Filhas de Johnny Cash apresentam versão sobre o relacionamento dos pais em 'My Darling Vivian'

Documentário alternativo ao filme 'Johnny and June', com Joaquin Phoenix, estreia no In-Edit

São Paulo

My Darling Vivian

  • Quando Disponível por 24 horas a partir de qui. (10), às 18h, e por 48 horas a partir de 18/9, às 18h
  • Onde No site br.in-edit.org
  • Preço R$ 3
  • Direção Matt Riddlehoover

"Johnny & June" (2005) empacota a trajetória de Johnny Cash (interpretado por Joaquin Phoenix) como a de alguém "salvo" –do álcool, das drogas, dos descaminhos da vida– pelo segundo casamento, com a também cantora e compositora June Carter (Reese Witherspoon, em papel que lhe valeu o Oscar).

Escrito e dirigido por James Mangold ("Logan", "Ford vs. Ferrari"), o filme é baseado na versão de Johnny e não trata bem sua primeira mulher, Vivian Liberto (Ginnifer Goodwin). Eles se casaram muito jovens, nos tempos anônimos de San Antonio (Texas), em 1954, e tiveram quatro filhas.

Dispostas a celebrar a memória da mãe, as quatro escavam o baú da família e do "show business" em "My Darling Vivian" (2020), destaque na programação do 12º In-Edit Brasil –Festival Internacional do Documentário Musical. Uma delas, Tara Cash Schwoebel, é também coprodutora.

Logo de início, a informação de que cada uma das filhas teve uma Vivian (1934-2005) diferente para chamar de mãe– tamanhas as mudanças e turbulências até o divórcio de Johnny, em 1968– estabelece o terreno para a meticulosa reconstituição da história de amor entre os pais, que, garantem, jamais terminou.

O documentário não embarca propriamente na versão de Vivian, consolidada já no fim da vida pelo livro autobiográfico "I Walked the Line"– trocadilho com o título da canção que Johnny escreveu inspirado pelo relacionamento entre os dois, "I Walk the Line", e que foi seu primeiro sucesso, em 1956.

A perspectiva das quatro irmãs orienta o percurso, com base em lembranças de episódios que testemunharam, sobretudo na infância. Algumas são de um tempo feliz, mas outras ainda parecem provocar dor, como a crescente ausência do pai em casa, atribuída a turnês, e a consequente angústia da mãe.

Natural, portanto, que elas procurem fazer contraponto à "história mística de amor e salvação" que Johnny construiu em torno de June Carter, com quem se casou em 1968. Vivian não foi a única jogada para escanteio por esse processo de reescrita da própria trajetória pelo cantor.

Uma das filhas conta que não teve coragem de ver "Johnny e June", sabendo o estrago que havia provocado em Vivian –e, claro, temendo o que provocaria nela mesma. Mas, apesar do material inflamável, sob medida para a criação de polêmica, o diretor Matt Riddlehoover mantém o filme na linha da sobriedade.

Casado com Dustin Tittle, neto de Johnny e Vivian que produz o filme, Matt costura as quatro vozes com zelo e oferece também, muito além do retrato de família, um olhar social para os EUA, em que despontam, por exemplo, o preconceito contra imigrantes (Vivian era descendente de italianos) e, em participação inesperada, a Ku-Klux-Klan.

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