Quando um filme, depois de finalizado, fica muito tempo esperando por sua estreia no circuito comercial, isso não costuma ser um bom sinal. Afinal, qual seria um problema capaz de levar os distribuidores a não ter pressa para lançar determinada produção?
No caso do curioso, inteligente e muito bonito "A Batalha das Correntes", o filme dirigido pelo americano de origem mexicana Alfonso Gomez-Rejon em 2017 parece ter só um defeito: ser intrincado demais para o espectador médio que vai ao cinema nos Estados Unidos.
A trama é baseada na real disputa entre Thomas Edison e George Westinghouse, no final do século 19. Cada um tinha sua teoria para espalhar eletricidade pelas cidades americanas. Ambos geniais, Edison defendia o uso da corrente contínua, enquanto Westinghouse criava suas fontes de força com corrente alternada.
Para conseguir que empresários e prefeituras comprassem seus serviços, os dois enveredaram por uma batalha pessoal. O nível da competição foi descendo rapidamente, com um não tendo o menor pudor em atacar o rival, apelando para chantagens e difamações. No meio desse embate, outro gênio, de estatura menor, acabou se tornando um joguete na mão dos dois cientistas: Nicolas Tesla, que muito contribuiu para o desenvolvimento do abastecimento elétrico na América, trabalhando tanto para Edison quanto para Westinghouse.
Se a história parece árida, o filme tem dois trunfos fantásticos para se transformar em um atraente programa de cinema: fotografia e elenco. O coreano Chung-hoon Chung, homem por trás da câmera em filmes bons e díspares como "Oldboy", "A Criada", "It" e "Zumbilândia: Atire Duas vezes", conduz as lentes em enquadramentos inusitados e deslocamentos inesperados, às vezes alucinantes. Em um filme com pouca luz, talvez para ressaltar as cenas em que os cientistas ligam suas máquinas de iluminação, Chung cria uma Nova York nos anos 1890 muito estilizada, ao mesmo tempo bela e lúgubre.
Nesse ambiente, o elenco é uma reunião de gente boa. Como em todos os filmes dos quais participa, Benedict Cumberbatch rouba cenas como Thomas Edison. E não é fácil se destacar assim em companhia de Michael Shannon (George Westinghouse), Nicholas Hoult (Nicolas Tesla) e, surpreendentemente bem, Tom Holland, o atual Homem-Aranha dos filmes da Marvel, interpretando Samuel Insull, assistente fiel de Edison.
Com apelo visual e ótimo elenco, "A Batalha das Correntes" pode ter a complexidade da trama trabalhando contra seu sucesso. É realmente complicado entender algumas etapas técnicas sobre geração de eletricidade que os personagens discutem aqui e ali.
Em alguns momentos da projeção, o melhor pode ser relaxar e ficar sem compreender alguns desdobramentos. No balanço final, dá para entender quem está levando vantagem sobre quem.
Antes dos créditos finai, a tela exibe fotos reais dos cientistas e explicações sobre o que aconteceu com eles depois dos acontecimentos narrados no filme. Vale a pena acompanhar essas informações, que ajudam a dar uma dimensão da importância de Edison e Westinghouse. Há uma grande ironia na comparação do destino de cada um.
"A Batalha das Correntes" não é um filme de apelo popular. Mas para quem procura uma diversão intelectual no cinema, vale muito o dinheiro do ingresso.
Comentários
Ver todos os comentários