A ÓPERA DE PARIS (muito bom)
(L'Opéra)
DIREÇÃO Jean-Stéphane Bron
PRODUÇÃO França/Suiça, 2017. 110 min. 12 anos.
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Uma temporada na mítica Ópera de Paris, um dos grandes pontos turísticos e culturais da capital francesa, é a proposta de Jean-Stéphane Bron neste documentário intitulado justamente "A Ópera de Paris".
Graças à sua câmera incisiva e à estrutura em blocos, somos testemunhas privilegiadas de praticamente todos os tipos de acontecimentos importantes no local: ensaios, reuniões orçamentárias, seleções de músicos, cursos para crianças carentes, noites de gala e bastidores, sem esquecer daqueles que carregam o piano, ou seja, cuidam da manutenção desse templo musical.
O parentesco do filme é facilmente identificável: Frederick Wiseman, documentarista americano que se especializou em permitir que conheçamos museus, bibliotecas, bairros multiculturais.
Os três últimos longas de Wiseman, "National Gallery", "In Jackson Heights" e "Ex-Libris: New York Public Library", exibidos no Brasil somente em festivais, têm a vantagem de um maior rigor (Wiseman usa mais o tripé, por exemplo, enquanto Bron prefere a câmera na mão).
São documentários longos, de três horas de duração, no mínimo, e rigidamente construídos para esmiuçar os assuntos sobre os quais se debruça o cineasta, sem dúvida um dos maiores nomes do documentário contemporâneo.
"A Ópera de Paris" tem o trunfo da concisão. Dura pouco menos de duas horas. Deixa-nos, ainda assim, com uma agradável sensação de completude. Como bônus, entrega uma série de momentos emocionantes, daqueles que são difíceis de encontrar em documentários.
As crianças negras tocando violinos e violoncelos e se emocionando após o fim de um concerto, por exemplo, é desses instantes que não esquecemos tão cedo. Mostram humanidade e esperança sem apelação, apesar do uso de crianças (como resistir ao encanto delas?).
A luta de um aspirante a tenor russo, tendo que driblar o pouco conhecimento do idioma francês e a inexperiência que precisa compensar com a ousadia da juventude, nos dá alguns momentos adoráveis. Vemos a total e recompensadora entrega de um jovem à sua arte.
Em outros momentos, o filme é cirúrgico, como na discussão sobre o preço dos ingressos, que poderia significar um perigoso elitismo, contrário aos projetos inclusivos que a instituição promove.
Este admirável documentário mostra que a arte é essencial para a formação de um povo e que as desigualdades tendem a diminuir quanto maior for o investimento em arte e cultura, algo que nós, brasileiros, precisamos sempre reaprender.
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