vai além da reconstituição que os programas sobre crimes fazem com mais eficácia.

Digamos, em defesa, que o objetivo da produção tenha sido revelar detalhes obscuros da Operação Lava Jato. No entanto, o filme se resume a ficcionalizar o que mais se sabe, agregando situações cuja inverossimilhança provoca efeitos cômicos.

De fato, a recriação dos principais capítulos da novela policial e jurídica a que o país assiste há três anos é feita de modo a produzir uma imagem imaculada da PF, uma ilha no mar de lama em que naufragamos.

Isso fica evidente, por exemplo, no excesso de cenas que reiteram os valores da corporação e a capacidade individual, o "nós", dito muitas vezes em contraposição a "eles".

Mais que um filme, o que se vê na tela é uma megaoperação publicitária destinada a construir uma imagem, uma estratégia de marketing que visa preservar a instituição em meio à falência generalizada.

O grande problema desse tipo de ficção é pretender se pôr no lugar dos fatos, oferecendo uma versão simplificada para consumo ligeiro. Aponta-se um punhado de vilões e o mal é identificado.

Assim, pode-se ir ao cinema como quem vai cumprir um dever cívico e voltar para casa como se tudo estivesse solucionado.


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