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Certos filmes parecem existir somente para confirmar uma espécie de teoria do autor às avessas. Ou seja, dependendo do diretor, sabemos que as coisas, em algum momento, sairão dos trilhos.
“Por Trás dos Seus Olhos” começa razoavelmente bem. O casal formado por Blake Lively e Jason Clarke de algum modo funciona, tem certa química.
Ela, Gina, perdeu a visão em um acidente, quando ainda era adolescente. É delicada, precisa de cuidados. Ele, James, é grandão, rosto duro, porém terno, casou-se com Gina por amor e a auxilia como pode.
Há um uso interessante e até ousado da visão subjetiva, uma vez que vira e mexe tudo se desfoca para entendermos o modo como ela vê o mundo e caímos num abstracionismo um tanto estranho para um filme americano.
Americano, sim, mas eles moram na Tailândia, pois James ganhou uma promoção na seguradora em que trabalha e, com isso, dinheiro deixou de ser um problema para eles.
Lá, eles entram em contato com o médico vivido por Danny Huston. Esse especialista consegue recuperar a visão de apenas um olho de Gina, pois o nervo do outro teria sido definitivamente abalado pelo acidente.
Acontece que, após recuperar a visão, tudo o que lhe era familiar se torna estranho. Até mesmo o marido. Ela já não consegue mais se situar nos lugares, nem mesmo em sua casa. O processo de adaptação à nova visão, por isso, se torna um obstáculo, principalmente na vida do casal.
É precisamente nesse momento que lembramos que o filme é dirigido por Marc Forster. Por um simples motivo: as situações começam a se tornar meio bestas, e até mesmo detalhes como a profissão de James (que trabalha com seguros, mas não consegue mais dar segurança à sua mulher) parecem gritar conexões forçadas.
Forster nasceu na Alemanha, mas sempre filmou nos EUA. Revelou-se com seu terceiro longa, “A Última Ceia” (2001), que teve como único mérito o Oscar de melhor atriz para Halle Berry (ela brilha num filme fraco).
Daí em diante, dividiu-se entre projetos parcialmente autorais, mas com forte apelo comercial (“A Passagem”, 2005, “Mais Estranho que a Ficção”, 2006) e blockbusters como “007 – Quantum of Solace” (2008), um dos piores filmes da série, e “Guerra Mundial Z” (2013), talvez seu longa mais interessante.
“Por Trás dos Seus Olhos” tem bons atores e uma primeira metade promissora. Mas apresenta um pecado comum a esse tipo de filme de quase mistério: a trama se desenvolve de modo pueril e se resolve de forma constrangedora. E, aí, não tem atuação que salve.
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