HUMAN FLOW - NÃO EXISTE LAR SE NÃO HÁ PARA ONDE IR (regular)
(Human Flow)
DIREÇÃO Ai Weiwei
PRODUÇÃO Alemanha, 2017. 140 min. 12 anos.
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É difícil encontrar um assunto tão atual quanto o dos refugiados. Desde o fim da Segunda Guerra, nos garante "Human Flow - Não Existe Lar se não Há para Onde Ir", não havia uma quantidade tão grande de pessoas forçadas a deixar seus lugares de origem e deslocar-se, correndo riscos incalculáveis, para chegar a um lugar que as acolha.
Nunca, parece, o mundo foi tão intolerante. Pior: essas pessoas, que em geral pretendem chegar à Europa, lá encontram não raro cercas, exércitos, arame farpado pela frente. Quando chegam.
E, no entanto, Ai Weiwei, artista chinês vivendo na Alemanha, fracassa por vários motivos ao tentar dar conta desse problema.
O primeiro é, evidentemente, a extensão do fenômeno. Como se quisesse abraçar o mundo, Ai Weiwei desloca-se de um lugar a outro, ora no ponto de partida, ora no de chegada, ora num barco, ora na fronteira. Fogem brancos e negros, pobres e remediados, doutores e analfabetos.
À força de se deslocar tanto e de mostrar tantos aspectos daquilo que é, a rigor, um só fenômeno, o filme termina por deixar o espectador um pouco atordoado com um volume de informação enorme que não chega a compor um todo. Talvez bastasse seguir um, dois, três casos: teríamos uma ideia melhor do problema.
O segundo ponto diz respeito a certas escolhas estéticas do autor. Talvez isso se dê por ser ele artista plástico, que acaba por buscar o enquadramento sofisticado, o belo plano etc. Mas não importa. Soa um tanto imoral um belo pôr do sol junto ao mar, com a imagem de uma boneca sobressaindo entre outros objetos em um canto do quadro –é só um exemplo entre vários.
Não há que duvidar das boas intenções do artista, porém o resultado é atravessado por momentos desse tipo. No mais, vemos Ai privando com refugiados, acompanhando-os, solidário. Observa sua partida, por vezes está lá para receber um barco assustadoramente sobrecarregado de gente.
Ninguém pode exigir que ele siga em um desses barcos, que corra os riscos atinentes a esse tipo de travessia. Mas é o que um grande documentarista faria. Ou faria, de todo modo, algo capaz de produzir um documentário original, capaz de fazer o espectador participar do drama efetivamente e não como uma espécie de turista que contempla a desgraça de outras pessoas.
A isso soma-se última e não menos delicada questão: que diabo faz Ai diante das câmeras, tirando selfies junto dos refugiados? Pode ser um ato de fraterna solidariedade.
Pode ser um modo de mostrar como todos, cineastas e perseguidos, encontram-se não no mesmo barco, mas ao menos no mesmo nível. Mas pode ser também o signo de um empreendimento mais narcisista do que humanitário. Para um documentário feito com tanto empenho, com tamanha ambição, não é saudável que sejamos ao menos tentados a pensar semelhante coisa.
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