"De onde vêm os tecidos que usamos hoje? Quais mãos bordaram e costuraram?", pergunta Danilo Lovisi, curador convidado da mostra "Entre a Cabeça e a Terra: Arte Têxtil Tradicional Africana", em cartaz até fevereiro do ano que vem na Pinacoteca Luz. O brasileiro é também pesquisador à frente da Maison Gacha, galeria que deve abrir em Paris em 2025 com foco em trabalhos manuais africanos.
Na exposição, tecidos vindos da África e a maneira como são feitos por diferentes grupos ganham protagonismo. Em sete salas, Lovisi e o curador do museu, Renato Menezes, agrupam as peças por semelhanças de técnicas ou conceito. O núcleo O Azul Vegetal, por exemplo, reúne tecidos tingidos de índigo por meio de processos que envolvem plantas —mas feitos por povos como os iorubá, da Nigéria, e os baúle, da Costa do Marfim, de maneiras e em contextos diferentes.
O jeito de produzir é um marcador da identidade desses grupos. Os tecidos expostos ainda revelam os processos de experimentação, registro e transmissão de saberes presentes nessas comunidades no século 20. A mostra evidencia que o têxtil é uma atividade potente e, dentro dos grupos incluídos na exposição, faz a sociedade existir. "Isso é design do mais puro", diz Menezes.
Para o curador da Pinacoteca, a produção em massa da indústria afastou o consumidor e tecidos se tornaram uma abstração para compradores. Processos manuais como os mostrados na exposição vão na contramão desse movimento.
"A gente está no Bom Retiro, que é um bairro conhecido por ser um polo têxtil, então isso fez com que o projeto ganhasse ainda mais força", afirma.
São justamente as técnicas de feitio e a construção dos detalhes que tornam cada peça do acervo uma obra de arte única, da mesma forma como são conhecidas as roupas de alta costura. Isso não quer dizer que os tecidos expostos não são úteis. "Essa divisão entre belas artes e ofícios quem produziu foram os europeus", diz Menezes.
Seja cobrindo corpos, paredes ou o piso, os tecidos apresentados podem marcar quem é uma pessoa em um grupo, celebrar momentos e proteger, do ponto de vista visível e invisível. Conheça outras exposições na capital em que arte têxtil ganha espaço.
Arqueologias Migrantes
Celebra os 20 anos de carreira da artista visual e arquiteta Liene Bosquê. Brasileira radicada nos Estados Unidos, ela investiga a relação humana com as cidades a partir do contexto das migrações. Reúne 50 obras de instalações têxteis com fragmentos de cidades como São Paulo, Miami, Lisboa e Nova York.
Janaina Torres Galeria - r. Vitorino Carmilo, 427, Barra Funda, região central. Ter. a sex., das 10h às 18h. Sáb., das 10h às 16h. Até 28/9. Grátis
O Começo de Tudo
Naine Terena, do povo terena, com territórios em São Paulo e Mato Grosso, deixa o papel de curadora e mostra a faceta de artista. O destaque de arte têxtil da mostra é a série "Máscaras" (2024), que explora o despercebido com o uso de processos de tecelagem comuns às populações terena, como o trançado —aqui feito com fios soltos.
Galeria Carmo Johnson Projects - r. Anunze, 249, Alto de Pinheiros, região oeste. Ter. a sex., das 11h às 17h. Sáb., sob agendamento. Até 5/10. Grátis
Efeito Japão: a Moda em 15 atos
A partir de 15 trajes de importantes estilistas nipônicos e uma linha do tempo, a exposição evidencia as mudanças na moda japonesa frente aos contextos histórico que o país viveu. É possível ver, por exemplo, a transição dos quimonos para roupas ocidentais após a Segunda Guerra Mundial.
Japan House - av. Paulista, 52, Bela Vista, região central. Ter. a sex., das 10h às 18h. Sáb. e dom., das 10h às 19h. Até 6/10. Grátis
Entre a Cabeça e a Terra: Arte Têxtil Tradicional Africana
Reúne 129 peças têxteis, entre máscaras, túnicas, tecidos bordados e tingidos, que expressam saberes e tradições artísticas de grupos culturais de países da África. A mostra parte da pesquisa sobre tecnologia de tecelagem no continente para apresentar tecidos nunca apresentados no Brasil e quebrar a ideia predominante de que o têxtil africano está associado somente às estampas coloridas feitas em grande escala. Ocupa sete salas do museu, que passam por temas como a geometria animal e o uso de miçangas.
Pinacoteca Luz - pç. da Luz, 2, Luz, região central. Qua.,sex., dom. e seg., das 10h às 18h. Qui. das 10h às 20h. Sáb., das 11h às 17h. Até 2/2. A partir de R$ 30 em Inti. Grátis às qui. e sáb.
Leonilson: Agora e as Oportunidades
Tem obras dos últimos cinco anos de vida do artista cearense, com uma sala dedicada a cada ano de produção —os conhecidos bordados estão nas salas de 1989 e 1991. A presença de trabalhos em tecido se deve ao interesse de Leonilson (1957-1993) pelo universo da costura e também à convivência familiar. Entre os temas das peças têxteis estão o amor, a sexualidade, o abandono, a perda e a Aids, doença que lhe tirou a vida.
MASP - av. Paulista, 1.578, Bela Vista, região central. Ter., das 10h às 20h. Qua. a dom., das 10h às 18h. Até 17/11. A partir de R$ 70 em bilheteria MASP. Grátis às ter. e 1ª qui. do mês.
Tesouros Ancestrais do Peru
Cerca de 180 obras do Império Inca encontradas em expedições arqueológicas e reconhecidas como patrimônio pelo Ministério da Cultura do Peru preenchem os cinco andares do CCBB. A mostra divide as peças em cinco blocos temáticos, um deles dedicado às cerâmicas e obras têxteis feitas a partir da domesticação de lhamas e alpacas.
CCBB - r. Álvares Penteado, 112, centro histórico, região central. Qua. a seg., das 9h às 20h. Até 18/11. Grátis.
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