Descrição de chapéu Crítica mostra de cinema
Cinema

Produção de época dirigida por Marcelo Gomes liga o Líbano ao Amazonas

'Retrato de um Certo Oriente' é inspirado em livro de Milton Hatoum

São Paulo

Em 1949, o Líbano vivia uma tensão crescente devido à fundação do Estado de Israel no ano anterior. É este pequeno país sob turbulência que aparece no início de "Retrato de um Certo Oriente", filme inspirado no livro de estreia de Milton Hatoum.

É uma coincidência triste que o Líbano esteja mais uma vez sob ameaça quando o longa dirigido por Marcelo Gomes começa a percorrer festivais, como a 48ª Mostra.

A capital paulista poderá ver a saga de dois irmãos católicos, Emilie (Wafa’a Celine Halawi) e Emir (Zakaria Kaakour), que deixam Beirute rumo ao norte do Brasil na metade do século 20. No navio, a jovem libanesa se apaixona por Omar (Charbel Kamel), comerciante muçulmano com família em Manaus.

Cena de 'Retrato de um certo oriente', de Marcelo Gomes
Cena de 'Retrato de um certo oriente', de Marcelo Gomes - Divulgação

Um ciúme sufocante e o preconceito religioso impedem que Emir aceite a escolha da irmã. A longa viagem carrega sentimentos sempre ambíguos, um entusiasmo freado pela apreensão, uma paixão revestida de medo.

Nesse sentido, "Retrato de um Certo Oriente" se aproxima de "Lavoura Arcaica" (2001), produção dirigida por Luiz Fernando Carvalho a partir da obra-prima de Raduan Nassar, um autor nascido no Brasil vindo de família libanesa, como Hatoum.

"Lavoura" revelou um cinema mais potente, mas ambos apresentam personagens de origem árabe em situações-limite, com gestos contidos.

Além de idas e vindas no tempo, o premiado romance de Hatoum acompanha um número expressivo de personagens. Gomes, diretor de filmes como "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005) e "Paloma" (2022), acerta ao se restringir a um pequeno núcleo em uma narrativa linear exposta em preto e branco.

No seu "Retrato de um Certo Oriente" (e não "Relato", como no título do livro), essa estrutura de dimensões comedidas nos permite compreender melhor a espessura emocional dessa mulher e desses dois homens ao longo de uma hora e meia. Além dos afetos mal resolvidos, o drama discute a luta pela terra no Oriente Médio e no Brasil, um mal estar bem incorporado à trama central.

O longa não se presta a correr grandes riscos do ponto de vista da linguagem. Aposta na linhagem clássica, narrando com sensibilidade uma história de imigrantes. Não é pouco.

Retrato de um Certo Oriente
Dias 24, às 21h50 (Cinesystem Frei Caneca 1); e 29, às 14h (Cinemateca - Grande Otelo); e às 20h30 (Cinemateca - Oscarito)

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais