Artistas debatem sexualidade e gênero e movimentam cena musical

O cantor Liniker faz shows neste fim de semana no Auditório Ibirapuera. Os ingressos desapareceram em menos de meia hora.

Em seguida, foi escalado para cantar em um festival gratuito para 2.000 pessoas no dia 7. Não sobrou nenhum convite.

Junto com artistas como As Bahias e a Cozinha Mineira, Rico Dalasam e Jaloo, ele faz parte de uma nova e irreverente cena musical na cidade que faz apresentações com ingressos disputadíssimos.

Desafiando limites de gênero, eles compõem letras que abordam questões de gênero e sexualidade e a posição da mulher na sociedade. "Estamos botando pra fora o que nos reprime", diz Liniker. "É um momento de coletividade. O que um faz fortalece o outro", afirma Lineker —sim, são dois artistas diferentes.

Para quem quiser desvendar a cena e garantir um ingresso, o "Guia" apresenta esses artistas e antecipa as agendas de shows.


LINIKER E OS CARAMELOWS

Com o sucesso que o cantor Liniker tem feito (o vídeo da música "Zero" tem mais de 5 milhões de visualizações no YouTube), não espanta que os ingressos para os shows de lançamento de seu disco de estreia, Remonta, no Auditório Ibirapuera tenham esgotado em menos de 30 minutos.

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O cantor Liniker - Divulgação

​Liniker chamou a atenção ao expressar sua liberdade de gênero e rejeitar o binarismo homem-mulher, que vai além de usar itens como saia, maquiagem, brincos e colares. "A gente está botando pra fora o que está reprimindo a gente, colocando pra fora as coisas que têm que transformar e esperando que as pessoas levem isso pro cotidiano delas", diz.

O conjunto liderado por Liniker Barros e também formado por Rafael Barone (baixo), William Zaharanszki (guitarra), Pericles Zuanon (bateria), Márcio Bortoloti (trompete) e Renata Éssis (backing vocal) gravou em quatro semanas o novo trabalho.

Com black music, samba e R&B, as faixas do CD abordam situações cotidianas. E, com interpretações carregadas de emoção, o grupo vem angariando público fiel por onde passa. "Aconteceu tudo muito rápido. Mas isso é fruto de um trabalho árduo que a gente tem feito há um tempo", diz.

Tássia Reis e As Bahias e a Cozinha Mineira, outros nomes da cena que questiona padrões de gênero, também aparecem no disco. "São pessoas que nos influenciaram nesse processo".

Com a demanda para os shows de lançamento, foi aberta uma nova apresentação, dessa vez em uma parceria com o Spotify e o Popload Festival. Com inscrições gratuitas, esse show também esgotou.

Para quem não conseguiu um lugar, não se preocupe. Liniker se apresenta na balada Audio, em 21 de outubro, e ainda há entradas disponíveis.

Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer - Pq. Ibirapuera - av. Pedro Álvares Cabral, tel. 3629-1075. Sáb. (1º): 21h e dom. (2): 19h. Ingressos esgotados. 

Urban Stage - R. Vol. da Pátria, 498, Santana, tel. 2309-4061. 7/10. 18 anos. Ingressos esgotados.

Audio - Av. Francisco Matarazzo, 694, Água Branca, tel. 3862-8279. 21/10. 18 anos. Ingr.: a partir de R$ 60 pelo site ticket360.com.br.



AS BAHIAS E A COZINHA MINEIRA

Formado por amigos que se conheceram na faculdade de História na USP, o grupo aborda a liberdade do corpo e o protagonismo feminino e ganhou atenção com o lançamento do disco "Mulher", no fim de 2015.

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Assucena Assucena e Raquel Virgínia, d' As Bahias e a Cozinha Mineira - Divulgação

A voz impactante das vocalistas, Assucena Assucena e Raquel Virgínia, transexuais, se mescla aos sons da guitarra de Rafael Acerbi. As influências aparecem no nome: "As Bahias", da Tropicália, e a "Cozinha Mineira", do Clube da Esquina. Bossa nova, rock e xote também surgem como inspirações.

Em apresentação nesta sexta (30), com ingressos disputados, o grupo mostra um novo formato de show, o "Etc & Tal". O universo feminino continua como foco, mas com cenários e iluminação diferentes. E o repertório traz novas roupagens para músicas já conhecidas.

Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer - Pq. Ibirapuera - av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, tel. 3629-1075. Sex. (30): 21h. Ingr.: R$ 20. Ingr. p/ 4003-1212 ou ingressorapido.com.br. 

Sesc Ipiranga - r. Bom Pastor, 822, Ipiranga, região sul, tel. 3340-2000. Sáb. (29/10): 21h e dom. (30/10): 18h. Ingr. a partir de 19/10 p/ sescsp.org.br.


TÁSSIA REIS

A rapper paulista nascida em Jacareí acaba de lançar seu disco de estreia, "Outra Esfera". "A nossa sonoridade é orgânica e do rap. Ela é moderna e eletrônica", diz Tássia Reis, 27. Ritmos da canção brasileira, como o samba, grande influência da artista, não ficam de fora do álbum.

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A rapper Tássia Reis - Divulgação

Com letras engajadas, ela faz um discurso contra o machismo e o preconceito. "Eu sou essa pessoa que gosta de dar uma bagunçada. Isso faz parte do meu processo enquanto mulher negra na sociedade, de buscar me posicionar pra que eu seja respeitada", diz.

Mesmo com essa argumentação, ela acredita que o empoderamento parte de cada um. "A minha música pode despertar isso, mas quem faz o trabalho sujo é você mesmo".

Para quem quiser conhecer a artista, ela se apresenta neste sábado (1º), no Sesc Interlagos, com o projeto Rimas & Melodias, ao lado de outras rappers, como Alt Niss, Drik Barbosa e Karol de Souza, além da DJ Mayra Maldjian.

Dica para ouvir: a faixa "Se Avexe Não", do novo CD.

Sesc Interlagos - viveiro de plantas - av. Manuel Alves Soares, 1.100, Parque Colonial, tel. 5662-9500. 300 lugares. Sáb.:16h. 60 min. Livre. GRÁTIS 


JALOO

Associado a debates sobre gênero e sexualidade, o músico Jaime Melo, mais conhecido como Jaloo, vem se destacando na cena nacional.

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O paraense Jaloo - Divulgação

Nascido em Castanhal, no Pará, ele mistura em sua música elementos regionais e do tecnobrega a ritmos como o pop e a eletrônica. No visual, usa e abusa das cores.

Além do trabalho autoral, o artista faz remixes, ainda que não autorizados, de nomes da cena internacional, como Beyoncé e Donna Summer. A canção "Bai Bai", por exemplo, explora o hit "Wrecking Ball", da cantora Miley Cyrus.


LINEKER

Parece proposital, mas não é. Liniker e Lineker são artistas diferentes, e os nomes parecidos já causaram confusão. "Já teve gente que foi no show de um pensando que era o outro", diz o cantor Lineker.

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O cantor e performer Lineker - Divulgação

Apesar da semelhança dos nomes, há diferenças entre ele e Liniker. "Temos propostas musicais e estéticas distintas". Mesmo assim, estão inseridos em uma mesma cena musical. "Como estamos vivendo uma onda conservadora, é muito bom e importante que todos esses artistas estejam fazendo essa militância. Que venham outros contestando esses padrões".

A vivência de performer ajudou Liniker, que também é bailarino, na construção de seu som. "Penso na música em um outro sentido, no de entender as imagens que a canção traz". Depois do EP "Verão", ele se prepara para o lançamento de um novo trabalho em novembro.

E adianta que o disco levará o seu nome. "É uma tendência na MPB, né? Também vou fazer parte disso". Para conhecer mais do artista, ouça a canção Gota por Gota.


RICO DALASAM

Nascido no Taboão da Serra, Rico Dalasam participava de batalhas de MCs no metrô Santa Cruz, ao lado de nomes como Projota e Emicida, entre 2006 e 2007.

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O rapper Rico Dalasam - Divulgação


Quase dez anos depois, ele lança seu disco de estreia, "Orgunga" (2016). Em suas composições, o cantor aborda, com orgulho, o fato de ser rapper, negro e gay.

O músico, que hoje alcança reconhecimento nacional, mescla em sua sonoridade diferentes ritmos brasileiros. No novo trabalho, aparecem com força elementos da canção oriental.

Para quem quiser conhecer seu trabalho de perto, ele faz show no Z Carniceria, em 8/10, com a presença de convidados dessa cena questionadora, como As Bahias e a Cozinha Mineira.

Z Carniceria - av. Brig. Faria Lima, 724, Pinheiros, tel. 2936-0934. Sáb. (8): 23h59. 18 anos. Ingr.: R$ 25 e R$ 30. Ingr. p/ 4003-1527 ou livepass.com.br. 


JOHNNY HOOKER

Na estrada há mais de dez anos, o pernambucano Johnny Hooker ganhou atenção nacional em 2015, com o lançamento do álbum "Eu Vou Fazer uma Macumba pra te Amarrar, Maldito", o primeiro de sua carreira.

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O cantor Johnny Hooker - Divulgação

Marcado por uma sonoridade que mescla elementos de rock, frevo e samba, o trabalho traz composições que tratam de temas como o amor e o desamor.

Associado ao universo LGBT na nova MPB, Hooker venceu a categoria "melhor cantor" no Prêmio da Música Brasileira em 2015 e ganhou elogios de Caetano Veloso e Maria Bethânia. Performático, o cantor usa e abusa de figurinos que unem elementos do pop e da umbanda.

Para quem quiser explorar a obra do cantor, a dica é ouvir as canções "Você Ainda Pensa?", "Alma Sebosa" (da trilha sonora da novela "Geração Brasil") e "Amor Marginal".



MC LINN DA QUEBRADA

"Mais do que falar sobre gênero e sexualidade, a gente está falando sobre vida e corpos", diz MC Linn da Quebrada, sobre a cena em que se destaca. "Falo sobre a possibilidade de existir no meu corpo, sem estar limitado ao espaço da rua, da noite".

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MC Linn da Quebada - Divulgação

A artista, conhecida por letras diretas que transitam entre o funk e o rap, diz que começou a compor por não se reconhecer no que já era produzido no cenário musical brasileiro.

Para Linn, que faz show neste sábado na Casa de Cultura São Mateus, sua música serve como arma de ataque e proteção: confronta os padrões impostos na sociedade e cria uma rede de apoio para quem se sente como ela. "A minha música é uma tentativa de diálogo. Para que pessoas que têm histórias como a minha sejam incentivadas a contar as suas".

Casa de Cultura São Mateus - r. José Francisco dos Santos, 502, Jardim Tietê, tel. 3793-1071. 350 pessoas. Sáb. (1º): 17h. 60 min. GRÁTIS


VERÓNICA DECIDE MORRER

Formada por Verónica Valenttino (voz), Jonaz Sampaio (voz), Léo BreedLove (guitarra) e Vladya Mendes (bateria), a banda, surgida em 2010, em Fortaleza, busca trazer para sua música a sonoridade do rock dos anos 1980, influenciado pelo new wave.

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Verónica Valenttino, vocalista da banda Verónica Decide Morrer - Divulgação

"Eu conhecia a Verónica do teatro. Aí trouxe ela pro grupo", diz Sampaio. Verónica é transexual, e a proposta do conjunto é relatar o que vivenciam no dia a dia. "Nossas letras falam da travesti, da rua, da solidão Tudo o que as pessoas sentem e passam por conta do preconceito que sofrem no cotidiano".

Radicada em São Paulo, a banda leva na bagagem o disco de estreia, homônimo, base do show que apresenta na próxima semana.

Teatro Pessoal do Faroeste - rua do Triunfo, 301, República. Sex. (7) e sex. (28/10): 21h. Ingr. vendidos apenas no local nos dias dos eventos.


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