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Fotografia linda, produção caprichada, atores muito bons. Mas, na essência, “Maria Madalena” fica distante da qualidade do filme anterior do diretor Garth Davis, o indicado ao Oscar “Lion”. Apesar do investimento pesado, o longa parece uma novela da Record.
A versão apresentada da vida de Maria Madalena é a mais favorável possível à personagem bíblica. A condição de prostituta, imposta a ela por séculos, foi abandonada recentemente pela Igreja Católica, que hoje destaca a única mulher que andou entre os apóstolos de Jesus como uma de suas mais dedicadas seguidoras.
No filme, Maria Madalena assume protagonismo entre os apóstolos. Ela aceita a palavra do Messias intensamente e acaba tendo papel importante no contato com as pessoas que o grupo tenta arrebanhar. E sua relação com Jesus é reforçada por uma atenção especial dedicada a ela.
O roteiro não chega nem perto das considerações levantadas por estudiosos sobre um possível romance entre os dois. Embora mantenha Madalena pura, o filme usa e abusa de olhares enternecidos e levemente desejosos entre ela e Jesus.
Aí entra o ponto alto da produção. Rooney Mara e Joaquin Phoenix são atores intensos e estão ótimos como os personagens principais.
Vale destacar também o inglês Chiwetel Ejiofor, de “12 Anos de Escravidão” (2013), como o apóstolo Pedro, e o francês Tahar Rahim, revelado em “O Profeta” (2009), no papel de Judas Iscariotes.
A beleza gélida de Rooney Mara é, às vezes, um elemento que valoriza cenas um tanto arrastadas. O diretor é daqueles que apostam em longos enquadramentos fechados nos rostos para transmitir emoções. Como tantos outros, exagera nisso.
Se a atriz consegue ótimo desempenho como Maria Madalena, não é demasiado dizer que o filme nem existiria sem a força de Joaquin Phoenix. Porque o roteiro patina muito, repete à exaustão as pregações de Jesus entre as comunidades, em busca da conversão de novos seguidores.
Com outro ator interpretando o Messias, a oratória poderia cair numa repetição que derrubaria de vez o filme. Mas Phoenix exibe um arsenal de sutilezas, no olhar e no ritmo da pregação, que mesmeriza os ouvintes e também os espectadores no cinema.
Se “Maria Madalena” tivesse em todos os quesitos a força do par central, o resultado seria muito bom. Porém, uma direção comportada demais e uma narrativa linear sem surpresas, sem encantamento e sem um clímax põem por terra qualquer ambição de um cinema mais ousado.
No resultado final, o filme deve interessar apenas a pessoas católicas, com receptividade à palavra de Jesus. Bem antes da metade da sessão, “Maria Madalena” desiste de ser filme para ser apenas pregação.
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